Manuel Antunes da Cunha diz que “há uma vontade política de dar uma imagem positiva dos emigrantes”

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Manuel Antunes da Cunha, investigador, professor universitário, considera que “há uma vontade política muito clara, em Portugal, de dar uma imagem positiva dos emigrantes”. E refere-se ao programa de televisão da RTP “Portugueses pelo Mundo” e ao programa do magazine Lusopress “Portugueses de Valor” que considera “muito bem acolhidos pelos políticos portugueses, porque correspondem àquilo que a Comunidade política portuguesa quer”.

Entrevistado por Isabelle Simões Marques na plataforma do LusoJornal, Manuel Antunes da Cunha afirma que “quando se fala de Portugueses de sucesso, fala-se muitas vezes de empresários, de desportistas, de intelectuais e esquecemo-nos do conjunto de outras pessoas que criaram projetos de vida muito interessantes e de outros não tiveram essa sorte, aliás a Santa Casa da Misericórdia de Paris trata dessas questões”. Por isso considera que “não devemos reduzir só a uma visão das coisas”.

Manuel Antunes da Cunha nasceu em França, filho de emigrantes dos anos 60 e 70. Na adolescência foi estudar para Portugal, mas regressou a Paris onde se licenciou em ciências da comunicação. Desde 2010, depois de ter feito um doutoramento na Universidade de Paris 2 Panthèon Assas, no Institut Français de la Presse, acabou por lecionar na Universidade Católica Portuguesa de Braga, onde é Coordenador do Mestrado de comunicação digital.

Manuel Antunes da Cunha foi jornalista no Diário do Minho e também já colaborou com o LusoJornal. Publicou em 2009 o livro “Les Portugais de France face à leur télévision” com um estudo aprofundado da RTP internacional e da forma como era vista em França. “Estudei sobretudo como é que Portugal comunica através deste canal de televisão para os Portugueses que residem no estrangeiro, para as primeiras, segundas e terceiras gerações, e como é que as pessoas que vivem no estrangeiro, vêm este canal”.

O investigador trabalhou bastante sobre a dita primeira geração, “mais atenta à RTP internacional e ao mesmo tempo muito próxima de Portugal, com muito orgulho das suas raízes, mas também não deixa, de vez em quando, sobre alguns assuntos, de ser crítica em relação a Portugal, em relação aos discursos sobre os emigrantes” explicou ao LusoJornal. “A um determinado momento, para um determinado assunto, podemos ser críticos e estarmos orgulhosos das nossas raízes”.

Por várias vezes na entrevista, Manuel Antunes da Cunha lembrou que “não há uma visão única em relação à RTP internacional, mas há muitas visões”.

“Houve sempre uma crítica à RTP internacional que era uma imagem de um Portugal antigo, um Portugal tradicional, mas quando olhámos para a produção dos conteúdos, de facto não era exatamente assim, havia um conjunto de programas sobre novas produções culturais, um conjunto de programas, como os magazines Contato, que entretanto evoluíram [ndr: hoje Hora dos Portugueses] e que eram feitos pelas próprias Comunidades”.

Manuel Antunes da Cunha diz que no início dos anos 90, os emigrantes “só estavam presentes nos Telejornais da RTP no mês de agosto. A partir dos anos 90, o próprio Telejornal da RTP começa a ter reportagens sobre emigrantes” e considera que isto é um “efeito colateral” do canal internacional criado em 1992. “Esta presença nota-se também até nas telenovelas, nos talk-shows, onde começa a haver uma presença dos Portugueses da emigração, que não havia antigamente”. E o investigador lembra que na programação diária dos canais portugueses, “há pessoas a telefonarem de Faro, mas também de Paris ou de Nova Iorque. Primeiro não havia essa presença”. “Só por aí, eu penso que valeu a pena a criação da RTP internacional” diz Manuel Antunes da Cunha.

Com as redes sociais, os Portugueses residentes no estrangeiro têm mais informação de Portugal, estão muito ligados aos grupos Facebook da terra de origem. “Isso alterou a nossa relação com as fontes jornalísticas” diz. “Hoje temos um conjunto de informações difusas e isso dá muito mais riqueza, mas coloca-nos outras questões sobre a qualidade da informação, a veracidade da informação, mas permite de facto uma maior facilidade da relação com o país de origem”.

Manuel Antunes da Cunha diz que a primeira geração foi uma grande consumidora de imprensa regional, “hoje muito menos, porque a imprensa regional está em crise e por várias razões, nomeadamente do fim do Porte Pago”, mas o investigador considera que mantém essa relação com a região de origem através das redes sociais”.

Na entrevista, Manuel Antunes da Cunha também comentou a forma como os Portugueses de França são vistos na televisão francesa. “Nos anos 60 eram os ilegais, mas não apareciam na televisão. Nos anos 70 e 80 eram os imigrantes que estavam a integrar-se. A partir dos anos 80 começaram a aparecer na televisão mais regularmente sobre a questão da integração e eram mostrados como exemplos de integração porque havia, do outro lado, o ‘para-raios’ magrebino, o magrebino era o mau imigrante e o português era o bom imigrante” explica ao LusoJornal. “Eu diria que era uma imagem paradoxal, ao mesmo tempo é positiva, do bom trabalhador, da pessoa que se integra, mas também é uma imagem negativa, da pessoa que não levanta a voz, que não intervém, que vem aqui para trabalhar”.

“A imagem do ‘maçon” e da ‘mulher de limpeza’ ainda persiste” garante Manuel Antunes da Cunha, “e não é depreciativo – a minha mãe fez limpeza e isso não é um problema – mas é um estereótipo que continua e para mim ainda é uma imagem negativa na imprensa francesa”.

No fundo, considera que “temos uma imagem positiva, mas somos ainda muito invisíveis, somos invisíveis no espaço público e no espaço mediático francês”.

Mas em contrapartida, em França há cada vez mais reportagens sobre Portugal “porque Portugal profissionalizou-se muito na oferta turística” mas também porque é uma questão de redes. “De facto, as redes da emigração teceram laços que por vezes são invisíveis entre os dois países e há uma visibilidade maior de Portugal em França”.

 

Ver a entrevista AQUI.

 

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