Legislativas: Entrevista com Gonçalo Galvão Gomes, candidato do PAN

Gonçalo Galvão Gomes é o candidato do partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) no círculo eleitoral da Europa, nas eleições Legislativas de 6 de outubro.

Tem 33 anos é natural de Lisboa, cresceu com uma “grande influência” minhota do pai. A mãe é beirã. Costuma dizer que cresceu “ao toque das castanholas e do rancho folclórico”.

Mora em Berlim, na Alemanha e já é a segunda vez que concorre às eleições Legislativas pelo PAN.

Qual foi o seu percurso até à Alemanha?

Comecei a trabalhar aos 16 anos, trabalhei e estudei até aos 23 ou 24 anos. Com 27 anos comecei a trabalhar num cargo de gestão, numa das maiores empresas nacionais e aos 29 anos decidi emigrar, há cerca de 4 anos e meio. Tinha muita vontade de emigrar, senti que me faltava uma experiência na vida, faltava-me um capítulo, queria conhecer outras coisas, outras gentes, outras culturas e foi assim que acabei em Berlim, onde vivo há 4 anos e meio.

 

Então não foi a crise que o fez sair de Portugal?

Não, eu saí mais por vontade do que por necessidade. Eu tive a sorte de trabalhar em setores em que contornei um pouco a crise.

 

Em que setores trabalhou?

Trabalhei numa grande empresa de supermercados em Portugal, uma das maiores e não senti o efeito da crise. Tinha uma boa carreira, com perspetivas de futuro, mas faltava-me essa experiência. Acabei por mudar. Provavelmente como acontece à maioria das pessoas, foi uma experiência muito intensa, com muitas coisas boas, com coisas más, muitas dificuldades, especialmente no primeiro ano. O primeiro ano foi muito difícil, mas também foram essas dificuldades, essas realidades que me tornaram mais resiliente, mais combativo… Chegar a um sítio novo, literalmente começar de novo, do zero, sem família para me ajudar, sem conhecimentos, sem falar a língua local, foi uma lição de humildade. Quando cheguei, andei quase de porta a porta à procura de trabalho, não foi fácil. No meu primeiro ano, aqui em Berlim, trabalhava nas limpezas e estudava alemão. Foi a minha vida durante um ano. Depois fui fazer o meu caminho, com o tempo fui progredindo, fui desenvolvendo as minhas capacidades, fui arranjando outros trabalhos e neste momento trabalho para um banco alemão e tenho uma visão otimista sobre o futuro.

 

E o regresso a Portugal ainda está nos horizontes?

Cada vez que vou lá, tenho uma experiência nova e uma sensação nova. Mas, neste momento não, não sei o que vai acontecer daqui por uns anos, mas neste momento a ideia é continuar por fora.

 

E já era militante antes de vir para Berlim?

Eu já estava envolvido em causas, eu já era um ativista – não sei se o termo correto é ativista – mas eu já andava preocupado com as causas ambientais, sou membro do PAN há 8 ou 9 anos, portanto já estava envolvido em política antes de vir para a Alemanha.

 

Já foi candidato nas últimas legislaturas, esta é a sua segunda candidatura. Porque se candidata?

Quem nunca viveu fora de Portugal não tem visão de muitas coisas que se passam nas Comunidades. Eu confesso que quando cheguei, várias coisas me surpreenderam quando comecei a ter os primeiros contactos com as Comunidades. Desde as questões básicas, como o facto do recenseamento não ser automático, que entretanto mudou porque houve um movimento cívico que lutou por isso, não por vontade política. Eu não fazia ideia que o ensino de Português não era gratuito. Repare, eu chego a um país em que o ensino, desde a creche até à universidade, é gratuito e os Portugueses que vivem na Alemanha acabam por pagar mais de Propina do ensino de português num ano, do que pagam em todo o percurso escolar dos filhos. De certa maneira os Alemães entenderam a importância do ensino e Portugal, em vez de impulsionar o ensino da língua portuguesa, fez disso um negócio. O acesso ao Consulado, as histórias de pessoas que perdem um dia para ir ao Consulado e muitas vezes têm de voltar. Foi no fundo o contacto com esta realidade que me fez querer trabalhar e dedicar-me a melhorar a vida dos Portugueses que vivem no estrangeiro. Eu já pertencia ao PAN, a causa ambiental já fazia parte das minhas preocupações e o que fiz foi, no fundo, puxar os ideais e os princípios que tenho, usando a experiência que fui adquirindo enquanto emigrante, pensando nas soluções aplicadas à causa emigrante, foi por essa razão que concorri às Legislativas de 2015. Concorremos a essa eleição com orçamento zero, num Partido que era completamente desconhecido, fora de Portugal ninguém conhecia o PAN há 4 anos atrás, não tínhamos suporte mediático, mas fizemos um percurso, com mais vontade do que meios, a experiência ajudou também a compreender melhor ainda a realidade das pessoas ao longo destes quatro anos e esta candidatura é, no fundo, a continuação desse trabalho. O desejo de provocar uma rutura e de trazer progresso.

