George Dambier

Visão de George Dambier sobre moda parisiense nos anos 1950 em mostra fotográfica em Lisboa

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Uma exposição fotográfica que mostra a visão singular do fotógrafo francês Georges Dambier sobre a alta-costura parisiense dos anos 1950, que inclui um núcleo dedicado a Portugal, abre ao público na sexta-feira, no Museu do Traje, em Lisboa.

“Viver a sua Vida, Georges Dambier e a Moda” é um projeto curatorial e editorial da historiadora e investigadora de Moda, Anabela Becho, em colaboração com os arquivos Georges Dambier Photos, que se insere no âmbito da Temporada Portugal-França 2022, e vai estar patente até dia 30 de outubro.

Em França, Georges Dambier (1925-2011) foi dos primeiros fotógrafos a tirar as manequins dos estúdios, abandonando as poses fixas e as atitudes estereotipadas, não descurando, contudo, uma execução exigente e primorosa.

Com o apoio de Hélène Lazareff, da revista ELLE, que lançou o conceito vanguardista de “fotógrafo-turista”, Georges Dambier veio a Portugal em 1957 para uma reportagem de moda, contextualizando as modelos nas paisagens e ambientes de lugares icónicos como Óbidos e Nazaré, lado a lado com a população local.

A exposição consiste num conjunto de 39 fotografias de manequins em diferentes contextos, 35 das quais dispostas na sala de exposições temporárias, um espaço austero, amplo e vazio, dedicado em exclusivo a mostrar o conjunto de fotos e o material fotográfico do artista.

As restantes quatro fotografias estão dispostas na sala de exposição permanente, partilhando o espaço com o espólio do museu, lançando “fios curatoriais” com as peças de roupa e acessórios expostos, sugerindo “ligações para o público descobrir”, disse Anabela Becho, numa visita guiada à imprensa.

“A ideia desta exposição foi focar o trabalho de George Dambier na moda, que era uma das principais indústrias de exportação de França, um país fragilizado pela guerra, no final dos anos 1940”, contou a curadora.

As fotografias expostas foram tiradas nos anos 1950, período conhecido como “L’Âge d’Or” (A idade de ouro), sendo o núcleo dedicado a Portugal o único que não contempla alta-costura, mas sim “o pronto-a-vestir, que foi o que veio cá ser fotografado”.

No geral, toda a exposição apresenta a visão de Georges Dambier de uma mulher livre e emancipada, longe do pressuposto de uma mulher-objeto, e inspira-se no cinema preconizado por Jean-Luc Godard, “roubando-lhe”, por isso, o título de um filme, “Vivre sa vie”.

“Um aspeto da marca autoral de Georges Dambier é a alta-costura em movimento e tem muito a ver com o espírito da ‘nouvelle vague’, de filmar Paris e os ambientes. Ele também fotografa de forma espontânea e em Paris, e a personagem feminina é muito importante no trabalho dele”, explicou Anabela Becho.

O projeto de fazer esta exposição – que deveria ter ocorrido em 2021, quando se assinalaram 10 anos da morte do fotógrafo, mas que não se concretizou devido à pandemia – nasceu no final de 2018, quando o filho de George Dambier, Guillaume, contactou Anabela Becho, porque encontrara fotografias, no arquivo do pai, feitas em Portugal.

“Procurei sítio e enquadramento. Entretanto surgiu a temporada Portugal-França e propuseram-me que a integrasse com a exposição”.

Segundo a curadora, o objetivo da mostra é refletir sobre o tempo e a memória na história da moda, mas durante a sua preparação, deparou-se com falta de informação relativa a cada imagem.

“Depois das fotografias procurei informação para construir várias camadas de memória”: os locais onde são feitas as fotografias, o criador que as manequins estão a vestir, a data exata, contou.

Anabela Becho apontou também a “importância do arquivo nas casas de alta-costura”, pois as peças fotografadas simplesmente não existem – de todas as representadas, só encontrou um casaco -, “a representação do vestuário está presente mais do que o próprio objeto”.

Anna Karina, Bettina, Brigitte Bardot, Capucine, Fiona Campbell-Walter, Françoise Dambier, Gigi e Suzy Parker são algumas das mulheres que animam as 39 fotografias selecionadas para a exposição, que é composta por seis núcleos temáticos.

O primeiro, “Espírito Couture”, simboliza a alta-costura e a idade de ouro da moda de Paris, num universo altamente codificado e hierarquizado, no qual os chapéus e as luvas tinham um papel preponderante.

Segue-se “Uma mulher na cidade”, núcleo que traduz a “disrupção que Georges Dambier introduz ao tirar os manequins do estúdio e fotografar na rua”, trazendo também algumas inovações técnicas como desfocar a manequim, em primeiro plano, focando o que está atrás.

“Real e Surreal: fotografia de moda, um universo entre realidade e fantasia” debruça-se sobre a ligação da moda ao cinema, apresentando fotos de moda que dialogam com as artes da representação, criando cenários assumidamente do universo cinematográfico e teatral.

O quarto núcleo intitula-se “Scénario: a fotografia de moda revelada” e é a “desconstrução dos bastidores da fotografia de moda”, mostrando modelos com ardósias na mão, nas quais estão inscritas as datas das reportagens e os nomes dos estilistas que as vestem.

Em “Convite à viagem: a moda no mundo segundo Georges Dambier”, encontra-se um conjunto de fotografias tiradas em diferentes destinos de viagem, como é o caso de Itália, Marrocos ou Espanha, que consubstanciam a introdução do conceito turista-fotógrafo.

O último núcleo, “Portugal, 1957”, apresenta um conjunto de nove fotografias com duas modelos, tiradas na Nazaré, em Óbidos e na Costa do Estoril.

Nestas fotos está bem patente a formação de Georges Dambier em pintura, pela composição e grafismo das imagens, destacou a curadora.

No âmbito da exposição, será editado um catálogo, que inclui reportagens e 124 imagens de arquivo, e no dia da inauguração realiza-se o colóquio “Moda e fotografia de moda através do olhar de Georges Dambier”, de entrada livre.

Em diálogo com ambos os eventos, Anabela Becho apresenta também a instalação sonora “Robe-fantôme”, que consiste na audição de uma narrativa sobre a presença da moda no museu e que decorrerá numa sala, iluminada apenas com luz ambiente.

É a palavra dita em complemento com a palavra escrita, destaca a curadora, assinalando a “presença muito forte da escrita” na exposição: “as legendas são grandes, centradas por baixo de cada fotografia. A legenda não é um mero acessório, tem presença, é importante, são camadas de memória”.

 

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