Lusa / Estela Silva

Grupo sénior de Vila Nova de Gaia contraria a tendência de ‘extinção’ da Petanca em Portugal

A petanca, “um jogo de mira” que troca os ‘mecos’ da malha por bolas e em Portugal tem pouco mais de 1.000 federados, encontrou em Vila Nova de Gaia um grupo sénior motivado em mudar a tendência de extinção.

“Em França há 350.000 atletas federados, mas a jogar petanca há mais de um milhão. Em Espanha são 35.000 federados. Portugal pouco passa os 1.000. Olhe aqui um exemplo: neste clube temos pelo menos 12 praticantes, mas só quatro federados. As pessoas vão avançando na idade e vão desistindo. O rejuvenescimento é muito difícil”, disse à Lusa o Presidente da Associação de Petanca da Zona Norte (APZN), Fernando Queirós.

O clube ao qual se refere o dirigente é a Casa de Pessoal da RTP/Porto e o “aqui” diz respeito ao Areinho de Oliveira do Douro, em Vila Nova de Gaia, no distrito do Porto, onde antigos jornalistas, técnicos de som e de montagem, operadores de câmara e pessoas que foram responsáveis, durante décadas, pelo arquivo, pela cantina ou pelo guarda-roupa da televisão pública se reúnem às terças e quintas-feiras para jogar petanca, uma modalidade trazida nos anos 80 para Portugal pelos Emigrantes.

Antónia Nunes, 61 anos, pratica porque “ao ar puro e a conviver com as pessoas o desporto torna-se mais agradável”. No ‘campo’ ao lado, Vieira Carvalho, 65 anos, reformado desde 2012, sintetiza a petanca como “viciante”.

“Também ando nos bordados, numa academia sénior, mas acho que gosto mais disto do que estar sentada a fazer pontinhos. É fácil, mas às vezes é preciso um bocadinho de sorte. É preciso ter mira. Eu, por acaso, aponto mais ou menos bem, mas para tirar a bola do adversário não tenho força”, descreveu Antónia Nunes.

A petanca é um jogo de origem francesa criado no princípio do século XX, cujo nome vem da expressão ‘pieds tanqués’, que significa pés juntos, isto porque os praticantes devem lançar a bola, que pode pesar entre 690 e 710 gramas, com os pés bem próximos, cravados no chão, e dentro de um arco.

É uma atividade que se pratica em equipas de um, dois (doublete), três jogadores (triplet) ou na vertente ‘tiro’, menos comum em Portugal, consistindo no lançamento de uma série de bolas metálicas com o objetivo de ficar o mais próximo possível de uma pequena bola de madeira, denominada ‘cochonette’, lançada previamente por um jogador.

“Muitas pessoas pensam que isto é a malha e eu, para explicar e para a brincadeira, digo que não é o jogo do ‘meco’, é o das bolas. É um jogo airoso. Trouxe o meu marido e um neto que adora e joga bem”, contou Antónia Nunes, antiga técnica de guarda-roupa.

Mas a paixão – unânime no grupo da Casa de Pessoal da RTP/Porto, cuja secção de petanca foi criada há três anos e é coordenada por Vieira Carvalho – não tem conseguido paralelo nas gerações mais novas.

A antiga técnica de guarda-roupa levou para a petanca o neto de 8 anos, mas Fernando Queirós, que é também treinador e árbitro, levou o filho que, agora com 30 anos, tem outras preferências. “Quando o meu clube [o Caçadores de Rebordosa, Paredes] iniciou a modalidade, em 1999, tivemos 17 jovens. A petanca agora não lhes diz nada. Veio o futebol e o futebol é muito atrativo. E na pré-adolescência há o namorico. Temos três jovens neste momento”, afirmou Fernando Queirós que, no entanto, rejeita que a ideia de que a petanca esteja em vias de extinção. “Isso não, porque a modalidade vai-se praticar sempre. Mas as pessoas gostam de jogar isto por lazer e não com finalidades competitivas”, completou.

Já Vieira Carvalho, que vê com otimismo o futuro da petanca na Casa de Pessoal da RTP/Porto, tendo contado à Lusa que “os jogadores têm evoluído porque quando começaram perdiam os jogos todos e no último torneio conseguiram um terceiro lugar”, acredita que as demonstrações em escolas possam cativar adeptos da modalidade.

“A Federação de Petanca está a tentar que a petanca seja introduzida nas escolas. É uma boa medida de divulgação. E nós temos estabelecido contacto com a Câmara de Gaia para tentar um espaço e assim poderemos chamar as academias seniores e as escolas”, disse o coordenador da secção.

Questionado sobre os benefícios de um desporto que exige concentração, cálculo, estudo do terreno para decidir onde fazer a batida e estratégia, o Presidente da APZN contou que tem sido contactado por algumas câmaras para introduzir a petanca nos programas com fins geriátricos. “É uma forma das pessoas se tornarem ativas, ocuparem o tempo e de convivermos. Este é um grupo muito dinâmico e coeso. A petanca é importante para todos nós”, completou Vieira Carvalho.

Em Portugal existem três associações, duas no Algarve, uma no Centro e a do Norte, que conta com nove clubes e quase centena e meia de federados.

A maratonista Rosa Mota é embaixadora olímpica desta modalidade, que já iniciou campanha para entrar nos Jogos Olímpicos.

 

Paula Fernandes Teixeira, Lusa

 

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