Legislativas: Entrevista com Carlos Gonçalves, candidato pelo PSD

Carlos Gonçalves tem 57 anos e volta a ser o candidato do PSD pelo círculo eleitoral da Europa, porque já ocupa há várias legislaturas. Chegou mesmo a ser Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, no curto Governo de Pedro Santana Lopes. Mora em Ormesson-sur-Marne e trabalhava no então Consulado de Portugal em Nogent-sur-Marne, entretanto encerrado. Por isso, faz parte dos quadros do Consulado Geral de Portugal em Paris.

Já não vale a pena apresentá-lo porque as pessoas já o conhecem bem. Mas faça-me um balanço deste seu último mandato.

Divido este balanço em duas partes. Para além de ser Deputado, sou o Vice-Presidente da Comissão dos Negócios Estrangeiros na Assembleia da República e como Deputado eleito pela emigração, estive ligado a um conjunto de iniciativas parlamentares, vários Projetos de lei, para tentar que na Assembleia da República pudéssemos aprovar um conjunto de legislação que nós entendemos positiva para os Portugueses que residem no estrangeiro. Há uma que teve mais eco, que o PSD apresentou, e que foi a questão do recenseamento automático. Apresentámos depois um conjunto de alterações das Leis eleitorais, propondo a harmonização da metodologia de voto para todas as eleições, a possibilidade também de associar o voto postal ao voto presencial em todas as eleições, o que acabou por ser apenas para as eleições legislativas. Esta questão do voto presencial é particularmente interessante para alguns países, para as pessoas puderem inscrever-se para irem votar presencialmente, estou a falar de países africanos, Venezuela e Brasil. A proposta de fazer um estudo sobre a viabilidade do voto eletrónico online, também foi chumbada, assim como Projetos de leis que têm a ver com associativismo, igualdade de género e descriminação, sobre a questão do investimento, sobre jovens, enfim apresentei um grande número de iniciativas, uma grande parte delas acabaram por não ser aprovadas na Assembleia da República, e apresentamos também vários projetos de Resolução.

Porque disse que o mandato estava dividido em duas partes?

Porque, para além da componente das Comunidades portuguesas, em que tive muita atividade, basta verificar no site da Assembleia da República, eu assumi a Coordenação do Grupo parlamentar do PSD na Comissão dos Negócios Estrangeiros, em março de 2018. Aquilo que acho que foi interessante é que, coordenando uma área tão importante para o país como a área dos assuntos europeus, foi o facto de eu ter conseguido levar para a Comissão dos Negócios Estrangeiros, temáticas das Comunidades. O Parlamento português – percebi isso quando lá cheguei – não é sensível ao facto do espaço europeu, fora do território nacional, viverem vários milhares de Portugueses. Acho que na Comissão dos Assuntos europeus, há um conjunto de matérias que eventualmente poderá abordar, uma delas, por exemplo, que acabou por ocupar muito espaço de discussão é a saída do Reino Unido da União europeia e as consequências para a nossa Comunidade. É importante porque tudo o que tem a ver com legislação europeia passa por aquela Comissão e não passa pela Comissão dos negócios estrangeiros. Penso que dei um contributo muito grande ao levar para aquela Comissão, temáticas que habitualmente não são tratadas ali, quando é ali que se debatem aquelas que são as questões da União europeia.

Depois tive um trabalho de muita proximidade com os Portugueses residentes no estrangeiro, potenciando algumas daquelas que são as maiores valências, refiro-me precisamente a uma matéria que dei uma atenção específica neste mandado que foi a questão dos luso-eleitos, parece-me uma dinâmica de enorme importância. A França já tem alguma história nesta matéria, mas temos num conjunto de países europeus onde começam a despontar um conjunto de figuras da nossa Comunidade. O facto de haver figuras da nossa Comunidade implicados na política local é uma forma de incentivar também a nossa Comunidade para a participação cívica seja no país de acolhimento, seja em Portugal. Esta foi uma matéria que me foi muito cara.

Outra coisa: tive a oportunidade, enquanto parlamentar, e até em iniciativas do PSD, de lembrar que é necessário repensar o país naquilo que é a sua organização territorial no que diz respeito aos territórios de baixa densidade, estou a falar dos territórios do interior do país em que Portugal tem de contar com os que estão fora e não podemos estar a definir políticas para esses territórios sem contar com aqueles que estão no estrangeiro.

Depois há um conjunto de medidas ligadas ao associativismo, questões do atendimento consular e um conjunto de matérias que são redundantes e que não inovam muito porque as pessoas que acompanham as políticas das Comunidades portuguesas têm cinco ou seis áreas estruturais que, de campanha para campanha se voltam a repetir como as questões do ensino do português, as questões novas que despontaram de forma mais preocupante como por exemplo alguns serviços em Portugal que se relacionam com a administração consular no estrangeiro que é o Centro nacional de pensões que está numa situação dramática com consequências muito graves para os Portugueses que residem no estrangeiro. Eu próprio chamei o Ministro da Segurança Social à Assembleia da República para tratar desta questão, a Ministra da Justiça também foi chamada para uma matéria que tem muito a ver com questões relacionadas com nacionalidade porque há cerca de 40 mil processos atrasados. A questão da Conservatória dos registos centrais que é uma matéria que tem criado enormes problemas a muitas Comunidades porque os próprios Consulados não podem muitas vezes dar andamento a uma série de processos porque a Conservatória dos registos centrais não acompanha da forma como devia acompanhar.

Continua a ser o Presidente do Grupo parlamentar de Amizade Portugal França?

Sim, sou, e tenho algumas dificuldades em aceitar as decisões que foram tomadas em França no quadro da reforma do BAC, que retirou o estatuto à língua portuguesa, que não lhe permite hoje estar ao mesmo nível de outras línguas. Não têm a mesma dimensão do português, até em termos de falantes em França, como é o caso do italiano e do alemão. Aceito que em relação ao espanhol e ao inglês, o português tenha mais dificuldades de se impor, mas o italiano e o alemão… Enfim, há sempre muita coisa para fazer, mas desta vez com uma nova abertura, já que foi extremamente interessante fazer valer aquele que era o meu propósito, que era, porque não discutir a questão das Comunidades portuguesas na Comissão dos assuntos europeus? Isto levou o Ministro Augusto Santos Silva, numa das audições regimentais a ter que dizer – e isto está no Diário da República – que, da próxima vez tinha de trazer o Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas porque a Comissão dos assuntos europeus também quer tratar esta matéria e tem de a discutir. É do que me congratulo. Acho que valeu a pena o meu investimento.

