LusoJornal / Luís Gonçalves

Neto do soldado Milhões quer que se tirem lições da I Guerra Mundial

Eduardo Pinheiro é neto de Aníbal Agusto Milhais, um dos soldados do Corpo Expedicionário Português que participou na I Guerra Mundial, em França, mais conhecido pelo soldado Milhões.

Eduardo Pinheiro reside em Murça, concelho de onde vinha o avô e deu uma entrevista ao LusoJornal durante as comemorações do Centenário da Batalha de La Lys, e numa altura em que sai nos cinemas um filme com o título «O herói que não queria ser herói» do realizado Gonçalo Galvão Teles.

A entrevista de Eduardo Pinheiro é uma autêntica lição de humanismo, sem rancor e com ideias que todos deveriamos defender para que catástrofes como a que foi a I Guerra Mundial não pudessem jamais acontecer.

 

Ainda chegou a conhecer o seu avô, tem recordações dele?

Não o conheci. Ele faleceu em 1970 e eu nasci em 1974. A história do meu avô sempre esteve presente nas nossas vidas, a minha avó morou conosco, a minha mãe era a filha mais nova e sempre se falou em casa da história do meu avô e do contexto difícil da guerra em que participou, do sofrimento que as pessoas tiveram aqui no Pas-de-Calais e de todos os soldados na defesa do território e óviamente da história dele, que o levou a receber a condecoração da Ordem da Torre e Espada aqui ainda en França, em 1918.

 

Nesta visita por ocasião do Centenário da Batalha de La Lys veio acompanhado?

Sim, integro uma comitiva do Município de Murça, presidida pelo Senhor Presidente da Camâra, com as entidades mais empregadoras localemente: a Adega Cooperativa, e a Cooperativa dos Olivilcultores, entre outras. Estamos aqui a convite do Presidente da República e do Primeiro Ministro português, para participarmos nas comemorações do Centenário da Batalha de La Lys.

 

Estão a preparar uma geminação entre Murça e La Couture?

A geminaçao exitse já de facto, desde 2011. Murça tem participado nas diversas cerimónias das Comemorações desde há vários anos. E tem havido comitivas de La Couture que têm visitado Murça. Há trabalhos que estão a ser desenvolvidos a nível do público escolar, envolvendo alunos das duas vilas, há mesmo uma exposição que vai ser inaugurada com trabalhos relacionados com o meu avô, com desenhos, e a interpretação da sua história pelos alunos de Murça. O meu avô sendo o elo de ligação entre a sua vila natal e La Couture, onde esteve durante a I Guerra Mundial.

 

A participação dos Portugueses na Batalha de La Lys e na guerra estava como que esquecida nos livros escolares de Portugal. Será que o que se está a passar estes dias poderá mudar as coisas?

Espero que sim. Nos últimos tempos tem havido em Portual mais curiosidade nomeadamente por parte dos media portugueses àcerca do tema da participação dos Portugueses na I Guerra Mundial, nas duas frentes, tanto no território europeu, como em África. Tem também despertado uma certa curiosidade por parte do público e é sinal disso a estreia esta semana de um filme sobre a história do meu avô.

 

É importante o filme?

Eu acredito que pela história do meu avô e sobretudo de todos os militares portugueses, a memória de todos acabe por tirar benefício do filme. O filme vai chegar a muita gente que se aperceberá do sofrimento de todos aqueles que vieram representar a jovem República portuguesa, que pretendia afirmar-se no contexto mundial. Espero que com o filme se faça conhecer a muitos, esta parte da nossa história, e que venha por conseguinte a ser integrada nos livros escolares portugueses em memória dos que há 100 anos perderam a vida e o esforço de quantos vieram para França e foram para África e em particularemente todos quantos lá ficaram, que a memória e recordação que lhes é devida perdure.

 

A história do seu avô vai ficar ainda mais conhecida…

A história do meu avô tem a vantagem de ser conhecida, contudo o meu avô não deixa de ser um simples rapaz de 21 anos, que sendo agricultor analfabeto foi tirado da sua terra como tantos outros, foi metido num barco para vir combater em França por valores da Liberdade, da Igualdade e de Fraternidade, valores que fazem parte também da França. A história do meu avô é um pequeno episódio, que a sua notoriedade serve para que todos sejam recordados, que a todos seja dado o valor devido na história de Portugal, porque assim o merecem.

 

Qual é para si o significado das celebrações do Centenário da Batalha de La Lys?

A Batalha de La Lys é um episódio que não fica esquecido devido à proporção e pelo efeito que teve no Corpo Expedicionário Português. Contudo, os amigos e ios nimigos de ontem estão todos presentes. Se há uma grande lição a tirar de uma guerra, é que se deve fazer tudo para que tal não volte a acontecer e que se criem condições para que todos tenhamos segurança, prosperidade, que haja boa comunicação entre todos, para que situações horríveis como as da guerra, não voltem a acontecer. Por inacreditável que pareça, o assunto da I Guerra não ficou resolvido, os Alemaes foram humilhados, o que conduziu a que tívessemos uma segunda Guerra Mundial poucos anos depois.

 

A história deve aprender com isso…

Curisomente nem com duas gerras mundiais a Europa aprendeu, permitindo que nos anos 90 houvesse nova guerra na Europa, na região da ex-Jugoslávia, em que Europeus mataram outros Europeus. É isto que eu gostaria que jamais acontecesse, para tal penso que quanto mais formos Europeus, embora preservando cada um a sua identidade nacional, quanto mais partilharmos os valores, quanto mais conseguirmos dialogar entre todos, quanto mais contribuirmos e beneficiarmos de uma prosperidade global, mais seguros nos sentiremos, mais felizes, mais prósperos e dignos seremos. Seria assim uma forma de honrarmos a memória de quantos estão sepultados em Richebourg e em todos os outros cemitérios. Seria o reconhecimento de todos eles, uma forma de os satisfazer, de tranquilizar… a eles e a nós.

 

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