Situação de bloqueio na Sucursal de França da Caixa Geral de Depósitos

A situação na Sucursal de França da Caixa Geral de Depósitos continua «bloqueada». Uma parte dos trabalhadores mantém-se em greve desde o dia 17 de abril e, mesmo se as agências estão praticamente todas abertas, os serviços estão a ser fortemente afetados, até porque a maioria dos grevistas trabalha na sede da instituição, na rue de Provence, em Paris.

Os quatro sindicatos representados no banco estão divididos. De um lado a FO e a CFTC, que constituem a Intersindical que apelou à greve, e do outro a CGT e a CFDT que não apelou à greve.

Os Sindicatos estavam todos juntos na Assembleia de Trabalhadores que juntou centenas de colaboradores da CGD no pátio daquela instituição, no dia 12 de abril. Nesse dia, parecia haver unanimidade quanto ao diagnóstico da situação e aos motivos do protesto.

Só houve divergências na estratégia a seguir.

Por um lado, a CGT e a CFDT acharam que a Assembleia Geral de trabalhadores lhes deu «força» para iniciarem novas negociações com a Direção e a Administração.

Por outro lado, a FO e a CFTC que acharam que deviam seguir imediatamente para a greve. Na frente deste movimento surge Cristina Semblano, uma economista do banco, com 63 anos, que passou a ser «Porta-voz da Intersindical representativa dos trabalhadores em greve» e «membro da Comissão de negociação eleita pelos trabalhadores».

Começou então uma greve ilimitada, a partir de 17 de abril, e que ainda dura atualmente. E começaram também as divisões e os ataques entre os quatro sindicatos. «Eles viraram-nos a cara, nem nos falam, e quando afixamos os nossos comunicados no sitio previsto para esse efeito, eles passam por trás e arrancam-nos» queixa-se um sindicalista da CGT ouvido pelo LusoJornal.

Por outro lado, a Intersindical acusa a CGT e a CFDT de estarem «do lado da Direção».

No comunicado divulgado esta manhã, a CGT e a CFDT acusam a Intersindical de terem iniciado uma greve ilimitada sem terem Caderno Reivindicativo. «Como é que um sindicato, que pretende defender os direitos dos salariados, pode iniciar uma greve ilimitada sem ter ainda um Caderno Reivindicativo?» diz o comunicado conjunto da CFDT e da CGT, alegando que o Caderno Reivindicativo só foi apresentado a 23 de abril, alguns dias depois da greve ter começado. «Como é que um sindicato, que reivindica proteger os interesses dos salariados, pode apresentar tão tarde um Caderno Reivindicativo tão insensato?».

Acusando a FO e a CFTC de «procurarem sistematicamente a destrução da nossa ferramenta de trabalho», a CFDT e a CGT consideram que a reivindicação de um aumento de 560 euros por mês «é completamente louco. Ninguém os pode tomar como sérios» diz uma sindicalista da CFDT. «É uma loucura!»

 

Quem se senta à mesa das negociações?

Esta manhã não há qualquer reunião marcada. «A situação está bloqueada e não temos data da próxima reunião» constata o comunicado da CGT e da CFDT.

A Direção da Sucursal explicou ao LusoJornal que as negociações fazem-se com todos os Sindicatos, mas os representantes dos trabalhadores grevistas dizem que a negociação se faz com os representantes dos trabalhadores em greve e não querem sentar-se com os outros sindicatos. Ameaçam de recorrer à justiça «porque é assim segundo a Lei francesa», enquanto a Direção e os sindicatos não grevistas dizem que não. A Direção ameaça também recorrer para a justiça.

«Depois de insultos, por um punhado de colegas, e acusações em público, os dirigentes da FO/CFTC querem proibir os representantes sindicais da CGT e da CFDT, qualificando-os de ‘elementos exteriores’ de participarem nas reuniões convocadas pela Direção» lê-se num comunicado de 5 de maio da CFDT e da CGT.

Segundo estes dois Sindicatos, a CGT e a CFDT representam 49,9% dos trabalhadores da CGD, no seguimento das eleições de 2017. «Há uma só voz a mais no conjunto dos colégios eleitorais. 365 votos para a CGT e CFDT e 366 para a FO e a CFTC. Esta é a realidade dos números, estamos fartos das mentiras» reagem os sindicatos não grevistas quando a Intersindical diz que é «maioritária».

«A Direcção Geral da Sucursal continua a manifestar a sua má-fé habitual recusando considerar a Comissão de negociação eleita em 17 de abril pela Assembleia Geral de Trabalhadores em greve, como a sua única e legítima interlocutora, ao convidar ostensivamente a sentar-se à mesa das negociações representantes de sindicatos minoritários que lhe são favoráveis e entravam as negociações» diz um comunicado da Intersindical em greve, de 16 de maio. «Face a esta situação – de uma Direção que se outorga o direito de escolher os seus interlocutores ao arrepio da lei – ao entrave das negociações a que ela conduz e à vergonhosa desinformação a que dá lugar, a Assembleia Geral de Trabalhadores aprovou ontem em Plenário uma moção desautorizando a Comissão de negociações que ela elegeu, a sentar-se à mesa com elementos estranhos aos representantes dos trabalhadores em greve».