 

LusoJornal / António Borga

Nestes 4 anos, houve mudança interna na presidência do PSD, integrou a Comissão de honra e apoiou a candidatura de Pedro Santana Lopes. Já conseguiu fazer as pazes com Rui Rio?

Eu nunca tive qualquer problema com o Dr. Rui Rio porque o conheço há muitos anos. Até foi o LusoJornal que publicou uma notícia em que eu chamava a atenção que estava confrontado com uma situação interessante porque tinha um candidato que me escolheu para Secretário de Estado das Comunidades, Pedro Santana Lopes, que entretanto saiu do PSD, mas que me pediu para o apoiar, e tinha do outro lado um candidato que era o Dr. Rui Rio, que tinha sido Secretário Geral Adjunto, e com quem conseguimos alterar um conjunto de regulamentos internos que permitiram às Comunidades portuguesas ter outro tipo de representação no Partido, sobretudo os atos eleitorais para o Conselho Nacional ficaram definitivamente regularizados em termos de orgânica. Isso foi feito no tempo dele. Eu tinha a escolha entre dois candidatos, um que me escolheu para membro do Governo e outro com quem tinha trabalhado a um dado momento e que, provavelmente, se não fossem aquelas alterações nos regulamentos internos do Partido eu nunca tinha chegado a Deputado porque nunca tinha tido peso político. Estava um tanto ou quanto dividido, mas apoiei o Dr. Pedro Santana Lopes. Não foi a primeira vez que apoiei um líder que perde as eleições internas. As pessoas quando fazem política devem tomar posições.

Não pensou acompanhar Pedro Santana Lopes na aventura do Aliança?

Não. Não fui convidado e também não seria convidado. Não vejo porque razão havia de mudar de Partido só porque perdi uma eleição interna. A partir do momento em que se perde a eleição interna e em que deixei de assumir os cargos que tinha no Partido no plano interno, continuei a ser parlamentar e até fui convidado para Coordenador do Grupo parlamentar do PSD para a Comissão dos assuntos europeus, já depois de ter perdido as eleições internas.

Mas Rui Rio não tem tido uma ação muito próxima em relação às Comunidades. Pelo menos não o tem mostrado. Ninguém na Direção do Partido segue estas questões…

O Dr. Rui Rio fez duas deslocações às Comunidades portuguesas enquanto Presidente do PSD. Fora da Europa foi ao Brasil, uma Comunidade importante. Na Europa foi àquela Comunidade que nós entendíamos que tinha mais problemas e onde poderia ser mais útil, que é a do Reino Unido. Ainda esta semana estive em Londres e me referiam que ainda bem que o Dr. Rui Rio foi lá porque a partir daquele dia a comunicação social foi lá fazer algum trabalho de investigação e aquilo começou a mexer devagarinho. O líder do Partido tem uma agenda complicada porque é líder da Oposição, quer dizer que está só, não tem Governo para fazer um conjunto de trabalhos. Acho que disponibilizar duas semanas de trabalho para ir às Comunidades portuguesas, independentemente de outros momentos que tivemos, parece-me muito importante. A pergunta que deixa no ar e que eu percebo, é que durante muito tempo toda a gente dizia que eu não ia ser candidato a Deputado, até porque eu próprio entendia que, face ao que aconteceu no resultado da eleição interna, sabendo como estas lógicas funcionam, não escondo que não estava a pensar ser candidato, mas o Dr. Rui Rio, surpreendendo tudo e todos, acabou por me convidar e apresento-me mais uma vez como candidato a Deputado. Mas repito que com o Dr. Rui Rio nunca tive qualquer tipo de problema. Mas as máquinas partidárias são sempre máquinas e todos aqueles que fazem política sabem que são máquinas complicadas e quando se perde, em democracia,… temos de perceber que se perdeu.

LusoJornal / António Borga

Li o manifesto e um dos primeiros pontos é a criação de um Ministério das Comunidades. Essa já era uma promessa do candidato Durão Barroso que acabou por nunca ser cumprida.

Não, não era a mesma promessa. Com Durão Barroso tratava-se da criação de um Ministro Adjunto para as Comunidades. Toda a gente sabe, pelo menos aqueles que acompanharam esta matéria, sem dizer que fui eu que tive a ideia, era daqueles que mais a defendia. Depois, na formação do Governo, e nas relações entre o Presidente da República e o Primeiro Ministro indigitado, aparentemente ter-se-á chegado à conclusão que era difícil de vencer um conjunto de obstáculos com a existência de um Ministro Adjunto das Comunidades e o Ministro dos Negócios Estrangeiros. Havia obstáculos não apenas de outros membros do Governo, mas também do Presidente da República sobre essa questão. Por isso foi criada uma solução alternativa: o Ministério dos Negócios Estrangeiros passou a ser Ministério dos Negócios Estrangeiros e das Comunidades Portuguesas. Era para que a área das Comunidades portuguesas, no seio do Ministério dos Negócios Estrangeiros não fosse a área com menos influência. Repare, no protocolo, o primeiro Secretário de Estado é o dos Negócios Estrangeiros, depois o dos Assuntos Europeus e só depois o das Comunidades. Na altura até diziam que eu queria era ser Ministro! Eu fui Secretário de Estado uns anos depois, mas nunca imaginava entrar no Governo. Esta nossa proposta agora, é completamente diferente.

Então explique melhor esta vossa proposta.

O fenómeno migratório hoje está generalizado, não só migratório no sentido que às vezes vemos na televisão com um conjunto de situações gravíssimas, mas há uma mobilidade muito grande, muito particularmente no espaço europeu. Nós lançámos ainda na nossa governação, algum trabalho aproximando instituições relacionadas com a imigração para trabalharem também com as Comunidades portuguesas, porque há problemas por vezes similares. Portanto propomos criar um Ministério que comporte as questões das Comunidades, as questões migratórias e as questões da lusofonia, porque são três áreas que estão relacionadas. Agora isto não pode nascer de um dia para o outro. O Ministério dos Negócios Estrangeiros é um Ministério com um pequeno orçamento, vai-se relacionando com os outros ministérios. A nossa proposta obriga que haja uma estrutura interministerial que permita criar as ligações necessárias, para que depois possa ser suficientemente coesa para avançar com a criação de um Ministério. Eu sei que esta é uma proposta ousada. Em Portugal há gente que gosta muito pouco destas coisas, até porque as questões das Comunidades portuguesas são questões relativamente marginais, basta ver o orçamento disponível para a área das Comunidades portuguesas para perceber que estamos a falar de quase um apêndice daquilo que é a governação em Portugal.

