“Hôtel Atlantique”, de João Gilberto Noll, um romance de múltiplas itinerâncias

[pro_ad_display_adzone id=”37509″]

 

 

“Hotel Atlântico”, um dos grandes romances de João Gilberto Noll, escritor gaúcho falecido em 2017, aos 70 anos de idade, acaba de ser publicado em francês pela Editora Christian Bourgois, graças à tradução de Dominique Nédellec. Este romance deu, em 2009, origem ao filme com o mesmo nome realizado por Suzana Amaral.

 

Este “Hôtel Atlantique”, publicado no Brasil em 1989, apresenta-nos um protagonista/narrador sem nome que parece estar perdido no mundo e pouco se sabe sobre ele. Tal como o autor, terá nascido em Porto Alegre e foi viver para o Rio de Janeiro, sem nunca ter regressado à sua cidade natal. As coincidências entre a personagem e o escritor terminam aqui.

João Gilberto Noll ganhou cinco prémios Jabuti – “O cego e a dançarina” (1981), “Harmada” (1994), “A céu aberto” (1997), “Mínimos, Múltiplos, Comuns” (2004) e “Lorde” (2005) – tendo escrito dezoito livros no total. Estudou Letras e também foi jornalista, tendo trabalhado nos jornais “Última Hora” e “Folha da Manhã”.

Foi bolseiro na Universidade do Iowa, no anos 1980. Em 1996, passou um mês em Berkeley, como escritor visitante da Universidade da Califórnia, onde, em 1997, ensinou Literatura e Cultura Brasileira. Esta experiência estadunidense deverá ter facilitado a estadia de dois meses em Londres como escritor-residente no King’s College.

O misterioso protagonista sem nome de “Hotel Atlântico” foi ator de novela (terá sido?) o que lhe garantiu uma efémera celebridade, mas, apesar disso, não tem amigos, família ou mesmo domicilio fixo. Na verdade, ele, sem nunca carregar bagagem, viaja pelo Brasil como um barco à deriva.

O romance abre num hotel de Copacabana onde se desenrolará uma cena de sexo casual (acontecem algumas) com a rececionista e um contacto inopinado com o corpo de uma mulher assassinada. Para não pagar a estadia, ele escapa a meio da noite e compra um bilhete de autocarro para o primeiro destino que lhe vem à cabeça. E o protagonista acaba em Florianópolis.

Página a página, ele salta de cidade em cidade, encontrando ora uma arqueóloga americana, ora o dono de um bordel… O leitor fica sem perceber o que move esta personagem, quais os seus desejos ou objetivos. Por vezes, parece que nem ele sabe quem é, pois, à medida que viaja à boleia através do país-continente, vai adotando novas identidades.

Um pequeno romance de menos de 150 páginas, simples na aparência, mas com várias camadas e densidades. Um livro que oferece, graças às inúmeras itinerâncias, físicas e psicológicas do protagonista, uma multiplicidade de leituras.

 

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]