Soldados do concelho do Fundão falecidos durante a I Guerra mundial em França

Entre os soldados que participaram na I Guerra mundial do concelho do Fundão, 9 terão perdido a vida, oito em França e um na Inglaterra.

A nossa pesquisa vem no seguimento da visita de delegação de responsáveis da aglomeração de Béthune-Bruay à vila do Fundão, a 19 de junho último (ler AQUI), visita cuja finalidade era de iniciar trocas de experiência a nível municipal, económico, histórico, cultural e turístico, e (porque não?) dar origem a uma germinação.

Da consulta do Arquivo Histórico Militar (consultar AQUI) somos informados que 2.572 soldados e 116 oficiais do distrito de Castelo Branco terão participado na I Guerra mundial. Destes, fizeram parte do Corpo Expedicionário Português, originários do concelho do Fundão, 267 soldados e sargentos e 116 oficiais.

Do concelho do Fundão, 9 soldados do CEP faleceram durante a Grande Guerra : 7 estão sepultados no Cemitério Militar Português de Richebourg, um faz parte dos 44 sepultados no cemitério militar Est de Boulogne-sur-Mer e um foi enterrado em Inglaterra. Seis dos falecidos tinham o grau de soldado, um era primeiro-sargento, um segundo-sargento e por último, um era alferes. Sete dos nove falecidos pertenciam ao chamado Batalhão dos Beirões: Brigada de Infantário, Regimento 21, um fazia parte da Brigada de Infantaria, Regimento 11 e por último, um fazia parte do Corpo de Artilharia Pesada, Batalhão de Artilharia de Posição.

Um dos 9 soldados faleceu devido a feridas causadas por acidente, um por pneumonia e os outros 7 na sequência de ferimentos resultantes de combate. Nenhum dos falecidos terá sido durante a Batalha de La Lys, faleceram todos antes da dita batalha (9 abril 1918), à exceção do soldado falecido na sequência do acidente. Eram todos solteiros à exceção de um.

Sobre o Regimento 21 citamos António Lopes Pires Nunes (*): “O Batalhão de Infantaria 21 , sediado na Covilhã, reunia uma Companhia da Covilhã, outra de Penamacor, e uma terceira de Castelo Branco… não obstante ter vivido uma tentativa de insubordinação, ter-se-ia comportado com grande dignidade na frente da batalha… o BI 21 foi das primeiras unidades a embarcar para França (ler AQUI), chegando à Flandres a 8 de fevereiro de 1917, integrada na 1era Brigada da 1era Divisão do CEP, comandada pelo General Gomes da Costa. Depois de concluído o período de instrução, ocupou, em 23 de maio, uma posição inicial no Sector de Fauquissart e, em 28 de maio, posicionou-se no Sector de Neuve Chapelle…».

No dia inicial da Batalha de La Lys, o Batalhão de Infanteria 21 encontrava-se na retaguarda. Para a história do Batalhão ficou, entre outros, o raide executado a 9 de março sob o comando do Capitão Ribeiro de Carvalho, sob as linhas alemãs. Gomes da Costa diria deste raide: «Este é o primeiro raide vitorioso executado pelo CEP».

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Um pouco da história de cada um dos 9 malogrados soldados falecidos do concelho do Fundão na Grande Guerra

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Soldados do concelho do Fundão sepultados no Cemitério Militar Português de Richebourg:

António Neto: Natural de Valverde, era filho de Jerónimo Neto e Francisca Miguel. Embarcou para França a 21 de janeiro de 1917, vindo a falecer a 28 de setembro de 1918. Fazia parte do Regimento de Infantaria (RI) 21.

A 28 de maio de 1917, António Neto foi ferido por gases, tendo dado baixa ao hospital no dia seguinte. Teve alta em 25 de junho.

A 27 de setembro de 1918 sofre acidente. Ferimentos a nível do abdómen e fraturas conduzem-no ao hospital de sangue n°8, onde virá a falecer no dia seguinte.

Sepultado num primeiro tempo no canto NE do Cemitério Civil de Herbelles, foi exumado e inumado novamente no Cemitério de reagrupamento militar português de Richebourg, estando enterrado no Talhão C, Fila 10, Coval 26.

João Sebastião: Natural de Souto da Casa, filho de António Sebastião e Ana Reis Castanheira. Embarcou para França a 20 de janeiro de 1917, vindo a falecer exatamente um ano depois, a 20 de janeiro de 1918. Fazia parte do RI 21.

Durante a campanha foi promovido a segundo-sargento a 17 de outubro de 1917.

Baixa a Ambulância n°3 por ter sido ferido em combate a 20 de janeiro de 1918, falecendo no próprio dia.

Sepultado no cemitério de Vieille Chapelle, cova F14, num primeiro tempo, os restos mortais repousam no Cemitério militar português de Richebourg, Talhão A, Fila 15, Coval 3.

Joaquim Mota: Natural de Escarigo, filho de José Mota e de Ana Alves. Embarcou para França a 21 de janeiro de 1917, vindo a falecer poucos meses depois, a 19 de agosto de 1917. Residia nos Três Povos no momento do embarque. Fazia parte da RI 21.

