Livro de Odile Silva sobre o jovem poeta Guilherme Braga foi apresentado em Bordeaux


Foi apresentado no passado dia 10 de abril, no Consulado-Geral de Portugal em Bordeaux, o livro escrito por Odile Silva “Guilherme Braga, l’écho des âmes: quand Braga rencontre Hugo” com prefácio de Arnaud Laster e introdução de Jean-François Chatelier, que esteve na origem do projeto. O livro foi publicado pelo “Cercle Victor Hugo d’Aquitaine”.

O Cônsul-geral Mário Gomes fez um marcado discurso em que focou o papel de Guilherme Braga no romantismo português, Jean-François Chatelier, por sua vez, evocou a importância do poeta para a Républica de 1910 e Odile Silva falou sobretudo das relações culturais entre Portugal e França, do século XVI ao século XIX, incentivando os presentes à leitura da obra, para uma melhor compreensão do poeta e da sua relação com Victor Hugo.

O livro relata o percurso e foca a poesia do jovem poeta Guilherme Braga que faleceu com apenas 29 anos deixando, todavia, uma obra importante a nível poético, tendo marcado a sua época com as suas ideias republicanas afirmadas no jornal A Gazeta Democrática que fundou e alimentou. Manteve uma relação forte com Victor Hugo que lhe escreveu reconhecendo a importância do seu papel em Portugal.

Guilherme Braga tinha um conhecimento aprofundado da obra de Victor Hugo. Todavia, se a nível das ideias republicanas, ele seguia o mestre, a nível da sua poesia, se bem que por vezes, se inspirasse em certos poemas de Victor Hugo, manteve uma poesia vernacular e genuinamente portuguesa, mais realista do que a do exilado de Guernsey. Era crente, mas lutou toda a vida contra o poder da igreja de Roma que considerava como obscurantista e culpada da situação de atraso que conhecia Portugal. Publicou vários panfletos contra a igreja, nomeadamente “Os falsos apóstolos” ou “O Bispo”. Um padre de Lamego chegou mesmo a comprar todas as suas obras para as queimar diante da igreja!

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Guilherme Braga publicou então os seguintes versos:

«Queimaste os versos meus? Não fico triste!

[…]

O pior é que tu e a malta escura

Que inda infestais na sombra o mundo velho,

De instante a instante, na fogueira impura,

Fareis o mesmo… às folhas do Evangelho”

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É de notar que o célebre poema de Guerra Junqueiro que começa por “Papagaio real, diz-me quem passa…” que vai ajudar a derrubar a Monarquia e trazer a República de 1910, comemorada no dia 5 de outubro, é inspirado dum poema de Guilherme Braga, que Guerra Junqueiro conheceu pessoalmente, visto terem os dois escrito na célebre revista A Grinalda.

Odile Silva agradeceu ao Cônsul-geral Mário Gomes “o seu empenho e ajuda para dar a conhecer este trabalho que poderá interessar todos os apaixonados pela cultura portuguesa e pelas relações que sempre existiram entre Portugal e França”.