Lusa/José Coelho

Sérgio Conceição saiu do Nantes para ser Campeão com o FC Porto

Sérgio Conceição dedicou ontem o seu primeiro título de Campeão na carreira aos seus pais, falecidos, distribuindo os méritos com os futebolistas, o staff do clube e o presidente Pinto da Costa.

«Na minha apresentação tinha dito que no fim desta época iria agradecer a duas pessoas que iriam estar muito contentes, que são os meus pais [falecidos]. Para eles este título», disse, emocionado, em curta conversa com os jornalistas, interrompida pelo entusiasmo dos festejos.

O FC Porto sagrou-se ontem Campeão português de futebol pela 28ª vez, ao beneficiar do empate a zero entre o Sporting e Benfica, em jogo da 33ª e penúltima jornada da I Liga.

Os «dragões», que apenas jogam este domingo, em casa frente ao Feirense, têm quatro pontos de avanço sobre os dois rivais de Lisboa, que apenas podem somar mais três.

Na luta pela segundo lugar e com um encontro por jogar, o Sporting, que dá acesso à pré-eliminatória da Liga dos Campeões, passou a ter vantagem no confronto direto em relação ao Benfica.

Sérgio Conceição escusou-se a assumir o protagonismo do êxito, partilhando-o com todos: «Não sou o Treinador, somos mais do que os cinco da equipa técnica, é o departamento médico e toda a estrutura. Merecem e estão de parabéns. Uma palavra para o Presidente que me deu a oportunidade de trabalhar num clube que me diz muito e estou muito feliz por isso».

O Treinador agradeceu à esposa e filhos que consigo «sofreram» – «não é fácil levar um barco destes para a frente, sendo exigente comigo próprio e com os seus» – num ano que classificou de «fabuloso».

«Há muita gente atrás deste título, sou apenas a pessoa, o líder que dá a cara, mas muita gente está de parabéns. O principal responsável do êxito é o FC Porto», reforçou.

Sérgio Conceição revelou que já teve a «oportunidade de agradecer aos jogadores, incansáveis esta época, sob uma liderança muito exigente, muito rigorosa».

«Tiveram grande capacidade de trabalho, grande humildade e reconheceram que tinham de trabalhar muito para sermos felizes. Foram os verdadeiros obreiros. Tal como [os Adjuntos] o Vítor Bruno, o Siramana Dembélé, o Diamantino Figueiredo, o Eduardo Oliveira, toda a estrutura. E o nosso presente que foi muito importante», concluiu.

Pinto da Costa destaca «trabalho notável»

O Presidente do FC Porto, Jorge Nuno Pinto da Costa, destacou ontem, em declarações ao Porto Canal, o «trabalho notável» de Sérgio Conceição na obtenção do título de Campeão de futebol, alcançado «contra muita gente».

Pinto da Costa agradeceu a todos os que tornaram possível ao fim de 36 anos na presidência do clube pudesse festejar mais um título, em especial equipa técnica, dirigentes, jogadores, sócios, adeptos, claques e simpatizantes. «O momento H para o arranque da nossa vitória, desta conquista, foi a assinatura do contrato de Sérgio Conceição como treinador desta equipa de futebol», disse Pinto da Costa, em conversa telefónica ao canal televisivo oficial ‘azul e branco’.

O Presidente disse que sempre acreditou que Sérgio Conceição havia de levar o clube à reconquista do título que fugia há quatro épocas e considerou que o treinador foi «o grande vencedor e o principal impulsionador deste mar azul».

«Bendita a hora em que fiz esta aposta», acrescentou Pinto da Costa, que considera a conquista do titulo uma «meta volante», uma vez que aponta agora ao recorde de pontos, 88, com a conquista de seis nos dois jogos que faltam (Feirense, casa, e Vitória de Guimarães, fora).

Pinto da Costa estacou a «confiança», o «amor» e a «determinação» que o Treinador Sérgio Conceição transmitiu ao plantel e ao clube e considerou que esse foi o momento decisivo: «Nunca tive dúvida de que íamos alcançar o que conseguimos esta noite».

