Capa de S. Martinho: Há gestos de solidariedade que enchem o mundo…

São Martinho de Tours, é comemorado liturgicamente a 11 de novembro. Em Portugal, bom número de freguesias, aldeias e quintas dão pelo seu nome. Predomina a ideia de que é ele o “padroeiro” do vinho, o mesmo acontecendo em Inglaterra e na Europa Central, criando-se à sua sombra, costumes pouco “católicos”.

Nada autoriza julgar S. Martinho, um amigo do sumo fermentado das uvas. Os magustos e outras manifestações folclóricas mais ou menos avinhadas, explicam-se apenas e só, pela coincidência da festa do Santo com a época da prova dos vinhos.

A Igreja não é contra a religiosidade popular, mas deseja-a limpa de todas as adjacências pagãs.

 

Costuma o nosso povo dizer: “Pelo São Martinho prova o teu vinho”. Ou ainda: “Pelo São Martinho mata o porquinho e prova o teu vinho”.

Abundam as festas e outras manifestações populares. Em Portugal, mas também pelo Mundo… As Comunidades portuguesas, organizam-se e realizam grandes magustos, castanha assada e “água-pé”, da boa. Há festa e alegria, pelo São Martinho, comem-se as castanhas e prova-se o vinho!…

Provar é um conselho discreto, não é beber até cair. Estes dizeres populares envolvem a festividade do Santo numa atmosfera de simpatia igualmente popular.

São Martinho é sobretudo conhecido pelo facto singular que marcou a sua vida e talvez a sua vocação de clérigo e bispo de Tours, em França.

Era um cavaleiro romano, nascido na Dalmácia, e que andava pelas Gálias, pelos caminhos de César, provavelmente em funções oficiais.

Um dia ao aproximar-se de Tours, em tempo gelado, viu na berma do caminho, encolhido contra um arbusto, um mendigo tiritar. De cima da montada quis abrir com ele um diálogo, mas o mendigo, a bater o dente, não se fazia ouvir. Martinho desceu então do cavalo, sacou o espalhadão de ferro, tirou a capa e, com certo espalhafato, em dois golpes cortou-a a meio. A seguir, deixando uma parte sobre o cavalo, dirigiu-se ao pobre com a outra. Embrulhou-o nela, com palavras de ânimo e um abraço de comiseração. Cobrindo-se com a outra metade da capa, volta a montar e desaparece.

Naquele tempo, Tours era um pequena vilória de casas apagadas. O mendigo entrou no povoado e era só contar, olhos cheios de espanto, o que lhe acontecera. Entretanto Martinho recebeu do gesto virtuoso, o amor pela pobreza e quis realizá-lo em si mesmo. Convertido à fé de Cristo, veio a ordenar-se, a convite do próprio Jesus de Nazaré, que lhe terá aparecido vestido com a capa que havia dado ao mendigo – conta a lenda.

Há gestos de solidariedade que enchem o mundo! Quantas vezes passamos ao lado, ignoramos, por conveniência, alguém que precisa da nossa atenção, do nosso apoio, da nossa presença, mesmo que por alguns momentos… Quantas vezes, na base de um cego egoísmo, recusamos um sorriso, uma palavra amiga, um conselho, um gesto de aproximação, de entendimento e de aceitação do outro…

Precisamos da capa de S. Martinho. A capa que pode socorrer e aliviar a dor e a dificuldade… Há tanta gente a precisar de nós!… Possa o exemplo do Santo ajudar-nos a ser mais vigilantes e atentos aos “mendigos” do nosso tempo…