“L’Afrique et le Brésil face à l’imposture identitaire”, de Jonuel Gonçalves – O discurso identitário como retrocesso civilizacional

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O economista angolano Jonuel Gonçalves acaba de publicar em França “L’Afrique et le Brésil face à l’imposture identitaire”, obra editada pela Le Poisson Volant Éditeur.

Esta obra, também publicada em Portugal pela Guerra & Paz com o título “África no Mundo, Livre das Imposturas Identitárias”, visa desconstruir as “teorias” identitárias que, tal como há 100 anos, procuram dividir a humanidade em grupos, antes em “raças”, agora em “identidades”, que se confrontam, não só no campo político ou económico, mas também no campo cultural, dando azo ao “racismo cultural”, substituo contemporâneo do “racismo biológico” que gangrenou a sociedade europeia até à Segunda Guerra Mundial e ao fim dos devaneios eugenistas do nazi-fascismo. Os discursos identitários, esses ataques frontais à cooperação e à paz, são, segundo o autor, “ideologias amplamente fundadas em estereótipos e empenhadas na atribuição de centralidade às fronteiras (geográficas, raciais ou mentais, nacionais ou locais, às vezes até de simples bairros) que, no caso africano, têm a particularidade de terem sido fixadas ou induzidas pelo maior inimigo histórico do continente: o colonialismo”.

O autor coloca estas ideologias identitárias disfarçadas de “teorias científicas”, e quase sempre adotadas pela direita, seja ela conservadora ou extrema, no campo dos inimigos da cidadania e do humanismo. “A identidade”, diz Jonuel Gonçalves, “é o argumento de uma feroz vontade de poder em circuito fechado na Europa, nos Estados Unidos e em grande parte da Ásia”. Já em África, o autor salienta que o discurso identitário “funciona como compensação imaginária pelas frustrações, derrotas seculares, ou virou eixo de aproveitamento por governos repressivos”.

Neste pequeno ensaio, Jonuel Gonçalves salienta as afinidades históricas entre África e Brasil, sendo ambos confrontados com propostas identitárias que prejudicam os respetivos percursos rumo a uma consolidação democrática e ao estabelecimento de modelos de desenvolvimento sustentável.

O autor chega a estas conclusões através dos discursos e práticas dos defensores de políticas identitárias à escala global e, sobretudo, através da observação dos países de língua portuguesa, em particular Brasil, Angola, Cabo Verde e mesmo Portugal, fazendo destes territórios lusófonos autênticos casos de estudo.

África e Brasil estão no centro da economia mundial graças à sua capacidade exportadora de matérias-primas, embora, menos paradoxalmente do que parece, estejam também na origem de grandes fluxos migratórios na direção, nomeadamente da Europa. Ironicamente, essas saídas de africanos e brasileiros dos seus países são consequência de políticas identitárias locais – ver o caso do antigo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro – que vêm alimentar na Europa uma reação também ela identitária, contra o acolhimento, por exemplo de refugiados.

Uma guerra entre “identidades” que fomenta a competição e não a cooperação entre os povos, sendo esta última essencial dado vivermos um momento de charneira civilizacional provocado pela tragédia climática. O discurso identitário associado à emergência climática poderá significar o fim da História.

 

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