LusoJornal / LSG

Aqui também é Portugal

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2020: As imagens são de Luís Gonçalves. Imagens belas… são do tempo presente, imagens do inverno na Flandres, imagens de fevereiro, imagens de um dia 10, são 15 horas em Richebourg, no Cemitério Militar Português.

Em toda esta beleza, algo é invisível: a dor, o heroísmo do presente… a dor, o heroísmo do passado…

 

Jaime Cortesão, em “Memórias da Grande Guerra 1916-1919”, editado em 1919, escreveu no capítulo sobre o “Esgalhado” a 20 de janeiro de 1918: “Da última vez que o batalhão veio pr’às trinchas, a pé, duma distância de oito léguas, aconteceu que os soldados tiveram de palmilhar as longas estradas, açoitados por uma tempestade de neve. O vento era fio e ponta, como naifa. E as lufadas dos flocos alvos batiam a cara, cegavam os olhos. Para o fim, os soldados, sob a pesada tralha das mochilas e espingardas iam exaustos, abatidos, os pés em ferida e os ombros cortados pelas correias, em carne viva”.

Mais à frente, em fevereiro de 1918, Jaime Cortesão, no capítulo “Os que endoidecem”, escreve: “Há pouco tempo trouxeram para aqui um soldado que tinha caído na neve. Não dizia palavra. Nem se tinha de pé. Parecia um farrapo. Na cara branca, macerada pela dor, os olhos fitavam-lhe para além, seguiam qualquer coisa agudamente, sem despregar. Sentavam-se e ficavam para ali… e cada um refugia-se no seu íntimo. Hoje, por exemplo, vieram cartas de Portugal. Tenho aqui uma. Cai a tarde. É lusco-fusco. À volta, na terra, as árvores despidas e hirtas do inverno”.

E lá mais para o fim do livro: “A batalha de La Lys”: “Há-os sacudidos de vómitos brancos, intermináveis. – Da minha bateria escapei só eu, – diz um. E aquele que está sentado, com a cabeça entre as mãos e os olhos perdidos, repete com voz cava, falando consigo: Foi o Alcácer-Quibir do C.E.P…”

 

Cento e dois anos volvidos…

Esquecidos?

Aqui lembrados.

Aqui sepultados.

Aqui cobertos pela branquidão

Aqui Igreja de Santa Engrácia?

Aqui Roma e Pavia, que não se fizeram num dia?

Aqui pedimos: levantem pedras

Aqui façam surgir nomes

Aqui surja o novo,

Aqui surja o belo

Aqui surja o invisível

Aqui honremos

Aqui nos honremos

Aqui denhamos prova de que sempre nos levantaremos

Aqui tão perto, aqui tão longe

Aqui também é Portugal

 

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