Lusa | António Pedro Santos

Notre-Dame: João Pinharanda diz que pode ser oportunidade para acrescentar algo do século XXI

O Conselheiro cultural da Embaixada de Portugal em França, João Pinharanda, disse, sobre a Catedral de Notre Dame de Paris, danificada por um incêndio, que “seria uma oportunidade extraordinária para acrescentar algo do século XXI” ao icónico monumento.

Contactado pela Lusa, o historiador de arte e curador recordou que a catedral, com mais de 800 anos, “já não era atualmente o edifício original, mas o resultado de várias intervenções que foram sendo feitas ao longo dos séculos”.

“Acho que os Franceses não vão reinterpretar a Idade Média. Vão limitar-se a copiar o que lá estava. Mas o que lá estava não é o original porque foi tendo alterações ao longo dos séculos”, apontou o Adido cultural português.

João Pinharanda recordou que o monumento, com origem no século XII, tece alterações ao longo do tempo, nos séculos XIV, XVII e XIX, com várias intervenções que alteraram a sua imagem, nomeadamente o pináculo que caiu, concebido há cerca de um século. “Na verdade, esta catedral é uma memória viva da cultura europeia – e, em particular, francesa -, política e social, por todas as épocas que atravessou”, desde os casamentos reais, a sagração de Napoleão como imperador, e a própria Revolução Francesa, que lhe retirou a sua atividade original como local de culto para a transformar num mercado.

João Pinharanda acredita que os Franceses não irão fazer grandes alterações ao monumento na sua futura recuperação, e que irão optar por uma “postura conservadora”.

“Primeiro têm de fazer uma avaliação técnica ao próprio estado do edifício, o que se faz sempre nestas circunstâncias, e principalmente quando há incêndios e a estrutura é sujeita a temperaturas altíssimas. A pedra pode aparentemente estar boa, mas não estar em condições de aguentar um restauro, com risco de desfazer-se”, comentou.

Depois dessa fase, disse, “terão de fazer estudos, pensar nas várias etapas do projeto”, que irá demorar muitos anos a ficar concluídos. “Mas os Franceses já estão habituados a estas situações porque estão permanentemente a restaurar edifícios deste género, e sujeitos a situações parecidas”.

Recordou o caso da catedral de Reims, no norte da França, que foi bombardeada pelos alemães, na primeira guerra mundial, e que ardeu totalmente. “Ficou em pior estado do que a Notre Dame de Paris, e não se nota hoje nada”, na sequência dos trabalhos de restauro de que foi alvo.

João Pinharanda disse que atualmente “existem capacidades técnicas muito sofisticadas para reproduzir totalmente o que foi perdido” no edifício.

 

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