Mas esta promessa é estranha: diz que quer criar um Ministério, mas não é para já…

Estranha é que ela não é. Promessa seria se eu dissesse aqui que íamos criar um Ministério já. Isso seria uma promessa. Depois vão-me dizer que afinal as instituições não estão habituadas a trabalhar, pouco trabalharam juntas. As Comunidades portuguesas merecem uma outra visibilidade no plano nacional, temos hoje uma mobilidade de pessoas e a questão migratória é a questão central em praticamente todos os países da União europeia, nós somos os primeiros a pensar em matérias desta forma, mas temos tudo confinado no Ministério dos Negócios Estrangeiros. Quando às questões da Lusofonia, a França até tem um Ministério da Francofonia. É isto que nós queremos fazer, criar um grande Ministério onde estão as áreas com grande influência com tudo o que tem a ver com a parte exterior do país. Temos de fazer um trabalho que permita, ao fim de algum tempo, criar as condições para poder construir um Ministério, senão seria fazer a casa pelo telhado. A nossa promessa é de encarar esta realidade com coerência e procurar encontrar uma estrutura que permita a breve trecho a criação de um Ministério. Até para convencer aqueles que neste momento não estão convencidos, os mesmos que também não estão convencidos com o voto eletrónico, que diziam que era impossível que os Consulados pudessem emitir Bilhetes de Identidade e Passaporte, os mesmos que criaram mil problemas à instalação dos quiosques para as Permanências consulares, nós sabemos disto, agora temos de ter coragem de avançar para projetos que façam sair as Comunidades portuguesas deste paradigma. Eu falo com experiência porque fui Secretário de Estado das Comunidades. Repare, este Governo fez uma coisa notável, com a falta de projetos para apresentar, faz qualquer coisa para mostrar como é irrisória a sua ação. Com todo o respeito por todos os Secretários de Estado que por lá passaram, é a questão do contingente para o ensino superior. Venderam esta informação como se fosse uma coisa nova, eu até gostei desse momento porque eu tenho 57 anos e nos anos 80 beneficiei deste contingente para entrar no Instituto de Ciências Sociais e Políticas. Por isso isto não é uma coisa nova, é uma coisa que tem décadas.

Mas não estava a ser utilizado e este Governo divulgou-o.

No meu tempo, para além das vagas, tinha ainda de haver concurso. Eu recordo-me que fiquei em segundo lugar. Tinha de haver concurso porque não havia vagas suficientes para tanto emigrante que queria ir estudar para Portugal. Agora tentaram vender-nos isto como se fosse uma coisa nova, depois até se chegou à conclusão que, dos mais de 3.000 lugares, só havia 300 preenchidos. A falta de matéria para poder apresentar leva que o Governo tenha de repescar uma medida, que muita gente nem sabia que ela existia, para mostrar que está a fazer qualquer coisa.

Mas não acha que foi útil o trabalho de divulgação do Governo sobre esta matéria? Pelo menos mais pessoas ficaram a saber que o dispositivo existe e até aumentaram as inscrições.

Eu não estou a dizer isso. Isso é pôr as coisas ao contrário. A notícia foi vendida como se fosse uma novidade. Eu estive numa rádio em que disse precisamente isto que estou a dizer e foram confirmar.

Para o LusoJornal não foi nenhuma novidade. Aliás demos a informação que o dispositivo existe, tinha poucos candidatos e o Governo decidiu promover esta informação.

Mas foi assim que foi vendido. Eu estou a dizer isso para explicar que um Governo que procura dar como novidade uma matéria que tem décadas, que até um ex-Secretário de Estado beneficiou, eu acho que isto é a demonstração clara que a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas tem pouca capacidade de intervenção, a não ser em matérias que nós já conhecemos e até aí muito dependente de outros objetivos que tem o MNE. Ainda por cima tem uma forma de financiamento algo estranha porque muita dela é suportada pelo Fundo de Relações Internacionais (FRI) e que nós contestamos há muito tempo – aliás muita gente concorda com esta contestação. Portanto, é um Ministério com pouca verba, com pouca capacidade e ainda por cima, a Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas tem muita visibilidade porque tem muitas pessoas a viver no estrangeiro mas depois não tem os utensílios e os meios para poder fazer um conjunto de políticas verdadeiramente estruturantes.

Esta fraca força da Secretaria de Estado das Comunidades vem de longe. No seu Governo também era assim.

Eu estou a dizer isso mesmo. Tenho alguma legitimidade porque defendi logo o Ministro Adjunto e já várias vezes chamei a atenção para esta questão. Por isso mesmo é que se fizermos propostas para ficar tudo na mesma, não vale a pena. Os Portugueses hoje que têm Comunidades particularmente bem integradas na Europa, temos de aplicar políticas das Comunidades a realidades diferentes e temos de ter capacidade, com uma estrutura capaz de valorizar e potenciar esta nova realidade das Comunidades portuguesas. Da forma como a orgânica do Governo existe, com um Ministério dos Negócios Estrangeiros e uma Secretaria de Estado das Comunidades como ela está, tenho algumas dúvidas que haja meios suficientes para poder aproveitar, valorizar e potenciar aquilo que são hoje as Comunidades portuguesas.

LusoJornal / António Borga

O voto eletrónico aparece claramente na proposta eleitoral do PSD. Já não é um dado novo nas vossas propostas, mas no passado não conseguiu implementá-lo. Agora vai conseguir?

