Lyon: Maria da Luz, uma fadista a “meio tempo”

Maria da Luz nasceu no Bombarral, passou por Rio Maior, Alcoentre e acabou por residir e estudar os primeiros anos em Benfica. Aos 13 anos viajou para França com a irmã, no ano de 1976, quando Portugal atravessava uma crise político-económica.

Instalou se em Cluny, próximo de Mâcon, na região de Saône et Loire, onde já existia uma grande Comunidade portuguesa do norte de Portugal. Os pais ficaram em Portugal, em Benfica, com os outros sete filhos, mas sempre ambicionavam uma vida melhor para todos.

Ainda estudou para ser cabeleireira, o que em nada tem a ver com a profissão que hoje exerce: auxiliar de enfermagem. Conta-nos que não tem vergonha do seu passado, aliás é graças a ele que se tornou na pessoa que é hoje, e tem muito orgulho nisso. Aos 19 anos veio viver para Lyon, construiu uma grande família, onde permanece até hoje. O LusoJornal foi ao encontro de Maria da Luz, para saber um pouco mais sobre esta “fadista a meio tempo”.

 

Como surgiu o fado na sua vida?

Foi com o meu pai. Eu vivi pouco com ele, mas ele tinha esta paixão pelo fado e também cantava. Como eu era criança, não dava a devida importância a isso. Na altura eu só gostava de música para dançar, dai não me interessar muito por este estilo de música. Mas um dia – e foi na última vez que eu o vi, tinha eu 19 anos e ele estava aleijado de um pé – cantou numa taberna em Portugal um excelente fado, que ainda hoje não encontro este fado que ele cantou, por mais que o tenha procurado. E foi depois deste acontecimento que comecei a apreciar mais o fado. Eu sempre adorei cantar, mas nunca ousava fazê-lo. Tinha vergonha, era muito tímida, cantava em casa em francês, aliás foi por cantar as músicas francesas que aprendi melhor o francês, depois o meu irmão deu-me uma cassete com músicas portuguesas e comecei a cantar em português. Mas foi em 2009, quando fui jantar a um restaurante em Alfama, onde ouvi um belo fado, foi aí que tive o tal ‘declique’. Nasceu em mim a grande paixão pelo fado e comecei a amá-lo de forma incondicional. E hoje, com os meus 50 anos, comecei a vencer a timidez e a cantá-lo.

 

Também escreve as suas próprias letras?

Sim, já escrevi algumas letras, não consigo é encontrar os músicos apropriados para elas. Mas também não sou de ir bater às portas. Tenho um membro da minha família que toca guitarra, pode ser que um dia tenhamos essa possibilidade de nos reunir e fazemos algo criativo.

 

E das suas memórias, já pensou escrever um livro?

Sim, estou neste momento a escrever um livro sobre a minha vida, uma autobiografia, vai ainda a meio, mas tenho muito por contar.

 

Quando foi a primeira vez que cantou fado em público?

Foi em Ars, na região de Ain, na Festa da música, com um público maioritariamente francês. Eles aplaudiram, penso que devem ter gostado.

 

O que acha deste fado novo, destas novas melodias da nova geração de fadistas?

Sinceramente, não gosto. Para mim o fado são as raízes de Portugal, nem sempre é nostalgia ou tristeza, para mim quando estou em baixo canto e isso faz-me bem, reconforta-me. Não gosto das novas melodias que dizem ser fado.

 

Então não gosta de ouvir Carminho, Raquel Tavares, Cuca Roseta entre outras?

Já ouvi a Carminho ao vivo em Vila Franca de Xira, mas não me identifico.

 

Quem é a sua maior inspiração?

É sem dúvida a grande Amália Rodrigues. De seguida vem a Marisa.

 

Também canta com os olhos fechados?

Gosto de me entregar ao fado.

 

Existem alguns nomes do fado com quem gostaria de subir ao palco?

Se ela é uma das minhas inspirações, gostaria de partilhar o palco com a Marisa.

 

O que ouve neste momento?

Gosto de músicas com movimento, não conheço músicas portuguesas, a não ser Tony Carreira e Linda de Suza. Gostava de um dia poder conhecê-los pessoalmente. Tenho no meu carro o CD de Marisa e tenho ouvido diariamente.

 

Já fez um dueto com algum artista?

Com a fadista Eufrásia. Ela veio cá uma vez atuar num restaurante em Saint Genis Laval, e partilhei o espaço com ela. Também com a Cristina Neiva, na Associação de Meyzieu. Neste caso era eu a cabeça cartaz.

 

Já pensou em tornar-se fadista a tempo inteiro?

E porque não? Quando estiver na reforma (risos). Penso que daqui a 5 anos serei fadista a tempo inteiro.

 

Existe algum local em Portugal que é obrigatória a sua passagem, quando vai de férias?

Não posso deixar de passar por Lisboa, mais propriamente por Alfama. Este ano passei pela rua do Capelão, lá onde nasceu o fado, onde viveu Maria Severa, passei pela taberna da sua mãe. Fui também visitar a rua da Madragoa onde a Amália também viveu. Foi uma viagem de descoberta, gostei imenso.

 

Como entrar em contacto consigo?

Através das minhas páginas nas redes sociais, em “Maria da Luz” ou “Luz inha”. Sou eu sempre que respondo.

 

Já tem espetáculos agendados?

Tive agora um espetáculo na Casa Mig em Craponne, dia 29 de novembro, e tenho outros agendados para 2020, um deles a 24 janeiro no espace Mosaique, em St. Priest, organizado pela Associação Raízes, tendo como objetivo uma Homenagem a Amália Rodrigues, 20 anos depois da sua morte.

 

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