Joaquim Mota teve diversos períodos de hospitalização: baixou ao hospital a 12 de março de 1917, tendo saído no dia a seguir, entrou a 12 de abril, saindo a 12 de junho.

Ferido em combate a 10 de agosto de 1917, foi evacuado no dia 17 para o hospital n°35, vindo a falecer dois dias depois, a 19 de agosto de 1917.

Joaquim Mota foi num primeiro tempo sepultado no Cemitério sul de Calais, talhão D, cova 1 A 14. Os restos mortais repousam no Cemitério militar português de Richebourg, Talhão C, Fila 19, Coval 8.

José Serôdio: nasceu na Fatela, a 5 de setembro de 1895, filho de António Serôdio e Maria Antónia. Pertencia ao RI 21.

José Serôdio, ferido em combate, faleceu a 15 de novembro de 1917.

Está sepultado no Cemitério militar português de Richebourg, Talhão B, Fila 13, Coval 5.

Manuel da Costa: natural de Póvoa da Atalaia, era filho de José da Costa e Margarida Salvador. Residia em Castelo Novo aquando do embarque.

Embarcou a 21 de janeiro de 1917, vindo a falecer a 06 de junho de 1917. Fazia parte da RI 21.

Durante o curto serviço em França foi promovido a segundo-cabo a 7 de abril de 1917, posteriormente a 1° Cabo.

Manuel da Costa faleceu na primeira linha a 6 de junho de 1917 por motivo de ferimentos provocados por morteiro de trincheira.

Sepultado no cemitério inglês Touret, Coval C, 31, Plot 4, foi posteriormente exumado e reinumado no Cemitério militar português de Richebourg, Talhão C, Linha 9, Coval 19.

Manuel Neto: Natural do Salgueiro, residia no momento do embarque no n°4 Bairro do Sobreiro, em Castelo Branco. Filho de António Neto e Henriqueta Pereira, era casado com Maria da Ressurreição Fonseca Neto.

Embarcou em Lisboa a 20 de janeiro de 1917, tendo chegado a Brest a 4 de fevereiro. Fazia parte do RI 21.

Viria a falecer em 17 de março de 1918.

Durante a sua carreira ao serviço do CEP subiu ao grau de Sargento a 28 de setembro de 1917, posteriormente passou a Alferes a 09 de janeiro de 1918, altura em que ocupou o posto de formação do Regimento. Viria a falecer na primeira linha, em combate, a 17 de março de 1917.

Sepultado primeiro em Vieille Chapelle, Coval N A1, plot 4, viria a ser transladado para o Cemitério militar português de Richebourg, Talhão A, Fila 10, Coval 2.

João Félix: Nasceu em Monte Real (Vale de Prazeres), filho de António Félix e Guilhermina Afonso. Fazia parte do RI 21.

Embarcou a 21 de janeiro de 1917, tendo vindo a falecer na primeira linha, por combate, a 9 de agosto de 1917. Foi sepultado num primeiro tempo no Cemitério inglês do Touret (Richebourg). Os restos mortais encontram-se no Cemitério militar português de Richebourg, Talhão D, Linha 11, Coval 8.

Joaquim Ramos Tavares: Nasceu a 10 de fevereiro de 1895 em Alpedrinha, era filho de Custódio Ramiro Tavares e Maria Oliveira Tavares. Fazia parte da 6ª Brigada de Infantaria, Regimento de Infantaria n°11.

Faleceu na sequência de ferimentos em combate a 9 de janeiro de 1918.

Joaquim Ramos Tavares encontra-se sepultado entre os 44 soldados sepultados portugueses do Cemitério militar de Boulogne-sur-Mer Est, Talhão B, Fila 3, Coval 3.

Carlos Acúrcio: Nasceu a 10 de janeiro de 1895 em Castelo Novo, filho de Albano Acúrcio e Maria Libânia (Ribeiro?).

Embarcou a 21 de agosto de 1917, fazia parte do Batalhão de Artilharia de Posição.

Faleceu a 20 de fevereiro de 1918, vitimado por uma pneumonia, tendo sido hospitalizado no hospital de Shorncliffe.

Encontra-se sepultado no Cemitério militar daquela vila inglesa (Folkestone, Shepway, Kent) (ler AQUI).

De notar que o Fundão não possui monumento em honra aos soldados vitimados pelas guerras, nomeadamente a I Guerra mundial. Monumentos há, que continuam a ser construídos em honra dos soldados do CEP, um dos últimos em Vila Flor, no distrito de Bragança, inaugurado em abril de 2023 (ver AQUI).

Existe sim uma placa em honra dos soldados falecidos na Guerra do ultramar, inaugurada em 2011, na estação dos Caminhos de ferro do Fundão.

Uma placa sediada no Instituto da Beira Interior, antigo quartel, homenageia os soldados falecidos durante as diversas guerras do Regimento de Infantaria 21. Na dita lista falta mencionar Manuel Neto, natural do Salgueiro, falecido na Flandres, a 17 de março de 1918.

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(*) «Os Portugueses na Grande Guerra: os Batalhões dos Beirões de África e França» de António Lopes Pires Nunes, uma edição da Câmara Municipal de Castelo Branco.

LusoJornal