Lamento imenso, mas as coisas não podem ser colocadas assim. Há uma tentativa de desviar as atenções, de saber quem são os verdadeiros responsáveis por esta questão não ter evoluído. Eu tive a oportunidade, e o LusoJornal acompanhou na época, de fazer a única experiência para as eleições de 2005. Por acaso até foram os Conselheiros das Comunidades que me chamaram a atenção de que há estudos internacionais sobre o voto eletrónico e a experiência de Portugal, à qual eu estou associado, aparece lá como experiência original. Portugal até foi um dos primeiros países na Europa a testar o voto eletrónico. O problema é que muita gente em Portugal é contra, e eu entendo alguns dos argumentos, que têm a ver com a segurança, o sigilo,… mas as tecnologias foram claramente melhorando ao longo dos anos e permitiram, como é evidente, ter mais confiança, porque hoje os Portugueses e os Franceses praticam muitos atos de matéria fiscal e outros, que necessitam enormes medidas de segurança, e fazem-nos através de métodos online. Houve países que avançaram com tecnologia online, houve um exemplo que aparentemente era o melhor exemplo para aqueles que, como eu, defendiam a implementação do voto online: foi a França. A França implementou o voto online e as coisas até correram bem, mas nas últimas eleições Presidenciais, por questões técnicas, os Franceses foram obrigados, à última hora, a passar para o voto presencial. O Presidente Macron já prometeu no ano passado, em setembro, no decorrer do Fórum diplomático francês, que uma das promessas que tem, é instalar de novo o voto eletrónico online e nós estamos a acompanhar esta questão. Nós na última legislatura propusemos a obrigatoriedade de um estudo sobre o voto eletrónico online. O Governo tinha também uma proposta sobre o voto eletrónico e ficámos algo surpreendidos porque a nossa proposta foi chumbada. Afinal, depois ficamos a saber que para o Partido Socialista, o voto eletrónico que afinal foi aprovado na legislação, era o voto eletrónico na urna e que foi experimentado no Alentejo. Não era o voto eletrónico online. Foi uma surpresa negativa e portanto queremos claramente que esta matéria volte a ser discutida na Assembleia da República para que haja então um estudo, de forma a que, já na próxima legislatura, na minha opinião, poderá contar com a concretização da nova experiência francesa. Tem havido contributos de muita gente que defendem o voto eletrónico online, eu sei que as Comunidades portuguesas há muita gente em Portugal que receia o seu voto, têm medo por valer tanto por exemplo para as eleições presidenciais, que possam ter uma influência demasiado grande numa votação – como se em democracia se pudesse falar de influências – e portante têm muitas reticências, tanto para as eleições Presidenciais como para as Europeias. Para as Legislativas há menos receio porque os dois círculos eleitorais da Europa só elegem 4 Deputados. Digo ‘para já’ porque a luta pelo aumento dos Deputados é certamente uma das lutas que vamos ter pelo futuro.

Eu não vi esse aumento do número de Deputados pelos círculos da emigração no programa do PSD. No entanto, era uma proposta na última campanha. Porque razão desapareceu do programa?

Não vê porque o Dr. Rui Rio apresenta uma proposta mais alargada, com a redução do número de Deputados e até com uma proposta para a criação de círculos mais pequenos. Portanto é uma proposta que, analisada, poderá certamente criar a possibilidade de ter mais Deputados para os círculos eleitorais mais pequenos. É pois uma proposta que está no ‘programa maior’ e que não tem apenas a ver com as Comunidades.

Mas a proposta do PSD é de aumentar o número de Deputados ou de aplicar a mesma regra que se aplica aos outros círculos eleitorais? Porque nós temos um número fixo de Deputados, qualquer que seja o número de eleitores, enquanto nos outros círculos eleitorais, o número de Deputados depende do número de eleitores.

A proposta do PSD é a reforma do sistema político português. Nesta matéria nós temos pontos a trabalhar, mas o PSD sozinho não conseguirá alterar esta legislação.

Mas qual é a sua opinião pessoal sobre esta matéria?

Eu sou daqueles que defende que haja possibilidade de votar pela pessoa e pelo Partido e sou daqueles que defende que os círculos eleitorais dos Portugueses no estrangeiro devem ter o maior número de candidatos a Deputados. Porque, se até aqui eu não tinha argumentos com base na legislação que tinha a ver com o número de recenseados, agora os argumentos existem.

Não responde à minha pergunta. Porque não defende que existam as mesmas regras na determinação do número de Deputados para os distritos em Portugal e para os círculos da emigração?

Eu posso defender, eu não acredito é que ela passe.

E eu quero saber é qual é a sua opinião, o que vai defender, em nosso nome, se for eleito nosso Deputado?

Eu compreendo que pode haver um elemento de ponderação, senão a emigração teria 20 ou 30 Deputados. Agora eu sei o que se vai negociar, e nós sabemos que há um conjunto de Partidos políticos que relativamente ao voto da emigração, limitam muito.

Eu só queria conhecer a sua opinião, não a dos outros Partidos porque prefiro perguntar-lhes a eles.

Eu já o disse que as regras têm de ser aplicadas para todos. Ao número de recenseados, deve aplicar-se a mesma regra para todos os Portugueses, vivam dentro ou fora de Portugal. Mas esta é a minha opinião, mas não é isso que está em cima da mesa. É evidente que eu não posso ter outra opinião. Mas na negociação que se vai estabelecer na Assembleia da República eu sei que vão ser criadas um conjunto de regras de ponderação para articular.

Desculpe insistir, mas o seu dever não é o de introduzir regras de ponderação…

Deixe-me explicar-lhe. Eu sou de Castelo Branco e este distrito tem um número muito reduzido de eleitores. Com a desertificação, nós acabaremos um dia sem ter representantes. Por isso, eu acho que a reforma política que tem de ser feita, também tem de ser de moto a compensar os territórios que são vítimas de uma migração interna, que estão a desertificar e não tendo massa crítica nem peso político, estão absolutamente condenados. Penso que a maioria das pessoas reconhece que é preciso criar aqui um equilíbrio que permita aos territórios do interior ganhar um peso político, senão não vamos longe, porque o país está todo no litoral e sinceramente não sei como vamos desenvolver os territórios do interior, muitos deles territórios de origem dos Portugueses que vivem no estrangeiro.

Eu pensei que havia unanimidade em dizer que esta nova Lei do recenseamento automático foi uma boa lei, mas já o ouvi tecer críticas…

Não, não critiquei. Até porque a proposta é minha, como é que poderia ser contra? Está na Assembleia da República, assinada por mim. Houve duas propostas que entraram ao mesmo tempo, uma do Governo e uma do PSD, as duas tinham algumas diferenças, mas a base era praticamente a mesma e depois nós apresentámos propostas de alterações às leis eleitorais, muito particularmente sobre a metodologia de voto, a questão do voto eletrónico, a uniformização, mas aí fomos só nós. Mas sobre a Lei do recenseamento eu sou um dos coautores. Tanto mais que eu sempre defendi o recenseamento automático mesmo quando o automatismo não estava associado ao Cartão do cidadão. Eu sempre defendi que teria de haver um automatismo que cada vez que uma pessoa fizesse um documento de identificação, que lhe fosse perguntado se queria ou não queria estar recenseado.

Diz a vossa proposta que os Consulados estão a prestar um mau serviço. Ora, o PSD dizia que o serviço estavam a ser informatizado, que com a informatização tudo funcionaria melhor, até encerraram alguns Consulados. Como se explica que hoje haja ainda disfuncionamentos nos Consulados?

