Um balanço cultural da semana passada para ganhar fôlego para esta semana

Esta é uma crónica que, antes de ganhar fôlego para os dias que lhe cabem, exige um balanço… Porque os acontecimentos da semana passada foram suficientemente ricos para deles falarmos uma segunda vez e podermos mesmo prever-lhes matéria para crónicas futuras.

Falemos para já de duas dimensões aparentemente opostas: a seriedade e o tempo lento da universidade e a vertigem do mercado da música urbana.

O Centenário do Ensino do Português na Sorbonne (e, por extensão atual em cerca de duas dezenas de outras universidades francesas), para além das presenças oficiais da praxe na sessão de abertura, e para além das mesas especializadas, que durante dois dias foram concorridas por especialistas e estudantes, mereceu, por parte do MNE, não um discurso “da praxe” mas uma preclara leitura da atualidade e modalidades de futuro do português (que caracterizou como “língua de múltiplas centralidades”) à escala do mundo e à escala de todo um século.

Na sua décima edição o Festival MaMa, organizado por Fernando Ladeiro Marques, reunindo cerca de 6.000 profissionais de todo o mundo e apresentando, no eixo Pigalle/Clichy, 120 concertos e 150 encontros em 3 dias deu palco a produtores e a cinco músicos portugueses. Os motivos de otimismo estão nas conferências de imprensa cheias, nos concertos plenos de êxito, na passagem discreta do MNE, cujo Ministério através do Camões apoia a plataforma Portugal Muito Maior, concebida por João Gil, procura criar uma rede mundial de criadores e consumidores de música portuguesa.

Finalmente: sábado, teve lugar o terceiro encontro AGRAF (Associação dos graduados portugueses em França), reunião de investigadores e cientistas de origem portuguesa (aqui formados ou não) mas vivendo e trabalhando em França, que não noticiámos pelo carácter restrito dos convites. Fez-se um diagnóstico certeiro da situação profissional deste grupo de “novos” emigrantes, da sua mobilidade, das dificuldades de inserção e também dos seus êxitos.

Na abertura, o Embaixador de Portugal exortou-os a prosseguir a atitude de ousadia e risco que os fez aqui chegar: abrirem-se ao mundo que os rodeia, darem de si a visão de um novo tipo de associação não comunitarista mas articulando perfeitamente as questões de identidade com as da universalidade.

É tempo de atacarmos a nova semana:

Dia 21, segunda-feira, Anne Métallier festeja, na Discoteca La Java, em Paris, os seus 40 anos de vida editorial, parte dela dedicada a promover a literatura portuguesa e lusófona através uma coleção especial, dirigida por Pierre Leglise-Costa. Recordemos que a primeira tradução de Lobo Antunes em França aconteceu aqui.

Dia 22, terça-feira, às 20h30, no Fórum des Halles, Pedro Lino apresenta um documentário onde procura seguir os traços de vida de um misterioso personagem, pioneiro do cinema português, Rino Lupo – a obra conta com numerosas imagens captadas por Manoel de Oliveira, seu contemporâneo.

Dia 26, sexta-feira, às 18h00, na Maison du Portugal da Cidade Universitária, integrando o Festival de Jazz local, o agrupamento Jardim Jazz, sob texto de Lídia Jorge e a partir de letras e músicas originais, apresenta “Oulman e Amália” referindo o decisivo papel de Alain Oulman, homem de muitas vidas, no lançamento internacional da cantora.

No mesmo dia 26, mas no coração do “Plateau des Mille Vaches”, em Meymac, no Centro de Arte que acolheu no ano passado uma vastíssima apresentação de arte portuguesa, 25 janelas do antigo Convento de Saint André serão decoradas pelo artista português André Garcia assim integrando o tradicional projeto do “Calendrier de l’Advent” que ele coloca, este ano, sob o tema da emigração.

Finalmente, às portas de Paris, prossegue em Montrouge a Bienal de la Jeune Création Européenne onde Portugal se encontra tradicionalmente representado: desta vez com uma dezena de artistas escolhidos por António Cardoso, Diretor do Museu Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante. E, de Esmeralda da Costa, também jovem videasta, residente em França, termina dia 25, em Arcueil, no espaço Anis Gras, uma instalação, “altera(c)tions”, onde a artista interroga os temas de crise da atualidade: o corpo, a tecnologia, a natureza.

Esta crónica é difundida todas as semanas, à segunda-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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