 

Ainda se lembra dos resultados obtidos há 4 anos?

Foi menos de 1% neste círculo eleitoral.

 

Entretanto a situação mudou muito, o PAN teve mais votos nas últimas eleições para o Parlamento Europeu. Acha que nas Comunidades estão hoje mais atentas ao que diz o PAN?

Sim. Há essa divulgação do que faz o Partido. Nós temos um Deputado que é o Deputado com mais propostas efetuadas durante os 4 anos do mandato, temos lutado por coisas interessantes, que têm mudado a vida das pessoas, e evidentemente que isso se reflete nas Comunidades, claro. Principalmente porque é um grupo de pessoas muito preocupado com o ambiente, a ecologia, a sustentabilidade, e evidentemente que essa mensagem chega cá.

 

Ainda não conhecemos a lista completa dos candidatos do PAN. Quem integra a lista?

O nosso mandatário é o Francisco Guerreiro, que é o nosso Eurodeputado, que acabou de ser eleito, a número 2 da lista é a Sónia Oliveira e como suplentes temos o Ernesto Nunes, que foi candidato em número dois nas últimas eleições Europeias, também pelo PAN, ele vive no Brasil, neste momento não vive na Europa, e temos a Ana Margarida, que é a última das nossas suplentes.

Vamos entrar em assuntos de política de Comunidades, que já começou aliás a abordar. Acha que esta alteração da Lei do recenseamento eleitoral, alargando o universo eleitoral, foi uma medida importante?

Acho que foi uma medida que se impunha. Eu tenho alguma dificuldade em dar este crédito ao Governo porque, é verdade que foi votada no Parlamento, mas foi votada após um movimento cívico que levou um conjunto de assinaturas ao Parlamento e aí foi elaborada a lei, votada, etc. mas a realidade é que nós temos os nossos Deputados eleitos pelas Comunidades mas nunca tiveram qualquer interesse por esta questão. E esta era uma questão bastante elementar: se em Portugal as pessoas atualizam a sua morada no Cartão do Cidadão e ficam recenseadas automaticamente, não faria qualquer sentido que não fosse assim com as Comunidades portuguesas fora de Portugal.

 

O recenseamento não pode ser obrigatório, e não é, porque há países que não toleram a dupla cidadania. Estas pessoas foram recenseadas “à força” e é dada a possibilidade aos cidadãos que moram fora de Portugal de recusar o recenseamento.

Sei que existe alguns problemas, nomeadamente no Brasil, mas no círculo eleitoral da Europa, que é aquele do qual estamos agora a falar, que eu tenha conhecimento, isso não tem sido problema.

 

Mas as políticas de emigração fazem-se para toda a emigração e não em particular para a Europa. Mas gostava de conhecer a sua opinião sobre a metodologia de voto.

Eu sou pela facilitação máxima e pela defesa da democracia. Aquilo que eu tenho defendido, e já o defendi na última campanha, é que se deve experimentar outra vez o voto eletrónico. Vivemos num tempo diferente e acredito que seria interessante. Claro que não se vai conseguir que todas as pessoas que moram fora de Portugal passem a votar eletronicamente, mas podíamos dar um passo, experimentando num país, numa Comunidade mais pequena e eu acredito que esse seria o instrumento que facilitaria a vida às pessoas, principalmente àquelas que estão muito longe dos Consulados. Nas eleições Presidenciais e nas Eleição Europeias, no fundo nós damos a hipótese das pessoas votarem, mas estamos a pedir às pessoas que não votem. Pedir às pessoas que façam 300 km para votar é pedir que não votem! Eu sou pelas escalas de facilitação. Eu gostaria que se tentasse o voto eletrónico, não havendo essa vontade, pelo menos o voto postal para as outras duas eleições porque não faz sentido uma ser postal e as outras serem presenciais, as pessoas não entendem porquê. Esta questão tem de ser votada em Parlamento e julgo que vão ter de ser dois terços do Parlamento a votar. Eu penso que se houvesse vontade por parte dos Deputados eleitos pelas Comunidades portuguesas, creio que isso poderia ser feito.

