Lusa / Miguel A. Lopes

Presidente Macron fez ‘selfies’ numa Lisboa cada vez mais ‘francesa’

O Primeiro Ministro português e o Presidente francês expuseram-se na sexta-feira a turistas e transeuntes para muitas fotografias, na zona do Chiado, em Lisboa, num percurso de um quarto de hora a pé, fazendo lembrar “arruadas” eleitorais.

António Costa e Emmanuel Macron, cumprimentando e sendo saudados por centenas de pessoas, esmagadoramente de origem francesa, desceram desde o Largo do Chiado, pela rua Garrett, até ao Grémio Literário, na rua Ivens, local para almoço, com vista sobre a baixa “alfacinha” e um menu que incluía robalo ao sal.

O Chefe de Governo luso e o Chefe de Estado gaulês, que aterrou em Lisboa nessa manhã, participaram na conferência sobre o futuro da Europa, intitulada “Encontro com Cidadãos”, na Fundação Calouste Gulbenkian, e depois marcaram presença na cimeira sobre interligações energéticas na Agência Europeia de Segurança Marítima, ao Cais do Sodré.

Costa e Macron, envolvidos numa “caixa de segurança” com 10 elementos permanentes, foram acedendo às já tradicionais ‘selfies’, várias delas com crianças em idade de colo.

 

França e Espanha salientam convergência com Portugal sobre grandes desafios da Europa

Os dirigentes de Espanha e França salientaram a convergência com Portugal em matéria de migrações, a conclusão da união económica e monetária e combate às alterações climáticas.

A posição do Presidente francês, Emmanuel Macron, e do Chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, foi assumida no final da segunda cimeira para as interligações energéticas, realizada em Lisboa, com a presença do Primeiro Ministro português, António Costa.

O Chefe de Estado francês referiu que, quer na relação bilateral entre Paris e Lisboa, quer com Madrid, são tocados os “grandes desafios da Europa de hoje”. “Hoje avançámos em conjunto sobre o desafio migratório, o reforço da zona euro, e a capacidade de tratar desta transição energética e ecológica”, declarou.

Macron reconheceu que o tema das interligações energéticas esteve durante “demasiado tempo num impasse intelectual”, com França a colocar-se “muitas vezes numa posição defensiva, evitando que alguns projetos fossem estudados e até aplicados porque não estava convencida da sua utilidade”.

Agora, sublinhou, trata-se de “construir uma verdadeira estratégia europeia”. “Esta cimeira permitiu avançar neste contexto e dá-nos a possibilidade de sermos mais eficazes, mais soberanos e menos poluentes”, referiu.

Já Pedro Sánchez saudou a “frutífera cimeira” que decorreu em Lisboa, “a segunda sobre estas ligações tão importantes para a Península Ibérica e a nossa ligação com o conjunto do continente”, depois da reunião realizada em Madrid em 2015. “Há três Governos europeus que estão interligados pelo conjunto das vontades, de cumplicidades quanto à construção europeia. Gostaria de o sublinhar”, disse o Chefe do executivo de Madrid.

 

Compromisso de interligações energéticas

Portugal, Espanha e França reafirmaram o compromisso de alcançar 10% de interligações energéticas em 2020 e 15% em 2030, mas a Comissão Europeia alertou que o primeiro objetivo só será atingido cinco anos depois.

Na Declaração de Lisboa, assinada na sexta-feira, os três países e Bruxelas “renovam o seu empenho no cumprimento das conclusões do Conselho Europeu de outubro de 2014, nomeadamente as metas para 2020-2030 relativas às interligações”.

O documento foi assinado durante a segunda cimeira para as interligações energéticas, em Lisboa, com a presença de António Costa, de Emmanuel Macron, de Pedro Sánchez e do Comissário europeu para a Ação Climática e a Energia, Miguel Arias Cañete.

“Foram agora estabelecidas novas metas ambiciosas: até 2020, atingir um nível de 10% de interligações entre a Península Ibérica e a Europa, mas de 15% em 2030”, disse António Costa, na sua intervenção inicial, no final da cimeira.

A Comissão Europeia apoiará este projeto, com uma extensão de 280 quilómetros, em 578 milhões de euros, “o maior investimento de sempre num projeto de infraestrutura energética no âmbito do Mecanismo Interligar a Europa”, segundo Bruxelas.

Já o comissário europeu Miguel Cañete afirmou que o nível de interligação “não chegará em 2020 aos 10%”. “O nível de interligação entre Espanha e França é de 6%. Teria de ser 10% em 2020. Como disse o Presidente do Governo de Espanha, em 2025, chegará, quando estiver executado o projeto do golfo de Biscaia”, disse.

 

“Passo significativo” para novo roteiro energético

O Primeiro Ministro português afirmou que foi “dado um passo significativo” com a definição do financiamento do projeto de infraestruturas e o estabelecimento de metas ambiciosas.

António Costa falava no final da cimeira onde participou também a vice-Presidente do Banco Europeu de Investimentos (BEI) Emma Navarro. “Creio que esta segunda cimeira, em relação à anterior realizada em Madrid, dá um passo concreto com a assinatura do contrato, fixa novas metas e estabelece um roteiro para termos uma política energética que visa a segurança, a competitividade e a descarbonização da nossa economia”, sustentou o líder do executivo nacional.

 

Macron defende UE com estrutura mais leve

O Presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu uma Europa, a médio prazo, com uma estrutura mais leve, “além dos 27”, com acordos de associação com a Rússia e a Turquia. “É fundamental haver uma estabilização destes dois países do ponto de vista geoestratégico”, afirmou Macron numa conferência sobre o futuro da Europa, intitulada “Encontro com cidadãos”, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com a presença de António Costa.

Num debate em que ninguém lhe fez a pergunta de como vê a União Europeia dentro de 15 anos, o Presidente da França descreveu a Europa como uma organização de “círculos concêntricos, talvez além dos atuais 27” Estados-membros.

A estrutura seria mais leve, algo “entre a atual União Europeia e o Conselho de Europa”, mas “muito exigente quanto aos valores”, aos “princípios democráticos” e à “liberdade de comércio”, afirmou.

É uma Europa a várias velocidades, admitiu, que, “em bom rigor”, já existe, e os exemplos até foram dados numa intervenção do chefe de Governo português, António Costa, que Macron citou: espaço Schengen ou as cooperações permanentes na área da Defesa.

E já quanto às regiões em volta das atuais fronteiras da UE, o Chefe de Estado francês fez a defesa de acordos de associação com países como a Rússia, mais a leste, ou com a Turquia, na fronteira com o Médio Oriente.