Em primeiro lugar, eu não me reconheço nessa avalização porque eu nunca disse isso. Até disse precisamente o contrário. O que tem havido ao longo dos tempos, por parte de alguns políticos, mas não do Carlos Gonçalves, é anúncios por exemplo do Espaço do Cidadão, do Consulado virtual, dizem que as pessoas já nem necessitam de ir ao Consulado, podem fazer tudo online… O problema, e os próprios funcionários consulares levantaram sempre esse problema, é que a maioria dos atos que se fazem nos Consulados, obrigam a deslocação das pessoas ao Consulado, portanto, independentemente da tecnologia ter melhorado, apesar de virem dizer que online podem fazer tudo, não se traduz efetivamente no trabalho dos postos. Onde é que as tecnologias ajudaram? Ajudaram precisamente naquilo que foi talvez a maior medida tomada por um Governo relativamente às Comunidades portuguesas que foi levar o Consulado para junto das pessoas, através das Permanências consulares. Aí sim, a tecnologia permitiu melhorar. No fundo é um computador que permite uma ligação à rede, recolha de dados biométricos, que permite que o Consulado se desloque junto das pessoas. Ao ir lá, o número de atos consulares acaba por aumentar, mas não reduz claramente o trabalho no posto, mas facilita muito a vida às pessoas. Estas Permanências consulares são obra do PSD, mas isto está relacionado também com o Registo civil, o Siric… Antes, os documentos dos Portugueses ficavam anos numas pastas nos Consulados e nem sequer eram abrevadas em Portugal. Por vezes chegavam ao casamento e ainda não tinham abrevado o nascimento! Hoje isso tudo é automático.

LusoJornal / António Borga

Então onde está o problema?

O que se tem passado é que o quadro do pessoal dos serviços externos do Ministério foi diminuindo, porque as pessoas foram envelhecendo. Um dos problemas que nós temos hoje, por exemplo, é que deixamos de ter técnicos, até parece que os Portugueses no estrangeiro deixaram de ter problemas. Têm problemas diferentes, de âmbito social e alguns vieram ao de cima com as questões das reformas, por exemplo. Considero que é necessária uma carreira técnica. Nós tivemos nestes 4 anos um conjunto de promessas de abertura de concursos, primeiro anunciaram 100, depois passavam para 60, este ano, no mês de março prometeram mais de 100, mas acabaram por não os recrutar. O número de recrutamentos nestes últimos 4 anos é inferior ao do tempo da Troika e, como é evidente, com o envelhecimento das pessoas que vão para a reforma, com a diminuição da carga horária que era de 40 horas e passou para 35, isso nota-se muito. No universo de todos os trabalhadores do Ministério, passar de 40 horas para 35 horas, é como se tivessem saído uns quantos trabalhadores. Repare que eu não estou a dizer que a medida é boa ou má, estou a dizer que baixando para as 35 horas, o Governo sabia que tinha de compensar em trabalhadores. Houve também alguns problemas técnicos na informatização dos postos porque o Governo esperou até há bem pouco tempo para investir na informatização dos postos. Porque, em geral, o material está muito envelhecido, tirando um posto ou outro. Como sabemos, em informática tudo evolui muito rápido, isto criou enormes problemas e a situação tem vindo a agravar-se. Repare, no Luxemburgo, já estão a fazer marcação para o Cartão do cidadão para meados de dezembro.

O problema é então o da falta de funcionários…

Não só de funcionários, mas uma grande parte do problema é a falta de funcionários, sim. Fora da Europa, os prazos dilatam ainda mais, mas na Europa, nós temos Cônsuls que me dizem que são apenas Chefes de repartição administrativa, porque não conseguem fazer nenhum trabalho político dentro da sua função e já vi Chefes de posto a atender público, porque não conseguem fazer outro tipo de trabalho. O Consulado de Paris, que sempre foi considerado o maior do mundo – eu acho que não, durante muitos anos foi Nogent (risos) – neste momento leva dois meses. Depois dizem: o Notário dispara para novembro porque esteve fechado em agosto. E eu pergunto: e porque fechou em agosto? Eu não me lembro no passado que o serviço estivesse fechado em agosto. Há discursos que dizem que tudo vai bem, e fazem com que as pessoas acreditem. Por exemplo o Espaço Cidadão, foi criado como se fosse a resolução de tudo. Tem vários problemas, o primeiro é o das espectativas, sobretudo em postos onde as Comunidades têm dificuldades de atendimento, prometer que é algo que vai revolucionar, cria espectativas e as espectativas são defraudadas. Paris foi o primeiro exemplo. Em Paris podem ser feitos Registos criminais, tudo bem, não pode ser vendido como a solução de todo o problema.

Está a falar da forma, como foi apresentado, e não do fundo. Não acha que é um serviço importante?

O espaço Cidadão foi vendido na comunicação social, continua a ser vendido, como a solução de todos os problemas consulares. Eu estive na Bélgica, no Diálogo com as Comunidades e face às dificuldades de funcionamento, o Secretário de Estado garantiu que aquilo seria resolvido com o Espaço Cidadão. Só no Parlamento, confrontado por mim e pelos Deputados do PSD é que foram obrigados a anunciar os números: dava um ato e pouco por dia! E lembra-se do Consulado virtual? O Consulado virtual, onde se gastaram várias centenas de milhares de euros, também nos foi vendido como a solução dos problemas. E não foi nada. O Governo vendeu uma medida que a mim me parece positiva, que é o ato único de inscrição, vendeu-nos isto como uma grande revolução. Ainda não está a funcionar e já perderam 300 mil euros.

Aí, trata-se de um problema técnico com a empresa que está a fazer esse trabalho.

O Governo nunca assumiu essa questão, e o Ministro foi anunciando datas. Por amor de Deus, esperem, não criem espectativas e tentem efetivamente implementar medidas que possam resolver o problema do atendimento. Eu sei que isto custa ouvir, eu sei que isto não vai ao encontro dos discursos que se ouvem, mas as pessoas sabem que os Consulados de Portugal estão, neste momento, numa situação de acolhimento que já não conheciam há muito tempo.

Explique-me melhor a vossa proposta de ter uma carreira consular específica, para os diplomatas que façam carreira nos postos consulares.

Queremos fazer aquilo que outros países fazem: criar uma carreira consular. É uma carreira paralela, que as pessoas podem optar, temos muitos diplomatas que só fizeram carreira consular, por isso seria necessário definir para que as pessoas tenham outro tipo de perspetivas, até porque há muitos diplomatas que estão vocacionados para a área consular e gostam da área consular. Podemos ter altos funcionários do Estado português mais vocacionados para uma área que sempre foi, mas está a tornar-se verdadeiramente essencial, devido às questões de segurança internacionais.

