Homenagem à cantora lírica brasileira Maria d’Apparecida na Maison de l’Amérique Latine


Uma homenagem à cantora lírica brasileira Maria d’Apparecida vai ter lugar na Maison de l’Amérique Latine, em Paris, no próximo dia 17 de janeiro, a partir das 20h30. A sessão vai ser apresentada pela jornalista e escritora Mazé Torquato Chotil, autora de duas obras sobre Maria d’Apparecida.

Filha de uma empregada doméstica engravidada pelo patrão, Maria d’Apparecida não pode fazer carreira no Brasil por causa da cor da sua pela. Foi em França que brilhou.

“Negroluminosa voz a de Maria d’Apparecida (1926-2017), que arrebatou os palcos mais disputados da música lírica europeia antes de alcançar o do Rio de Janeiro. Em 1965, quando Maria Callas não pode cantar Carmen, a mezzo-soprano negra brasileira a substituiu. Só integrando, como estrela, uma companhia de prestígio europeia foi chamada a cantar no Theatro Municipal” lê-se no livro “Maria d’Apparecida – Negroluminosa voz – Esboço biográfico” de Mazé Torquato Chotil, editado no Brasil pela Alameda Editora. “Nem por isso deixou de enfrentar o racismo, expresso agora não como veto, mas com pequenos gestos de um cotidiano cruel, como a recusa em massageá-la ou em aplicarem-lhe uma medicação”.

“Por quase uma década após esse momento de glória, D’Apparecida circulou nos meios mundiais do canto com grande destaque. Um acidente interrompeu sua carreira lírica e a colocou na posição de cantora de Música Popular Brasileira e autora de um disco com Baden Powell. Foi quando mais vendeu LPs”.

No próximo dia 17, a apresentação da artista vai ser feita por Brigitte Thiérion, professora na Universidade Sorbonne Nouvelle e vão ser apresentados vídeos com testemunhos de Mara Guimarães e Marie Claude Lagarde.

“Maria d’Apparecida foi também a musa de um grande pintor, o surrealista Félix Labisse, com quem manteve um longo relacionamento amoroso. Era amiga da esposa de Labisse, que se lembrou dela no testamento” lê-se na apresentação do livro.

Um vídeo com Maria d’Apparecida cantando Carmen e Tamba Taja vai ser prolongado com a leitura do guião de “L’Opéra Bleu”, uma ficção baseada na vida de Maria d’Apparecida pela realizadora Liliane Mutti, com o ator Patrick Nogues e a artista lírica Luanda Siqueira.

Mazé Torquato Chotil é jornalista, pesquisadora e doutora em ciência da informação e da comunicação pela Universidade de Paris VIII. Nascida em Glória de Dourados (MS), vive em Paris desde 1985. É autora de “José Ibrahim: o líder da primeira grande greve que afrontou a ditadura”, “Trabalhadores exilados: a saga de brasileiros forçados a partir (1964-1985)”, “Lembranças do sitio”, “Lembranças da Vila, Minha aventura na colonização do Oeste” e “Minha Paris brasileira”. Em língua francesa é autora de “L’Exil ouvrier” e “Ouvrières chez Bidermann: une histoire, des vies”.