Eça de Queirós: “La vie extravagante de Fradique Mendes” nas livrarias francesas

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Em Portugal, por estes dias de polémicas estéreis exponenciadas por aquelas fábricas de indignação que são as redes sociais, leva-se a cabo um debate sobre o alegado racismo presente na grande obra da literatura oitocentista portuguesa, “Os Maias”, de Eça de Queirós.

Imune a essas discussões mais ao menos excêntricas, a editora Chandeigne mantém-se na vereda de publicar as obras queirosianas, sendo que este mês acaba de chegar às livrarias francesas “La vie extravagante de Fradique Mendes” graças à imaculada tradução de Marie-Hélène Piwnik.

Esta obra póstuma de Eça de Queirós, conhecida por qualquer aluno do secundário em Portugal como “A Correspondência de Fradique Mendes”, apresenta as epístolas deixadas por essa extraordinária personagem fictícia que dá pelo nome de Fradique Mendes, um “homem distinto, poeta, viajante, filósofo nas horas vagas, diletante e voluptuoso” que, tal como qualquer membro da elite do seu tempo que se preze, vive entre Lisboa e Paris, tuteando os grandes intelectuais e artistas da época, tais como Theophile Gautier, Leconte de Lisle, Baudelaire…

Esta espécie de romance epistolar, algo experimental, pairando ali sobre as fronteiras entre vários géneros, dá-nos o melhor Eça, aquele, como diz a editora, capaz de “captar e revelar maravilhosamente os ares do seu tempo”. A figura de Fradique Mendes dá também azo à especulação. Será ele um heterónimo de Eça? Ter-se-á o próprio escritor escondido atrás de Fradique?

A obra começa pela biografia de Carlos Fradique Mendes – que “pertencia a uma velha e rica família dos Açores” – escrita pelo seu melhor amigo pouco depois da sua morte. “A minha intimidade com Fradique Mendes”, diz o narrador, “começou em 1880, em Paris, pela Páscoa, – justamente na semana em que ele regressara da sua viagem à África Austral”. Ele passou pelo mundo “sem deixar outros vestígios da formidável atividade do seu ser pensante além daqueles que por longos anos espalhou, à maneira do sábio antigo, em conversas com que se deleitava, à tarde, sob os plátanos do seu jardim, ou em cartas, que eram ainda conversas naturais com os amigos”.

Esta abertura revela logo o perfil do “biografado”: um dândi, o perfeito retrato da burguesia endinheirada e cosmopolita lisboeta.

A essa biografia seguem-se vinte e quatro cartas, umas endereçadas a personagens reais, todas elas amigas de Eça de Queirós, e outras a personagens fictícias. E a diversidade de temas impressiona, indo o autor das futilidades da moda às densas profundezas da filosofia e da religião, tudo bem condimentado pela tradicional ironia queirosiana e por um humor fino que não passará despercebido.

Uma leitura que nunca passará de moda.

 

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