“Mélodie amère”, de Marc Terrisse, um Brasil amargo, entre Fortaleza e Rio de Janeiro

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Marc Terrisse publicou no mês passado “Mélodie amère” (Blacklephant Éditions), um romance noir que nos leva ao coração das favelas brasileiras, verdadeiros ex-libris das anomalias socioeconómicas brasileiras.

Museólogo, historiador e romancista, Marc Terrise, doutorado em História e antigo Diretor do Institut du Monde Arabe de Tourcoing, já levou o leitor francês em viagem pela Lisboa muçulmana – “Lisbonne, dans la ville musulmane” (Éditions Chandeigne, 2019) – e publicou, também este ano, “Variations sur le Portugal” (Éditions Cosmopole) (ler AQUI), obra na qual, este grande especialista das culturas lusófonas, especula sobre se “Portugal não será o ponto de encontro entre solidariedade e liberdade, essa civilização dos possíveis, reconciliando os valores do oriente e do ocidente”?

Em “Mélodie amère”, Marc Terrisse, graças a uma intriga a grande velocidade, também feita de música e carnaval, não deixa de criticar o violento sistema socioeconómico brasileiro assente nas desigualdades, na corrupção e no racismo estruturais enquanto espanta o leitor com as energias brasileiras e a capacidade quase inacreditável que aquele povo encontra em inovar e contornar os obstáculos. O “jeitinho brasileiro” poderia também ser uma personagem deste romance que vive de analepses e frenesi e que se lê sem querer parar.

Daniel, o seu protagonista, nasceu pobre numa favela de Fortaleza, no Nordeste. Se nascer pobre não é surpresa – em 2021, existiam no Brasil 62,5 milhões de pessoas (29,4% da população) a viver abaixo do limiar da pobreza, entre os quais 17,9 milhões (8,4% da população) vivia na miséria extrema – Daniel, para estranheza de todos, nasceu albino, uma marca que não o fará passar despercebido. Daniel é filho de Renato, um dançarino que viu a carreira destruída por uma grave lesão, e Cristina, mãe solteira que a certa altura reatou com o companheiro. Vítimas da pobreza e das desigualdades que vão aos poucos corroendo o tecido social do imenso país-continente, a família cai nas garras do cartel da zona. O crime então como derradeiro recurso das pessoas honestas que não querem morrer de fome. Uma história longa como a própria humanidade: perante uma elite que os esqueceu, os pobres das favelas são obrigados a recorrer a meios ilícitos para garantir a sobrevivência da família.

Daniel, por seu lado integra a chamada Casa Branca, uma instituição fundada por um generoso (e misterioso…) filantropo.

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