A aposta ganha de Sérgio Conceição

Sérgio Conceição assumiu há um ano uma aposta pessoal muito forte, ao sair do Nantes para ir treinar a equipa de futebol do FC Porto, o que implicava perder dinheiro e arriscar a boa imagem deixada em França.

Mas ganhou, e aos 43 anos projeta-se como um técnico francamente cobiçado por grandes emblemas da Europa, ao mesmo tempo que é já um dos símbolos dos ‘dragões’ – é o terceiro português a sagrar-se Campeão como jogador e treinador no clube, sucedendo a nomes tão ilustres como José Maria Pedroto e António Oliveira e Augusto Inácio [que substituiu interinamente Bobby Robson].

Em França, deixou o Nantes no sétimo lugar, magnífico para as ambições do clube, e prescindiu de quatro milhões de euros por ano, para ir para o clube do coração por um pouco menos de metade, mais prémio por objetivos. Agora, recebe mais um milhão e vê o seu nome entrar nas listas de prováveis de clubes como o Inter Milão.

Na formação, foi jogador da Académica e do FC Porto e nunca escondeu a sua afeição pelo clube ‘azul e branco’ por quem tinha sido três vezes campeão (1996/97, 1997/98 e 2003/04). Aliás, o FC Porto foi mesmo o único clube da I Liga que representou em Portugal.

Quando chegou a sénior, andou por Penafiel, Leça e Felgueiras e após o seu bicampeonato esteve cinco épocas e meia em Itália, ao serviço de Lazio (por quem foi campeão), Parma e Inter. Em 2004 voltou a emigrar e defendeu as cores de Standard Liège, Qadsia (Kuwait) e PAOK, já em final de carreira.

Deu novo passo em 2010, de volta ao Standard como Adjunto de Dominique D’Onofrio. Depois, foi ganhando experiência e prestígio no banco de Olhanense, Académica, Sporting de Braga e Vitória de Guimarães.

Pinto da Costa ia seguindo o percurso do jovem Treinador, com quem simpatizava desde os tempos de jogador. E nem sequer se impressionou com a aura de frontalidade, na fronteira da dureza, de Sérgio, que já tinha entrado em choque com os Presidentes da Académica e do Sporting de Braga.

A mudança esteve para ser há duas épocas, para render o infeliz Peseiro. Acabou por ser Nuno Espírito Santo a fazer a nova época, mas também ele viu o Benfica ser Campeão.

Sérgio Conceição herdou, em junho passado, a dura missão de recolocar o FC Porto na senda do sucesso e travar o ‘penta’ do Benfica. Não foi fácil, ao longo da época viu Sporting e Benfica andarem pela liderança, mas no final quem ri é mesmo ele.

A época tem nota absolutamente positiva, apesar de não agregar mais nenhum troféu. Só que deixa boa imagem na Liga dos Campeões (caiu ante o Liverpool, que é finalista), na Taça (afastado pelo finalista Sporting) e até na Taça da Liga (perdeu com os ‘leões’, que viriam a ser Campeões).

Em quase um ano à frente do FC Porto, foi ganhando estatuto de ídolo entre a massa dos adeptos, encantado com o seu estilo frontal, sem permitir desvios disciplinares, mas também sem rancores.

Isso bem se viu na forma como afastou da equipa, para depois os chamar de novo, sem mais tensões, nomes como Tiquinho Soares ou Iker Casillas. Sem subterfúgios, assumiu que o guarda-redes que foi Campeão do mundo não estava a treinar o suficiente e enviou-o para o banco – mas depois voltou a dar-lhe a titularidade e o estatuto de peça fundamental no final do Campeonato.

Sem grandes reforços ao seu dispor, Sérgio Conceição teve o condão, isso sim, de potencializar os jogadores que já estavam, ou emprestados, como Aboubakar, Marega, Ricardo Pereira, Alex Telles ou Herrera.

Arriscou e ganhou, numa época que fica ao nível do melhor de sempre do clube, tanto em termos de golos marcados como de pontos alcançados. É preciso recuar até José Mourinho para ver números tão positivos.

A «saga» pode não acabar aqui, já que tem mais um ano de contrato. As próximas semanas serão essenciais, para ver se Pinto da Costa consegue segurar a sua nova «jóia da coroa» ou cede a uma proposta milionária e irrecusável.

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