Vida de Amadeo de Souza-Cardoso entre Amarante e Paris contada em banda desenhada

A história do artista plástico Amadeo de Souza-Cardoso é contada através de uma banda desenhada, de Jorge Pinto e Eduardo Viana, para que os leitores despertem para o contexto da obra do pintor, que morreu há cem anos.

“Queremos que possa chegar a um público que conhece Amadeo, mas não conhece o grupo de artistas dele, as correntes artísticas. É uma visão de uma biografia num formato diferente. Queria escrever uma história bastante plural”, afirmou à Lusa o autor do argumento, Jorge Pinto.

“Amadeo – A vida e obra entre Amarante e Paris”, numa edição da Saída de Emergência, conta o percurso de Amadeo de Souza-Cardoso entre o campo e a cidade, entre o conservadorismo e o arrojo, entre finais do século XIX e os primeiros anos do século XX.

Jorge Pinto explicou que já tinha há uns anos a ideia de fazer uma banda desenhada com Eduardo Viana, com quem partilhava um blogue e afinidades políticas. Mas em 2016 decidiu-se por uma novela gráfica sobre Amadeo de Souza-Cardoso, depois de ter visto a exposição que o Grand Palais de Paris lhe dedicou.

“Senti quase uma obrigação de escrever o argumento depois de ter visto a exposição. Há vários artistas retratados em banda desenhada e não havia de Amadeo”, contou.

Para escrever o argumento, Jorge Pinto pesquisou sobre a vida de Amadeo de Souza-Cardoso, leu as cartas escritas para a família e para os amigos e informou-se mais sobre a vida em Amarante. Parte dos diálogos do livro são retirados da correspondência pessoal do pintor.

Jorge Pinto encontra ainda outras afinidades que reforçaram a ideia de fazer a banda desenhada. Nasceu em Amarante, em 1987, precisamente cem anos depois de Amadeo de Souza-Cardoso. Tal como o pintor, que emigrou para Paris, o argumentista emigrou para Bruxelas, onde vive e trabalha desde 2012.

“Ao ler as cartas cem anos depois revi-me completamente nas coisas que ele conta, sobre a luz de Amarante, sobre a vida no campo, sobre a saída do país. Esse sentimento não mudou em cem anos. Há sempre aquela coisa que atrai, mas também repulsa”, disse.

O que mais o atraiu na história de Amadeo de Souza-Cardoso foi o inconformismo, a vontade de viver. “Gosto dos paradoxos dele, por um lado conservador e por outro furioso no modo de viver”, afirmou.

Jorge Pinto, que admite ter feito uma biografia bastante linear, num formato clássico que tenta chegar a leitores mais novos e adultos, espera que o livro desperte mais pessoas para a vida e para a obra de Amadeo de Souza-Cardoso. “Tem havido uma redescoberta da obra dele, sobretudo na última década, em particular desde a grande exposição feita na Gulbenkian (em Lisboa)”, disse.

“Amadeo – A vida e obra entre Amarante e Paris” é a primeira obra de Jorge Pinto e de Eduardo Viana.

Jorge Pinto, 31 anos, é engenheiro ambiental numa organização europeia de controlo de tráfego aéreo em Bruxelas. Eduardo Viana, 33 anos, é formado em Arquitetura e Planeamento Urbano. Ambos participaram na formação do partido Livre.

O livro, que será apresentado este mês no festival AmadoraBD e em novembro em Amarante – onde se situa o Museu Municipal Amadeo de Souza-Cardoso -, conta ainda com um posfácio da curadora e historiadora de arte Helena de Freitas.

 

 

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