A História de Angola editada pela Chandeigne

A Éditions Chandeigne lança esta semana “Histoire de l’Angola (de 1820 à nos jours)”. Trata-se da tradução da mais recente obra do célebre historiador inglês David Birmingham, professor e africanista da Universidade de Kent, lançada em 2015 com o título “A short History of Modern Angola” e já traduzida para português pela Editora Guerra & Paz como “Breve História da Angola Moderna”.

David Birmingham começou a sua longa investigação sobre o Império Colonial Português em África em 1965 com a publicação pela Oxford University Press de “A conquista portuguesa de Angola”, tornando-se assim um pioneiro da historiografia angolana moderna, livre da visão eurocêntrica que contaminava a historiografia africana até então.

Este “Histoire de l’Angola” começa em 1820, dois anos antes da independência do Brasil, momento fulcral que afetou o futuro de todos os países que hoje falam português, pois forçou o Império com base em Lisboa, o primeiro Império global da História da humanidade, a transferir as suas ambições da América para África, especialmente Angola, tal como 200 anos antes as havia transferido da Ásia para o Brasil.

Portugal, após o fim das invasões napoleónicas, da Guerra Peninsular e do exílio do rei no Rio de Janeiro, entrou num momento de grandes convulsões que culminou na Guerra Civil de 1832-34 que opôs absolutistas e liberais, terminando com a construção da monarquia constitucional que durou até 1910. Durante esses 100 anos, em Angola, a colonização fez-se a todo o vapor.

David Birmingham começa por falar de Luanda, da região de Ambaca e de todo o norte. Analisa, depois, o aumento exponencial da presença de colonos brancos a partir de 1890. Embora sendo um livro sobre a História nacional de Angola, o autor inevitavelmente liga os destinos deste país lusófono à política externa portuguesa que oscila ao longo de todo o século XX até 1975, nomeadamente durante a Primeira República/Grande Guerra e o Estado Novo/Segunda Guerra Mundial/Guerra Fria.

Esse intensificar da colonização através do envio de colonos brancos e do agravamento das políticas de segregação racial levarão ao despertar do nacionalismo independentista que, no contexto da Guerra Fria, desembocará na Guerra Colonial.

Após 13 anos de massacres perpetrados pelo exército português às ordens de Salazar e Marcelo Caetano, o autor analisa a História da Angola independente, dando vital importância à Guerra Civil entre as forças do MPLA e da UNITA, também ela uma excrescência da Guerra Fria.

David Birmingham dedica poucas páginas à Angola do pós-guerra, referindo que as “instituições políticas angolanas” do início do século XXI e as suas “práticas administrativas são as infelizes descendentes diretas do Estado policial fundado 100 anos antes durante o período colonial”.

Neste livro, David Birmingham consegue mostrar ao leitor a multiplicidade de fatores que contribuíram para construir uma colónia vital para o Império, mas que ainda persistem e deterioram a História pós-colonial angolana.