No que diz respeito ao ensino da língua portuguesa, a proposta do PSD é a mesma da proposta das últimas eleições.

Nós não mudamos de opinião. Nós defendemos sempre que a prioridade é possibilitar o ensino integrado da língua portuguesa nos sistemas de ensino locais. Esse é o grande objetivo. Somos uma língua europeia, somos uma língua com um estatuto internacional, mas também pelo número de Portugueses que vivem em alguns países, que os nossos filhos possam aprender português nas escolas onde aprendem outras línguas e outras matérias.

Sim, claro, mas isso tem o reverso da medalha, como acontece atualmente em França, em que o país decide não considerar a língua portuguesa como prioritária.

Era o que eu ia dizer… o segundo objetivo é, enquanto não for possível, ou quando não for possível, o Estado português tem de estar presente. E tem de estar presente com uma proposta de rede adaptada à realidade das Comunidades portuguesas, a rede que nós temos hoje é praticamente a mesma que tínhamos há 4 anos, há 8 e há 12 anos, praticamente pouco mudou e hoje temos uma procura muito diferente daquela que tínhamos há 4 anos. E não necessitamos de conhecer muito de emigração para se perceber que as Comunidades emigradas têm mais mobilidade geográfica. Hoje temos países, como o Reino Unido, em que a oferta em relação à procura é uma coisa ínfima, temos países com situações críticas que não tinham pelo cassado, como a Alemanha e a França, porque a rede não mudou. Depois vem a qualidade do ensino. Aí demos um grande avanço e foi o Governo do PSD – apesar das críticas e o LusoJornal sabe disso – com a certificação das aprendizagens. A certificação de competências foi algo que o ensino de português no estrangeiro necessitava. Tem uma forma de avaliação de alunos e de avaliação de professores. Depois temos de ter uma política de âmbito cultural. Nós lançámos, por exemplo, o Plano de incentivo à leitura, até o Dr. Passos Coelho que era Primeiro Ministro veio às Comunidades, porque nós no ensino de português no estrangeiro não podemos ter apenas os cursos, temos de ter incentivos de âmbito cultural.

LusoJornal / António Borga

Isso já existe.

Mas é muito residual, existe por iniciativa de muitos professores, ainda agora em Lausanne vi uma professora que faz um trabalho notável e nalguns sítios já há professores que começam a relacionar-se com autarcas de origem portuguesa, o que permite um certo número de atividades e o acesso a espaços, que eram impossíveis há uns anos atrás. Para a sua credibilização, o ensino do português no estrangeiro tem de dar um passo acima e não pode, como está a acontecer há uns anos, ser o parente pobre do Instituto Camões para quem os Leitorados são tudo, muito bonito, mas a questão das Comunidades…

O PSD ficou para sempre colado àquele episódio em que, em pleno meio do ano escolar, suprimiu 20 professores de português só em França. Não acha que essa decisão não credibilizou em nada o ensino da língua portuguesa em França? E não acha que nessa altura o sinal dado às autoridades francesas foi muito negativo?

Pode fazer-me a entrevista toda a procurar o que o PSD fez de mal. Eu vou-lhe explicar, esperando que fique claro. Os 20 professores têm a ver com o orçamento de Estado para 2011 que o Partido Socialista, o Eng. Sócrates e alguns dos Ministros, incluindo o Ministro Augusto Santos Silva fizeram um Orçamento de Estado que não permitia fazer o pagamento dos professores até ao fim do ano letivo. Quando veio a Troika, nós pegámos no país e chegámos à conclusão que não havia dinheiro para pagar aos professores. Esta é a questão de fundo.

Não acha que última coisa a cortar é os professores que estão a dar aulas em pleno ano letivo?

Fomos obrigados, não havia dinheiro para pagar (irritado). Eles não fizerem o orçamento a contar com esse pagamento. Que tenham coragem de o assumir. Por exemplo o Ministro Augusto Santos Silva. É chato, quatro anos depois eu estar a explicar isto. O que é que querem esconder? Isto foi gravíssimo, a forma como trataram os Portugueses no estrangeiro. Os professores sabiam-no. Isto é desvirtuar uma verdade porque quem tem a responsabilidade de um Orçamento de Estado deve assumir. Nós não temos culpa nenhuma do país ter batido na parede. Não foi um Governo meu que fez com que o país batesse na parede. Agora voltamos ao ensino, o LusoJornal pode achar que não, mas eu considero que o ensino deve ser integrado. Eu lamento muito que os meus filhos em Ormesson-sur-Marne não pudessem aprender o português. Custou-me muito. Eu lutei para a abertura de uma Secção internacional na zona Este de Paris, que se transformou numa Secção brasileira, eu fui um dos primeiros que esteve de volta desta secção. Fui eu que trabalhei com os professores de português no Val-de-Marne para promover o português, para a criação de visitas de estudo, para que os meninos se interessassem pelo português dentro das escolas francesas. Eu não quero que o meu filho sinta que o português é menos que o alemão ou o italiano. Que é difícil, é, que é complicado, é, e quando não for possível, o Estado português deve estar presente.

