Manifesto do Conselho Regional da Europa do CCP: Solidariedade com os refugiados e migrantes

O Conselho Regional da Europa do Conselho das Comunidades Portuguesas, presidido por Luísa Semedo, elaborou um manifesto de apoio às populações refugiadas e migrantes. O documento foi publicado em linha no site do CRE-CCP:

https://ccpeuropa.wordpress.com/2018/06/29/solidariedade-com-aos-refugiadaos-e-migrantes/

e foi publicado no site change.org para que todos possam assinar o documento:

https://www.change.org/p/europa-solidariedade-com-a-o-s-refugiada-o-s-e-migrantes

O texto teve como primeiros subscritores, não somente os membros do CR Europa, mas também Conselheiros do Canadá e da Austrália, assim que várias associações francesas, alemãs e inglesas. Várias personalidades do mundo das artes, das ciências, academia, ou do meio associativo, entre outros, também fazem parte dos primeiros subscritores.

O texto foi traduzido para francês, inglês, alemão e romeno, estando em curso a tradução para italiano e árabe.

O CRE-CCP decidiu elaborar este manifesto devido à sua preocupação com o atual crescimento das ideias da extrema-direita, da xenofobia e do racismo e uma crise da fraternidade e de solidariedade entre os povos.

Nós somos todos migrantes ou filhos de migrantes e pensamos que temos o dever de mostrar a nossa solidariedade com outros que não estão a «beneficiar» do mesmo «acolhimento» neste momento.

Sabemos que não é a política de papel que vai mudar o mundo, mas a ação nasce das ideias. Fazemos ações de acordo com aquilo em que acreditamos. E nesse sentido, um manifesto que partilhe ideias de solidariedade e de fraternidade pode também incitar à ação. Pensamos que devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para partilhar com a opinião pública outra visão do mundo que não a da intolerância e da rejeição no que diz respeito ao Outro. Este Outro também fomos nós e também somos nós!

 

Solidariedade com os refugiados e migrantes

Somos cidadãos portugueses ou de origem portuguesa e apelamos a uma maior solidariedade com as populações refugiadas ou migrantes.

Somos todos migrantes ou filhos de migrantes. Carregamos um passado recente de exílio e clandestinidade devido ao regime ditatorial de inspiração fascista de Salazar tendo sido igualmente obrigados a emigrar em consequência de condições económicas indignas.

Fomos acolhidos em vários países da Europa e do Mundo, e juntamente com outros migrantes das mais diversas origens contribuímos para o desenvolvimento desses territórios assim como de Portugal.

Não esquecemos o nosso passado e identificamo-nos com todos aqueles que fogem da miséria, das alterações climáticas, de regimes totalitários e discriminatórios (xenófobos, racistas, misóginos e homofóbicos) ou da guerra.

Estamos seriamente preocupados com a propagação das ideias e a retórica da extrema-direita na Europa e nos EUA a certos Partidos ditos «tradicionais» de Direita e de Esquerda e com a subida ao poder de Partidos ou Movimentos de índole ou inspiração ultraconservadora, nacionalista e fascista em países como a Itália, Hungria, Áustria, Finlândia, Bulgária, Eslováquia, Bélgica ou Polónia.

Constatamos com grande inquietude a normalização de um discurso público intolerante que rejeita e marginaliza e que, recorrendo à velha tática do «bode expiatório», contribui para dessensibilizar os cidadãos em relação ao destino destas populações desprotegidas.

É necessário haver uma liderança política clara e corajosa que responda de forma sustentada às verdadeiras causas do descontentamento de setores da sociedade mais ou menos vulneráveis e apoiantes dos elementos populistas: maior investimento e exigência na educação; apoio a uma economia justa e dinâmica, criadora de emprego; promoção da mobilidade social e combate às desigualdades; apoio a uma maior participação e valorização das mulheres no mercado de trabalho, especialmente na população migrante e refugiada.

Repudiamos com veemência todas as ações antirrefugiados ou anti-migrantes, nomeadamente os recentes acontecimentos de separação das crianças dos pais na fronteira dos EUA com o México, a recusa de acolhimento do navio de resgate Aquarius da ONG SOS Méditerrannée, ou o da Lifeline por parte de vários países europeus ou ainda os censos discriminatórios com vista a expulsar a população cigana em Itália.

Saudamos todos aqueles que a título individual ou coletivo, nomeadamente na atividade associativa, se implicam no apoio e na defesa dos refugiados e dos migrantes mesmo quando, em vários Estados-membros da União Europeia, são atacados por delito de solidariedade.

Várias décadas após a morte de Bertolt Brecht podemos ainda afirmar: Ainda é fértil o útero de onde saiu a besta imunda. Apelamos, portanto, a uma solidariedade global para com os refugiados e os migrantes e a uma resistência, sem falhas, a este movimento de intolerância em pleno crescimento.

Solidariedade para com os refugiados e migrantes!