Há uma História da Filosofia no Brasil?: “Le Discours et l’Histoire: la Philosophie au Brésil au dix-neuvième siècle”, de Júlio Canhada

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A questão parecerá bizantina, mas é essencial: há filosofia do Brasil ou apenas filosofia no Brasil? Esta pergunta consiste na premissa essencial do trabalho do investigador brasileiro Júlio Canhada que acaba de ser publicado em França pela L’Harmattan.

“Le Discours et l’Histoire: la Philosophie au Brésil au dix-neuvième siècle”, publicado no Brasil com o título “O discurso e a história: a filosofia no Brasil no século XIX” pela Edições Loyola, parte do doutoramento do autor e conclui, segundo as palavras de Marilena Chaui, autora do prefácio, “que a produção filosófica brasileira do século XIX não é uma receção cega de ideias europeias, contra muitas das quais os autores se erguem criticamente, e sim elaborações originais, nascidas das perspetivas de pensamento dos próprios autores, que interpretam a tradição filosófica europeia e as filosofias suas contemporâneas, as incorporam com modificações ou a elas se opõem”.

Júlio Canhada considera que a ideia de “filosofia nacional” no Brasil, tem data de nascimento, e ela coincide com a data de independência do Brasil, em 1822, quando, óbvia consequência das invasões francesas de Portugal e da partida da corte portuguesa para os trópicas, caso único na História Moderna, esta transladação da elite de uma metrópole europeia para uma colónia noutro continente. A independência do Brasil provocou então uma nova preocupação no seio dos intelectuais brasileiros: a questão da nação.

“Se considerarmos, portanto, esse sentido, nacionalista, de filosofia brasileira”, diz Júlio Canhada em entrevista ao Instauratio Magna, “ela existe desde que se tornou disponível entre os intelectuais a categoria de nação no pós-independência”. O autor ressalva, contudo, “não quero dizer com isso que não havia textos de filosofia produzidos neste território durante a colónia: quero apenas marcar que, em sua produção e circulação, não operava a categoria de nação como depois da Independência viria a ocorrer”.

Júlio Canhada considera, apesar de se falar em “filosofia nacional”, abordagem “nacionalista” típica de Oitocentos, que a “ideia de unidade nacional é perniciosa, porque transforma a “nação” em uma categoria totalizadora que apaga diferenças de classe, de género, de raça e diferenças regionais”. O autor não considera existir unidade naquilo que se convencionou serem as filosofias modernas mais relevantes, como a francesa ou a alemã. “O que ocorreu foi que essas filosofias serviram a projetos nacionais que as construíram enquanto filosofias pretensamente unitárias e nacionais, aqui há também um jogo geopolítico que sobredetermina as representações de uma filosofia enquanto nacional”.

“Le Discours et l’Histoire: la Philosophie au Brésil au dix-neuvième siècle” é uma obra essencial para quem quiser ir além do preconceito de que as antigas colónias europeias, no que diz respeito à Filosofia, não passam de meros recetáculos das ideias oriundas da Filosofia europeia. “Há filosofia no Brasil? Sim. Há uma história da filosofia no Brasil? Sim”.

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