Mas a passagem dos cursos ELCO para os cursos EILE até foi uma notícia positiva…

Quando há a reforma dos ELCO para os EILE, para a Ministra Belkacem – que tinha decidido acabar com os ELCO – os cursos de português davam muito jeito, porque já aplicavam o Quadro europeu de referência para o ensino das línguas. Na altura, o Ministro da educação, Tiago Brandão Rodrigues, veio cá tirar umas fotografias e o LusoJornal escreveu um artigo sobre isso. Sai o Governo do Sr. Hollande, entra o Governo do Sr. Macron, o Ministro Tiago Brandão Rodrigues volta cá, e o LusoJornal voltou a noticiar novo acordo. Agora, toda a gente sabia que a reforma do BAC estava a avançar, toda a gente percebeu que a língua portuguesa devia sair, havia alertas já no mês de outubro, quando chegámos ao momento em que já havia pouco tempo de manobra é a Comunidade que começa a mexer-se, os pais de alunos, para limitar que a reforma prejudicasse a língua portuguesa. Eu fiz uma pergunta ao Senhor Ministro em março e ele não me respondeu. Eu fiz a pergunta em nome dos Portugueses que residem no estrangeiro, que eu estava a representar. Aliás, ele foi tão rápido a tirar fotografias com os Ministros da educação, mas sobre esta questão da reforma do BAC ele não disse nada. O Ministério dos Negócios Estrangeiros ainda se meteu, mas não foi o Ministério dos Negócios Estrangeiros quem assinou o acordo. Temos então uma situação em que o Governo português e muito particularmente o Ministério da Educação teve um comportamento que eu acho que os Portugueses que aqui residem mereciam mais. Acho que a língua portuguesa merecia mais, e sinceramente, a solução que foi encontrada todos aqueles que acompanham esta matéria no Ministério da educação francês, entendem que o sucesso da solução encontrada, altamente discriminatória porque deixa o território francês praticamente todo de fora, e a pergunta que eu coloco é a seguinte: mas vão experimentar o quê? Há quantos anos o ensino do português está no ensino francês e agora vão experimentar como se fosse uma língua nova que chegou hoje? Há aqui uma má fé e eu lamento que o Sr. Macron não considere que o português seja uma língua com o estatuto que devia ter no sistema oficial francês. Espero que nas próximas eleições autárquicas, aqueles que são lusodescendentes, aqueles que vão ser candidatos, possam, aqui e ali, pôr esta matéria na agenda política que vai ser discutida em março do ano que vem. Aqui já não é a parte portuguesa a tratar, é a parte francesa a procurar, já que o Estado português mexeu-se pouco, apesar do esforço que o Senhor Embaixador teve localmente, o Ministério da educação não responde…

O Primeiro Ministro veio cá falar com o Presidente Macron sobre esta matéria e teve uma posição importante…

Não, o Primeiro Ministro não veio cá por essa questão. O Primeiro Ministro não fez uma declaração pública sobre esta questão, o Ministro dos Negócios Estrangeiros não veio cá por essa questão, não fez uma declaração política e pública sobre esta questão, o Ministro Tiago Brandão Rodrigues não disse nada de errado porque nem falou, nem escreveu. Como é possível que o Ministro que tem a tutela, que veio cá duas vezes a correr para tirar fotografias, e depois, naquilo que é decisivo para as pessoas, faz falta de comparência. E é isto que me custa. Espero no futuro que seja possível repor esta situação. Quanto ao Luxemburgo, não se tratando de uma questão idêntica, são os próprios professores de português que o reconhecem, pelo facto do ensino de português deixar de ser integrado num conjunto de escolas, e sobretudo naquela que foi a mais falada em Esch-sur-Alzette, põe em causa, como é evidente, a imagem da língua portuguesa. Nós não podemos ter um discurso em Portugal e depois vermos em países de referência como a França e o Luxemburgo em que o português perde estatuto e para quem cá vive, é complicado.

LusoJornal / António Borga

O que me diz do novo regulamento de atribuição de subsídios da DGACCP?

Eu sinceramente nunca percebi porque se falou tanto desta questão. Vários Governos alteraram o regulamento de atribuição de subsídios.

Sim, porque mudaram-se as regras…

Eu nunca vi grandes necessidades de se alterarem as regras, há 30, 40 anos isto já funcionava, o movimento associativo tinha apoios, não era por aí que havia problemas, tinham é mais dinheiro. Talvez não fossem necessárias tantas regras. Da forma como ele está feito, este Regulamento cria problemas a muitas associações tradicionais, se vir as associações que receberam subsídios, são associações que têm estruturas e permanentes e se for ver quem recebeu as verbas, em algumas áreas, são coligações de associações que trabalham em conjunto. As associações tradicionais muitas vezes não têm essa capacidade que teriam de ser abordadas de outra forma, aliás alguns requisitos que são solicitados criam problemas de índole legal, as associações tradicionais ficam de fora desta realidade. Quanto ao Fundo de Relações Internacionais (FRI), a mim o que me interessa é que haja verbas. Mas acho também que moralizaria o FRI se o FRI existir também para as iniciativas das Comunidades portuguesas visto que as verbas do FRI são pagas pelos emolumentos consulares. Ora, os Portugueses no estrangeiro são um veículo notável daquilo que são as nossas relações internacionais e a afirmação de Portugal no mundo. Eu duvido que haja muitas instituições bilaterais em França que façam mais pelas relações entre os dois países do que os Portugueses que aqui residem. E o FRI estando disponível para apoiar projetos das Comunidades portuguesas, era uma forma de moralizar o FRI, mas também era com toda a justiça que isso acontecia. Eu se fosse Secretário de Estado teria muitas dificuldades em aceitar que nenhuma verba do FRI fosse para a Comunidade, o Secretário de Estado aceitou isso… Resumindo, para mim uma verba do FRI teria de servir para apoiar a Comunidade e o Regulamento devia permitir financiar associações mais tradicionais. Nós temos associações tradicionais em cidades com uma dimensão notável, mas parece que em Lisboa só vêm Paris ou Lyon. Isto também demonstra uma forma muito administrativa de gerir o movimento associativo, quando o Secretário de Estado também deve ter, para além do lado administrativo, um lado político para apoiar aquelas associações que podem, por exemplo, fazer um grande festival etnográfico, que eventualmente não entrará no pensamento intelectual de alguns, mas que serve para vender Portugal, serve para mobilizar Portugueses, serve para fazer conhecer a nossa língua. Essas também mereciam algum apoio.

Ouvi-o criticar o Governo sobre o tratamento dado aos luso-eleitos…

Até me custa criticar. Nós só podemos criticar quando há políticas, neste caso não há políticas, não há iniciativas, nem é possível criticar.

O que propõe o PSD nesta matéria?

O PSD (e até o PS) já fez coisas. Nós temos de criar redes dos luso-eleitos, temos de pôr os luso-eleitos em contacto, a partilhar experiências e a terem uma ideia do que é Portugal. Podem ficar sensibilizados para um país que ainda lhes é caro, e intervir, aqui e ali, em favor do nosso país. Dou o exemplo, da intervenção dos Congressistas norte-americanos em relação à Base das Lages. Podia dar o exemplo também relativamente ao ensino de português. Nós temos de ter capacidade de relacionar esses luso-eleitos. Eu sou suspeito, porque o Embaixador que deu muita atenção a este assunto foi o Embaixador António Monteiro e a Comunidade portuguesa de França não tem o Embaixador António Monteiro como um mau Embaixador. Aquilo que eu ouço é que foi o melhor Embaixador que passou por Paris. Eu fui Secretário de Estado dele, mas ele percebeu há muitos anos a necessidade de trabalhar com os luso-eleitos. Agora, não sei se há receio, não sei se há medo, mas é pena que os luso-eleitos não tenham merecido nesta legislatura aquilo que devia ter acontecido de um Governo de um país global, de uma globalidade que lhe é conferida pela história, mas sobretudo pelas Comunidades portuguesas no mundo. Portugal é um país global hoje pelas suas Comunidades. Nas suas Comunidades há gente de vários pontos do mundo, com posições políticas de enorme relevo. O problema é que agora vai ser necessário recomeçar tudo, e isso é que é pena.

