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Pianista Joana Gama fecha capítulo em torno do Francês Erik Satie com álbum “Arcueil”

A pianista portuguesa Joana Gama fecha um capítulo sobre o Francês Erik Satie com o álbum “Arcueil”, que sai na quinta-feira, mas vai continuar a ter a obra do compositor por perto, enquanto se livra dessa “obsessão pelo difícil”.

“O que eu fui fazendo no meu percurso foi procurar repertório com o qual me sinto bem, que puxa por mim, mas que eu gosto de tocar e que faz sentido eu partilhar. Por isso é que vou continuar a tocar Satie, mas fazendo outros projetos”, disse Joana Gama em entrevista à agência Lusa.

“Arcueil” é o segundo álbum que Joana Gama edita em torno da obra do compositor e pianista francês, depois de “Satie.150” (2017), ancorado num recital pensado para os 150 anos do nascimento dele.

Este novo registo sucede a um recital que Joana Gama construiu e interpretou ao vivo, em que as composições de Satie foram colocadas em diálogo com as de outros autores, numa sequência de afinidades diretas e indiretas entre todos.

Assim, do alinhamento de “Arcueil” fazem parte, por exemplo, “Pole position” (2017), de Marco Franco, “What time is it?” (1996), de Vítor Rua, e “Musica Callada”, do catalão Federico Mompou, contemporâneo de Satie.

“Arcueil”, que sai numa parceria entre os selos independentes Miasoave e Boca, inclui um livro com textos explicativos de Joana Gama e com desenhos e gravura de Marco Franco, Nuno Moura, Ricardo Jacinto, André Laranjinha, Tiago Cutileiro e Vítor Rua.

“A minha relação com a música – eu percebo agora – está muito ligada às pontes que a música pode criar. (…) É muito bonito pensar o que está à volta da música e como isso nos dá outra possibilidades de leitura, como nos envolve, mais do que debitar música que as pessoas já conhecem”, sustentou a pianista a propósito do objeto discográfico que vai editar.

Joana Gama, que nasceu em 1983, em Braga, anda há quase uma década a descobrir a obra de Erik Satie, desde que a interpretou pela primeira vez no festival Dias da Música, em 2010, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

Em 2016, assinalou a efeméride dos 150 anos do nascimento de Satie com várias iniciativas, entre as quais recitais mensais, palestras para escolas, o álbum “Harmonies”, criado com os músicos Luís Fernandes e Ricardo Jacinto, e a performance, de 15 horas, de “Vexations”, em Viseu (posteriormente repetida na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa).

Mantendo-se noutros projetos em paralelo, como o trabalho com a coreógrafa Tânia Carvalho e o encenador Victor Hugo Pontes, Joana Gama foi alimentando o interesse pela vida e obra de Satie, lendo, conhecendo, indo aos locais onde ele esteve.

“É um compositor e um homem peculiar que merece atenção, pelo trabalho. Eu sinto que é infindável. Podia estar a vida toda a fazer associações, porque são sempre coisas muito diversas”, explicou a pianista.

No percurso como intérprete, Satie serviu ainda para Joana Gama experimentar o formato de recital comentado, que usa nomeadamente com crianças em “Eu gosto muito do Senhor Satie”.

Há uma intenção declarada de se aproximar do público, ultrapassando alguma formalidade associada aos recitais.

“O pianista é uma pessoa como os outros e acredito muito mais na humildade do que nas divas deste mundo. (…) Eu não tenho a pretensão de que estou a tocar para um público que conhece as músicas. Eu sei que há uma pequena parte que conhece, mas há muita gente que não conhece”, disse.

Há ainda outra questão: A música de Erik Satie “é relativamente simples e, em muitos casos, não é desafiante. Não é comum ouvir-se nas escolas”.

“Há um problema no ensino, que eu se calhar ainda me estou a ver livre dele, que é esta obsessão pelo difícil. Parece que tem sempre de se tocar peças muito difíceis que nunca vais tocar bem. E nunca te vais sentir bem a tocar”, reconheceu.

“Arcueil”, cujo título remete para a localidade onde Erik Satie viveu 27 anos, nos subúrbios de Paris, fecha um ano intenso para Joana Gama.

Incluiu uma colaboração com o grupo de percussão Drumming e com o músico Luís Fernandes, uma nova criação com Victor Hugo Pontes, a edição do álbum “Travels in may homeland”, com obras de Lopes-Graça e Amílcar Vasques-Dias, e um trabalho com o grupo coral feminino Sopa de Pedra, que dará frutos em 2020.

O lançamento de “Arcueil” será feito com dois recitais, no próximo dia 5, no foyer do Teatro Nacional de São Carlos, em Lisboa, e no dia 14, no Museu Nogueira Silva, em Braga.

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