 

O problema é que as alterações da Lei eleitoral integram este assunto e outros assuntos menos pacíficos. Por isso fica bloqueado. O que pode fazer o PAN para pôr as Comunidades no centro das atenções? Durante esta legislatura não se conhece nenhuma ação do PAN, apesar de só ter um Deputado, em direção das Comunidades Portuguesas.

Não houve nenhuma iniciativa direta em direção às Comunidades portuguesas, estamos a falar de um Deputado, em 230…

 

Um Deputado muito ativo…

O Deputado que apresentou mais propostas do que a bancada do PS toda! Mas não tem sido possível. Eu tenho a certeza que se eu tivesse sido eleito e se eu for eleito, as propostas ligadas às Comunidades serão prioridade e que os Deputados vão ter a oportunidade de dizer ou se estão com as Comunidades ou se não estão, porque as propostas vão ser entregues para serem votadas. Mas é difícil garantir que um em 230 consiga chegar a todo o lado. Não é possível.

O grande problema agora é a participação nas eleições. O que pode mobilizar as pessoas a votarem?

Temos de perceber as razões que levam as pessoas a não votar. A tendência é querer resolver este problema que é complexo de forma simples. A realidade é que temos de entender que existem várias razões que fazem com que as pessoas não queiram votar. Um grupo é aquele de quem já falamos, das pessoas que estão longe do Consulado, ou devido a problemas pontuais, que não deixam de ser relevantes, de pessoas que foram aos Consulados, deslocaram-se, queriam votar e o nome delas não estava nas listas. Nós temos o problema das pessoas que mudam de casa muitas vezes, principalmente as pessoas mais novas, mudam de casa, acabam por não conseguir mudar a morada, não conseguem votar porque não recebem a correspondência. Depois, temos o grupo, provavelmente o maior, das pessoas que estão descontentes. São as pessoas que não votam porque não se sentem representadas, acreditam que os Deputados que são eleitos pela emigração não os valorizam, não os escutam. Pela experiência que eu tenho, são pessoas que gostam muito do país, mas sentem-se esquecidas. O problema aqui é que vivem num circuito: elas não votam porque não gostam dos representantes, e os representantes não mudam porque elas não votam. Então existe uma grande obrigação de cada um de nós, dos Candidatos, dos Partidos, mas também das pessoas com responsabilidades associativas, culturais, de trazer confiança, fazer as pessoas acreditar que é possível mudar. E repare, é possível mudar. O Deputado Paulo Pisco foi eleito com cerca de 5.500 votos na última eleição. Isto é a população portuguesa de Berlim, Hamburgo e mais alguma cidade e são Comunidades pequenas. Se houvesse uma maior mobilização das pessoas que votam, poderia haver uma grande diferença. O que nós temos de fazer é entender os problemas, ir ao encontro das necessidades, explicar e mostrar que há uma alternativa.

 

Dizia que os serviços consulares funcionam mal. No entanto há uma ideia generalizada que os serviços funcionam melhor do que há 10 ou 20 anos atrás. O que não funciona bem nos serviços consulares?

Os serviços estão melhores, é um facto. Mas repare, com Deputados eleitos pela quinta e sexta vez, um deles poderá vir a cumprir vinte anos de mandato, se os serviços não estivessem melhores, seria o cúmulo. Tem de haver melhoramento, como é obvio. Não se entende que haja regiões que não têm serviços consulares próximos – estou a falar de Frankfurt, da Irlanda, da Escócia – o que lhes causa muitos problemas. A dinâmica da emigração alterou-se muito nos últimos 6, 7 anos, e os serviços não se ajustaram. Há sítios que perderam população, há sítios que triplicaram a população e não foi dada resposta adequada a essas necessidades. Há comunidades que têm uma falta de apoio grande em termos de meios. Aquilo do qual eu posso falar melhor é a cidade de Berlim, onde resido, que tem recursos humanos de topo, as pessoas são excecionais, mas é óbvio que estão sobrecarregadas, é óbvio que faltam meios e a informação que eu tenho recebido é que está um pouco assim por todo o lado, tem que haver uma reorganização, tem de haver mais recursos humanos. Nós temos um grande problema que é: não tendo recursos humanos no Consulado significa perder um dia para ir a um consulado, não ter vaga, não ter senha, não tenha possibilidade para ser atendido, voltar para trás e ter de perder outro dia para fazer isso. Deslocações muito grandes, dificuldades de toda a ordem, é difícil explicar às entidades patronais que é necessário perder um dia para ir ao Consulado, ainda há muito a fazer pelos serviços consulares.