Diz o programa eleitoral do PSD que é preciso reforçar o Conselho das Comunidades Portuguesas e os Conselhos consultivos das áreas consulares. De que forma querem reforçar? Vão voltar a mudar a Lei do CCP?

Não está pensado alterar a lei, mas para agilizar o seu funcionamento até poderá ser necessário. Desde logo, o Conselho tem um problema de financiamento e de funcionamento. A Secção de França não consegue reunir porque não tem verba para o poder fazer. É extremamente difícil fazer funcionar um órgão que não pode minimamente reunir. O segundo problema é o reconhecimento do trabalho dos Conselheiros das Comunidades. Nós temos trabalho feito. Fomos nós que propusemos, nós estivemos na origem dessas propostas, que elementos do Conselho das Comunidades integrassem o Conselho Nacional de Educação, o Conselho Económico e Social, o Conselho de Opinião da RTP… Há aqui uma lição para aquelas pessoas que andaram durante muito tempo a descredibilizar o Conselho das Comunidades portuguesas: o Presidente do Brasil escolheu o antigo Vice-Presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas para Procurador Geral da República.

E quanto aos Conselhos consultivos das áreas consulares?

Quanto aos Conselhos Consultivos das áreas consulares, há postos onde eles não existem e eu penso que tem de haver outro modo de seleção das pessoas, tem de ser pensado, com o Ministério, para que eles possam realmente funcionar. Nalguns postos não reúnem, não trabalham. Nós defendemos aliás outra coisa: a participação dos Portugueses residentes no estrangeiro nas autarquias locais. Nós podemos ser eleitos, podemos até ser Presidentes de Câmara, mas não podemos votar. No entanto, há muitos territórios que dependem, muitas vezes no plano económico, quase exclusivamente dos Portugueses que residem no estrangeiro e as políticas do seu território não são pensadas a contar com os que estão fora, por isso defendemos a criação de Conselhos consultivos nos municípios para que os municípios tenham periodicamente reuniões com pessoas do conselho a residir no estrangeiro e a trazer experiências que podem ajudar ao desenvolvimento.

Já foi Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas. Como avalia este Secretário de Estado durante este mandato?

Eu prefiro mais falar de mim…

É o que temos estado a fazer, mas agora gostava que desse a sua opinião sobre José Luís Carneiro.

Há uma questão em que nós estivemos juntos, foi a questão do recenseamento automático. É uma medida positiva, conseguiu-se um consenso, eventualmente já se poderia ter conseguido há mais tempo. É como aquela ideia dos lusodescendentes poderem ser candidatos. Esta medida só não foi aplicada há muito tempo, até do tempo da Dra. Manuela Aguiar, porque o Partido Socialista não quis. Essas foram as matérias mais importantes. A partir daqui, nos Consulados vai mal, os Encontros de investidores da diáspora parecem interessantes, mas não está vocacionado para uma área em particular, para potencializar o investimento reprodutivo, convidam-se as pessoas, quem tem dinheiro vai à iniciativa, mas não há um objetivo de trabalho sobre a área do turismo, sobre a área do investimento a vários níveis. É interessante, mas teríamos de ter muito mais. Os jovens… como é possível fazer uma legislatura de 4 anos sem políticas para jovens. Até no tempo da Dra. Manuela Aguiar, que eram tempos diferentes, já havia programas para jovens. O Secretário de Estado é uma pessoa simpática, uma pessoa cordial, mas também acho que tinha os meios que tinha. A responsabilidade maior é do Governo. Em algumas áreas, o Dr. José Luís Carneiro esteve longe de corresponder, sobretudo em áreas caras ao Partido Socialista como a área social, uma área completamente esquecida deste Governo, apenas foi tentar resolver pontualmente as questões das reformas no Luxemburgo, esquecendo-se que em França, na Alemanha, na Suíça, no Reino Unido, também há Portugueses com as reformas em atraso. São estas situações que tiram o brilho a estes 4 anos de mandato, mas muito particularmente a culpa é de um Primeiro Ministro e de um Governo que não tem sensibilidade para esta área.

O seu objetivo é ser eleito. No caso de não ser eleito, regressa ao Consulado de Paris?

Eu não me coloco essa pergunta, mas quando eu entrei na política aprendi que podemos sair no dia seguinte. As pessoas que me conhecem sabem que os meus filhos vivem cá, a minha mãe vive cá, portanto se deixar de ser Deputado, regresso para o meu local de trabalho. Onde está o problema?

Sei lá, podia reformar-se, podia querer ir para outros horizontes…

Não me vou reformar já, mas também lhe digo com toda a sinceridade que continuarei a fazer política, de outra forma, é certo, mas não deixarei de fazer política e as Comunidades vão poder continuar a contar comigo. A pergunta que eu deixo é esta: lembrem-se do que era o trabalho dos Deputados pela emigração antes de eu ser Deputado. Façam esse exercício. Quem é que vinha aqui? E agora, até o próprio Partido Socialista teve de começar a sair para o estrangeiro. As pessoas deviam refletir nisto. As pessoas só vão dar importância a isto noutros momentos. É possível eleger pessoas que vivem em Lisboa, vivem no Porto, fica tudo muito contente, mas os Portugueses que vivem no estrangeiro, se não entendem que são os deles que têm de estar no Parlamento, ficam a perceber, quando houver matérias difíceis que é preciso fazer realmente o finca-pé, vão ser esquecidos. Reparem e comparem o que era o trabalho parlamentar para as Comunidades antes e depois de eu ter chegado ao Parlamento. Lanço esse desafio.

Claro que espera ser eleito. Se o for, vai fazer os 4 anos da legislatura?

Se o Governo ficar os 4 anos, sim, suponho que farei os 4 anos, nunca se sabe o que a vida nos traz. Repare, no início eu era um Deputado emigrante, o meu colega Paulo Pisco nunca teve esse problema, nunca chegou ao Parlamento e nunca lhe disseram, olha o emigrante! O Carlos Gonçalves teve, quando lá chegou. Se houver algo de novo, que me dê ânimo, dentro ou fora do Parlamento, logo se vê.