LusoJornal | Carlos Pereira

Marlene Oliveira: “Esta era a exposição que Cruzeiro Seixas sonhava ter em Paris”

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Marlene Oliveira é uma das Comissárias da exposição “Teima em ser Poesia / Résolument Poésie” com obras do surrealista português Cruzeiro Seixas, patente ao público até 14 de maio na sede da Unesco, em Paris.

A exposição foi inaugurada no Dia Mundial da Língua Portuguesa, 5 de maio, pela Embaixadora de Portugal junto da Unesco, Rosa Batoréu, e pelo Presidente da Fundação Cupertino de Miranda, Pedro Álvares Ribeiro. Discursou também Perfecto E. Cuadrado, Coordenador do Centro Português do Surrealismo da Fundação Cupertino de Miranda.

O LusoJornal entrevistou Marlene Oliveira, Diretora Artística da Fundação que detém um vasto espólio das obras de Cruzeiro Seixas.

Na sala estava a escultora Isabel Meyrelles, amiga de Cruzeiro Seixas, mas também o Embaixador de Portugal em França, Jorge Torres Pereira, o Embaixador de Portugal junto da OCDE, Manuel Lobo Antunes, e o Cônsul-Geral de Portugal em Paris, Carlos Oliveira, entre muitos outros convidados, dos quais se destaca o Ministro angolano da Cultura, Filipe Zau.

 

Como foi realizada esta exposição?

Esta exposição foi realizada propositadamente para este espaço. Estive aqui em 2019 com o Senhor Embaixador da altura, o professor António Sampaio da Nóvoa, para ver o espaço e pensarmos num evento e numa exposição para o Dia Mundial da Língua Portuguesa que se comemorava pela primeira vez no dia 5 de maio de 2020. O Cruzeiro Seixas representava tudo o que pretendíamos também para esse dia porque tem, para além das obras de arte, a poesia, a literatura, os ‘diários não diários’ com todos os pensamentos dele, todas as ligações dele à literatura, aos artistas, aos autores…

 

Cruzeiro Seixas ainda estava vivo na altura…

Sim, esta exposição foi pensada também com o próprio artista. Felizmente pude desenhar esta exposição, selecionar grande parte das obras que estão nesta exposição, com ele. Ele pode dizer aquilo que gostava de ver representado, ou seja, tive o trabalho um bocadinho mais facilitado nesse sentido. Porque a Fundação tem mais de 400 obras de Cruzeiro Seixas e está aqui um núcleo de cerca de 60/70 obras dele.

 

Com que critérios Cruzeiro Seixas escolheu estas obras?

Muitas das obras estão relacionadas com literatura, são homenagens a grandes escritores portugueses, nomeadamente Mário Cesariny, Mário Sá Carneiro, a própria freira Mariana Alcoforado que podemos ver também nesta exposição. Depois há aqui também a temática mais pessoal, a sua presença em Angola, como podemos ver nas cores de algumas obras. Foi o período de Angola, representa a saudade dele no período que esteve mais ausente. Temos por exemplo a Titânia, que foram desenhos perdidos pelo Mário Cesariny para o livro ‘A Titânia’. Há aqui uma ligação intrínseca à literatura portuguesa, à língua portuguesa e daí termos aqui uma grande parte das obras relacionadas também com a literatura.

 

Achei estranho que ainda nunca tivesse sido organizada nenhuma exposição de Cruzeiro Seixas em Paris…

Ele gostava muito de Paris e visitava Paris com muita regularidade, para estar também com a Isabel Meyrelles, que vive cá em Paris há muitos anos. Quer ele, quer o Mário Cesariny visitavam constantemente a cidade e os amigos que tinham cá. Ele esteve representado com uma ou outra obra, mas não com uma exposição desta dimensão. Felizmente para nós que podemos trazer esta exposição porque apesar de não estar cá, de ter falecido apenas a 25 dias de ter completado 100 anos, ele tinha o sonho de vir cá e de ter esta exposição. Esta era realmente uma exposição de sonho para ele, por ser na cidade de Paris, a cidade do amor, a cidade da luz. Sonhava ter uma grande exposição individual aqui. Temos mais de 130 artistas representados na nossa coleção, mas optamos sempre por cumprir o sonho do artista da exposição individual.

 

Ajude-me a perceber melhor o que é a Fundação Cupertino de Miranda.

A Fundação Cupertino de Miranda foi fundada por Artur Cupertino de Miranda, um banqueiro, fundador do Banco Português do Atlântico. O nosso fundador criou a Fundação com o intuito de ser um espaço de arte, de cultura, de literatura e de solidariedade social também. Temos uma biblioteca, um museu, uma livraria, um auditório onde podemos organizar eventos, mais recentemente, em 2020, inaugurámos a Torre literária, ligada também à literatura portuguesa, que conta a história da literatura em 14 salas, é um espaço único em Portugal. Estamos em Famalicão, entre Braga e Porto. Ou seja, quem vai a Braga, passa por Famalicão e acho que é uma paragem obrigatória, principalmente para os amantes de surrealismo e de literatura portuguesa.

 

A Fundação dedica-se apenas ao Surrealismo?

Não, não é apenas o surrealismo. Mas nós temos um Centro português de surrealismo, há quase 20 anos, temos vindo a aumentar a nossa coleção. Cerca de 130 artistas estão representados com mais de 3.000 obras, só do Cruzeiro Seixas são mais de 400. Não estão todas expostas, temos salas dedicadas a estes artistas, nomeadamente a Mário Cesariny, a Cruzeiro Seixas, a Júlio, que era o irmão de José Régio e a Fernando Lemos. Estes são os principais núcleos, mas temos outros muito importantes, como a Isabel Meyrelles, que está hoje aqui presente, tivemos uma grande exposição dela em 2019 e também doou à Fundação cerca de 70 obras, um núcleo muito importante de escultura, que temos neste momento também na Fundação.

 

Apresentam exposições permanentes na Fundação?

Nós temos 4 salas de exposição permanente, temos um espaço quase dedicado a um altar de Mário Cesariny, que retrata um bocadinho a casa do Mário, temos também uma obra que é um ex-libris do simbolismo português, do António Carneiro, e temos uma sala de exposição temporária com exposições que ficam cerca de 4 meses. Neste momento temos da exposição de Rui Aguiar, que não era um artista representado na nossa coleção, mas passou a ser, porque também doou à Fundação algumas obras. Temos também exposições que levamos fora de portas, como esta. Mas esta é realmente, para nós, uma honra estarmos em Paris, a cidade das artes. Em junho vamos estar no Porto, no Centro português de fotografia, com uma grande exposição dedicada à fotografia de Fernando Lemos, também ligada ao surrealismo português, que viveu grande parte da sua vida no Brasil. Temos também um grupo musical ligado à polifonia portuguesa, que já gravou 2 CDs, vamos lançar o terceiro e há um quarto já em preparação. É um grupo da Fundação ‘a capela’, só voz, e que tem um festival também todos os anos relacionado com a polifonia e com a arquitetura barroca.

 

A exposição pode ser visitada da sede da Unesco, em Paris, durante a semana e excecionalmente, no dia 14 de maio, por ocasião da Noite Europeia dos Museus.

 

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