Carina Branco

Opinião: Um abraço de solidariedade a todos os lesados do BES

Cinco anos de sofrimento e de solidariedade.

Passaram hoje [4 de agosto] cinco anos sobre o que considero o maior desastre da História de Portugal: a resolução do Banco Espírito Santo e o confisco de todos os seus bens e valores, lesando, da forma a que assistimos, ao vivo e a cores, todos os seus acionistas e investidores do BES.

Foram 5 anos de sofrimento e de solidariedade com os pequenos investidores; gente que o Banco de Portugal colocou, na generalidade dos casos, na mais profunda miséria.

Nestas coisas, há sempre pecados.

O Banco de Portugal não é uma instituição portuguesa. Era uma instituição muito estranha, dominada por capital estrangeiro, que foi nacionalizada por Vasco Gonçalves em 1974.

Não tem idade para ser uma coisa nacional.

Ainda hoje não se sabe se pagaram aos donos, apesar de terem sido emitidas obrigações para isso.

O que se sabe é que o Banco de Portugal sempre foi uma instituição algo esotérica, cheia de segredos e de panelinhas; e que o ouro da República deixou de estar nos seus cofres, não se sabendo onde anda, mas sabendo-se que, apesar do Brexit, o maior peso continuará no Reino Unido.

Carlos Costa, o seu Presidente, era conhecido por ser, no essencial, um especialista em off-shore. Não se lhe conhece um único livro.

Se googlar Carlos Costa aparece o nome de um transsexual, como se fosse o único Carlos Costa do mundo.

O Carlos Costa do Banco de Portugal não existiria nem seria conhecido se não fosse o autor da destruição do sistema financeiro português e da desgraça de milhares de pessoas que acreditaram nos bancos.

Não é claro nem seguro que houvesse fundamentos para a resolução do BES, porque o montante dos prejuízos acumulados no BES era muito inferior ao capital social, segundo as informações divulgadas na época pelo Banco de Portugal.

Claro que o Carlos Costa é apenas a figura do monstro, não se sabendo bem se o monstro é apenas português ou se ele é apenas um pau mandado da União.

Os prejuízos do BES eram de cerca de 3.500 milhões mas o capital ultrapassava os 6.000 milhões.

Ou seja: o capital social cobria largamente os prejuízos, não se entendendo, ainda hoje, porque razões o banco não foi nacionalizado, solução que ficaria muito mais barata ao Estado e que preservaria os valores investidos por todos.

Atento o valor dos prejuízos e do capital, cada acionista teria garantido, na data da resolução, o montante de 0,45 € por ação, atenta a diferença positiva entre o valor do capital e o valor dos prejuízos.

Os obrigacionistas, os portadores de papel comercial e todos os demais credores receberiam tudo aquilo a que tinham direito, não fosse a pretensão de funcionários bancários quererem gerir bancos, sem ser banqueiros ou o facto de existirem perversos compromissos para acabar com a banca portuguesa, como veio a acontecer.

Depois do BES foi o BANIF; e hoje não há nenhum banco com capital maioritariamente português.

Voltamos, 91 anos depois do fim da Primeira República, ao grau zero da confiança nos bancos, que gerou o hábito de investir em ouro e terra e de guardar o dinheiro no colchão.

Hoje não temos nenhum banco em Portugal onde seja confortável fazer depósitos, maxime porque o Fundo de Garantia de Depósitos não dispõe de recursos para garantir os depósitos que garante.

Choca-me muito ouvir todos os dias clientes a confessar esta estranha verdade: “O Banco Espírito Santo sempre cumpriu as suas obrigações. Quem falhou foram os Governos e o Banco de Portugal”.

As pessoas têm saudades do BES e do Dr. Ricardo Salgado, porque, na linguagem dos simples, eles nunca falharam.

Cinco anos depois, vou um pouco mais longe: falhou, como nunca, a Justiça.

Portugal que era, aparentemente, um Estado de direito, deixou de o ser, com a aniquilação dos juízes corajosos e o acarneiramento de boa parte dos outros, como se houvesse um grupo do Facebook a controlar isto tudo.

Para além disso, assistimos a uma absoluta violação das regras da transparência.

Tudo se passou e se continua a passar como se a resolução do BES fosse um verdadeiro assalto a um banco.

É muito triste, porque há famílias e famílias que foram destruídas, há investidores que se suicidaram, há gente que acumulou poupanças, para ter um fim de vida mais feliz e a quem os dos Banco de Portugal e os dos Governos tiraram tudo.

Passados cinco anos ouço cada vez mais pessoas a dizer que o Dr. Ricardo Salgado foi, nisto tudo, a única pessoa séria, porque, no tempo dele, o banco cumpria, rigorosamente, no dia do vencimento.

É uma tristeza e uma vergonha.

Estou cada vez mais convencido de que todos estes processos continuarão a arrastar-se por tempo indeterminado.

Podem ser mais vinte, trinta, quarenta anos…

Eu próprio, quando era miúdo, ouvi histórias dos prejuízos causados aos meus ascendentes pela falência de um banco na Primeira República.

Perderam tudo menos a dignidade e a saudade do dinheiro que tiveram.

Vai acontecer a muitos dos lesados do BES, por quem tenho lutado e com quem sou, todos os dias, solidário.

É triste. Mas é importante entender o fenómeno e manter a luz acesa, porque tudo parece estar montado numa lógica de abafamento.

Curiosamente, no português do século XIX, abafar queria dizer furtarou roubar.

Um abraço de solidariedade a todos os lesados do BES.

 

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