A situação tem sido pois de rutura entre os dois blocos. «Quando negociámos melhores condições, são para todos os trabalhadores e não apenas para os grevistas» diz a Direção da Sucursal ao LusoJornal. «É ridículo» dizem sindicalistas da CGT.

Em comunicado, a FO e a CFTC garantem que «a Lei é inequívoca, assim como a ‘Cour de Cassation Sociale’»: «Todas as organizações representativas na empresa, por intermediário dos seus delegados sindicais, devem participar na negociação, mesmo em caso de greve» e «Constitui um entrave ao exercício do direito sindical o facto de não chamar um sindicato representativo com um delegado sindical na empresa, às negociações sobre a revisão de acordos coletivos, mesmo se os acordos não foram assinados por esse sindicato» cita em comunicado a CGT e a CFDT.

 

Greve passou para a esfera política

A situação tem sido levada para a esfera política, até porque a CGD é um banco público. A Intersindical já organizou uma manifestação junto à Embaixada de Portugal em Paris, apelou para uma manifestação hoje de manhã, junto ao Consulado Geral de Portugal e uma nova manifestação junto à Embaixada no sábado.

Cristina Semblano também escreveu ao Presidente da República Portuguesa, em representação da Intersindical representativa dos trabalhadores em greve e da Comissão de negociação eleita pelos trabalhadores, para lhe solicitar uma audiência.

«Um aspeto fundamental, que aparece como pano de fundo deste longo conflito, está a incerteza ligada ao futuro da Sucursal, cuja alienação está prevista no Plano de reestruturação acordado pelo Governo português com a DGComp como contrapartida da recapitalização do grupo público. Em particular, a falta de transparência que envolve o processo de alienação desde o princípio em completa violação da Lei, deixa apreensivos os trabalhadores e os milhares de clientes emigrantes da Sucursal de França da CGD» escreve Cristina Semblano na carta enviada ao Presidente da República e ao qual o LusoJornal teve acesso. «O Plano de Reestruturação acordado entre o Governo português e Bruxelas, deveria ter sido apresentado às instâncias representativas dos trabalhadores em França, previamente à sua conclusão. Ora, não só não foi o caso, como, uma vez concluído, aquele Plano continua a não ser entregue, em violação completa da Lei francesa».

Cristina Semblano, que também é dirigente Nacional do Bloco de Esquerda – embora refira ao LusoJornal que não é nessa função que lidera o movimento grevista na Sucursal de França da CGD – trouxe a Paris a Deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, membro da Comissão de Orçamento e Finanças da Assembleia da República, no dia 9 de maio, quando decorriam 23 dias de greve.

 

Negociações continuam

Num comunicado de 23 de maio, a CGT garante que as negociações têm «avanços significativos». Garante que a Direção reconduz o Acordo assinado em 2016, que garante o emprego a todos os trabalhadores até 31 de dezembro de 2021, garante que o salário mínimo de emprego em CDD passa para 1.800 euros e o salário para passagem em CDI passa para 2.000 euros. «São aumentos muito significativos para os jovens colegas que chegam agora ao banco e que ganhavam mal» diz ao LusoJornal um sindicalista da CGT comentando o comunicado da semana passada.

O sindicato garante ainda que a «Prime de Garderie» passou para 80 euros, que a «Prime de Scolarité» passou para 150 euros, que a «Prime de vacances» e a «Prime de Noël» passou para 600 euros cada uma, que a «Prime Mérite» de 2016 vai ser de 500 mil euros, distribuída a todos os trabalhadores em partes iguais e que a «Prime Mérite» de 2017 vai ser de 622 mil euros, distribuída segundo os critérios habituais de mérito. O Sindicato garante ainda que a Direção da Sucursal apresentou um Plano Comercial e Estratégico para os 5 próximos anos e um aumento salarial de 1,2%. «Para mais, como prova da continuidade das atividades, um conjunto de medidas foram apresentadas, com uma agenda de execução».

A CGT preparava-se para assinar a proposta da Direção, mas fez uma contraproposta relacionada com o aumento salarial de 1,2%. «Entendemos que ainda é insuficiente» e propôs um aumento de 110 euros por mês e por trabalhador.

«Enquanto uns fazem greve, nós optamos por negociar» diz um sindicalista da CFDT. «Os avanços nas negociações só são obtidos graças à nossa greve» responde um grevista motivado.

 

Um referendo ao conjunto dos trabalhadores?

Mas o comunicado desta manhã da CFT e da CFDT acusa «os representantes da FO de quererem favorecer os grevistas em detrimento dos outros».

Segundo estes sindicatos, a proposta da FO defende que, «em caso de despedimento», as indemnizações sejam diferenciadas: «2,5 vezes o montante previsto na convenção coletiva para os não-grevistas, com um limite de 167 mil euros; e 3,5 meses por ano para os grevistas com um limite de 400 mil euros».

O comunicado da CGT e da CFDT diz que «ninguém duvida que, para além de ser discriminatória, esta medida tem um caráter ilegal, que parece não perturbar a FO» e fala mesmo e «caos».

«Para sair deste caos destrutor, a CFDT e a CGT pedem à Direção Geral para organizar um referendo ao conjunto do pessoal» diz o comunicado desta manhã.

Para já, não se sabe quando vai terminar o conflito. «Nem se sabe se os trabalhadores grevistas têm um plano de fim de greve» conclui um quadro do banco ao LusoJornal.

 

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