Helena Batista diz que lesados do BES é uma “mancha negra” na emigração

O caso dos emigrantes lesados do BES é uma “mancha negra” na emigração e no sistema bancário português, diz ao LusoJornal a Vice-Presidente da AMELP, a associação dos emigrantes lesados do BES, Helena Batista.

A AMELP representa cerca de 600 dos 8.000 emigrantes lesados, abrangendo mais de 750 milhões de euros.

Os emigrantes alegadamente fizeram depósitos a prazo no então Banco Espírito Santos (BES), mas com a falência do banco, afinal aperceberam-se que tinham investido em produtos financeiros. Foi como se tivessem jogado na Bolsa. Só que quem aposta na Bolsa fá-lo consciente dos riscos que está a correr e, neste caso, os emigrantes argumentam desconhecer que tinham comprado produtos financeiros.

Dos muitos processos por crime contra o banco, nenhum chegou a julgamento, segundo Helena Batista. Restava pois a luta e a criação da associação, em 2015, surge para conseguir recuperar pelo menos os depósitos que tinham sido feitos.

Em 2015 o Novo Banco fez uma primeira proposta que tinha maturidade entre 2049 e 2051. “Isto é, as pessoas só iriam receber esse dinheiro em 2051 se ainda fossem vivas, senão davam a morada do cemitério” diz Helena Batista. “Nós discordámos completamente e foi aí que começou a nossa luta”. Mas a maioria dos lesados teria assinado esse primeiro acordo.

Entretanto, a associação conseguiu uma nova proposta que atinge 75%. Os clientes lesados receberam um primeiro pagamento, durante três anos recebem mais 5% e quem quiser chegar aos 5 anos, recebe mais 1% por ano, segundo explicou ao LusoJornal a vice-Presidente da AMELP.

Mas esta proposta ainda não convém à AMELP. “Ninguém vai depositar dinheiro no banco para levantar apenas 75%” diz na “Entrevista Live” realizada esta semana. “Um dos produtos chegou mesmo a 94%. É um produto com uma mais valia, mas infelizmente não é o produto com mais clientes”.

Muitos dos lesados comentaram a entrevista nas páginas do LusoJornal e argumentam que a associação cedeu à proposta dos 75% em vez de exigir 100% do depósito. “Nós queríamos 100%, claro. Eu sei que é difícil aceitar 75%. Quando depositámos dinheiro no banco era para retirar todo esse dinheiro e não apenas uma parte”.

Mas os assessores jurídicos da AMELP ainda acreditam na possibilidade de recuperar os 100% dos depósitos feitos, recorrendo aos 31,7% da Comissão liquidatária.

 

Dois produtos ainda sem solução

Os emigrantes lesados do BES representam cerca de 8.000 clientes, com 12.000 contas e um universo de cerca de 750 milhões de euros. Mas os clientes do produto Euro Aforo 10 ainda estão sem solução. Trata-se de cerca de 500 clientes com depósitos que ascendem a 71,3 milhões de euros. São 71,3 milhões de ficaram perdidos, para o qual o banco não propõe nenhuma solução.

Quanto ao produto EG Premium, que representa 586 lesados, com depósitos na ordem dos 74,9 milhões de euros, a proposta do Novo Banco é de recuperar 47% destes montantes.

Helena Batista diz que esta situação causou muitos danos colaterais gravíssimos, muitos divórcios, “ainda no ano passado, na região de Paris, houve um senhor que matou a mulher por causa disso” disse ao LusoJornal a Vice-Presidente da AMELP. “Costuma dizer-se que em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”.

No início, a luta fez-se na rua, até que a associação conseguisse instituir um diálogo com o Novo Banco. Ainda há quem queira regressar às manifestações de rua, aliás há notícias ainda não confirmadas da criação de uma nova associação, com o objetivo de recuperar 100% dos depósitos. “Nós lutámos na rua, como aliás o LusoJornal acompanhou, enquanto não tivemos a possibilidade de dialogar com alguém, de nos sentarmos à mesa das negociações. A partir do momento em que nós começámos a dialogar, nós não podíamos ir sentar-nos à mesa com responsáveis do Governo ou do Novo Banco e depois irmos para a rua insultá-los” explica Helena Batista.

 

A luta continua

“Eu sei que muitas vezes fomos a várias reuniões e fomos enganados, sabíamos que estavam a mentir, saímos com esse sentimento. Apanhava o avião para Paris e sabia bem que naquele dia não deu nada, mas eu não podia dizer isso na cara das pessoas, eu tinha de engolir sapos, eu e os meus colegas, e tentarmos conseguir uma próxima reunião, para ter a possibilidade de continuarmos a dialogar, a lutar pelos nossos direitos”.

Helena Batista considera que, “do ponto de vista da diplomacia, nós devemos agradecer ao Governo, porque foi ele que nos permitiu de começar a dialogar com o Novo Banco. Mas do ponto de vista financeiro, não temos nada a agradecer ao Governo, porque o Governo não pôs nenhum dinheiro para os emigrantes lesados do BES. O Governo sabe o que nós queremos, tem estado ao nosso lado nas reuniões com o Novo Banco. Espero que o Governo não vá só às reuniões para tirar apontamentos”.

A situação de pandemia de Covid-19 veio perturbar o plano da AMELP. “Tínhamos reuniões marcadas que acabaram por ser adiadas. Esperamos em breve retomar as negociações” diz Helena Batista.

Os lesados do BES apresentaram recentemente um novo processo alegando “danos morais” sobre os bens de Ricardo Salgado e de outros Administradores do BES, que foram arrestados, e que ascendem a 1.800 milhões de euros, em casas, carros, obras de arte,…

Helena Batista espera mais compreensão por parte do Presidente do Novo Banco, António Ramalho, para compensar as pessoas que foram “burladas” pelo BES. “Os emigrantes tinham confiado esse dinheiro ao banco, para ajudar a economia do país, e não era para ir acabar não sei onde. São pessoas que trabalharam toda a vida muito duro, foram porteiros, trabalharam nos trabalhos públicos, sabemos muito bem que a maioria das pessoas já tem uma certa idade, são pessoas que viveram no bairro da lata em Champigny e agora, no fim da vida deles, ficaram sem nada”.

 

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