 

Nos últimos anos os serviços foram informatizados, foi criada uma rede única dos inscritos consulares (em curso de constituição atualmente), acha que a informatização vai facilitar o atendimento consular?

Claro que não podemos cair no populismo. Tem de haver uma racionalização e quem disser o contrário não tem noção da realidade do país ou está a mentir. Mas, simultaneamente, é necessário criar meios das pessoas não estarem excluídas de tratar dos seus documentos ou do exercício da democracia. Nós temos três áreas fundamentais em relação à emigração. Uma delas é precisamente a modernização e facilitação de processos. Aquilo que nós queremos é ter um papel mais preponderante na gestão da burocracia e nós até pensamos na ideia de criar uma aplicação onde seja possível marcar as visitas aos Consulados, obter informações, através do sistema online pedir algumas certidões e o caminho terá de ser esse.

 

Então, mas isso já existe.

Isso existe, mas o que nós queremos é que seja mais divulgado, que chegue a todas as pessoas e o que queremos é que as aplicações sejam mais fáceis de usar… isso existe, eu já utilizei alguns desses serviços, mas a verdade é que funciona ainda de forma muito lenta e não é possível fazer muita coisa.

 

Em vários Consulados, os utentes fazem a marcação via internet, escolhem o dia e a hora em que querem ser atendidos, na medida das disponibilidades, e quando chegam ao Consulado são atendidos na hora marcada. Por outro lado, há muitos serviços que se podem fazer à distância, também já existe. Os processos estão todos informatizados.

Repare, quando se fala em tecnologia, estamos a falar de serviços que têm sempre uma melhoria contínua e podemos sempre fazer muitas coisas. No Consulado Geral de Portugal em Paris ou tenho ouvido alguns comentários, a maioria das pessoas gosta do serviço, mas quantos Consulados a funcionar nesses moldes você conhece?

 

Há vários outros Consulados. Mas curiosamente, em todos os Consulados onde aplicam este dispositivo de atendimento por marcação, há sempre muitas reações negativas no início.

Claro, e haverá sempre. A tecnologia, a evolução, a possibilidade de fazer coisas pela internet não vai parar, vamos ter de continuar a apostar no serviço. Em alguns sítios está a funcionar bem, noutros está mais parado.

 

Sobre o apoio à Comunidade, este Governo criou um novo Regulamento de apoio às associações portuguesas, tem tido alguns comentários por parte das associações em relação a esta nova modalidade de atribuir subsídios?

Eu não senti grande diferença entre a informação que eu recebia antes e agora, as pessoas queixam-se que é insuficiente e o que me chega é que há muitas associações que trabalham pela causa emigrante e que ajudam sobretudo as pessoas que acabam de chegar e que necessitam de mais apoio para tratar de papeis, o problema da língua cria-lhe problemas, e as associações trabalham sem qualquer reconhecimento. Às vezes é difícil solicitar apoios, acabam por não os solicitar e acabam por prestar esse serviço de ajuda e de apoia por voluntariado. Mas para dizer a verdade não tenho tido a informação que a mudança da lei tenha causado uma grande diferença.

 

O PAN não tem nenhuma proposta em relação à rede associativa portuguesa na Europa?

O que nós queremos – e eu já tenho pensado nisso há algum tempo – muitas das vezes nós temos Portugueses a viver no estrangeiro em situações sociais complicadas. Em países como a Alemanha ou como a França, países com um sistema social forte e existente, muitas vezes essas pessoas acabam por estar desapoiadas por falta de informação, por incapacidade de preencher formulários, por não conhecerem o sistema, e aquilo que eu tenho vindo a defender é que as associações, os grupos de Portugueses, todas as pessoas que prestam esta ajuda formalmente ou informal deviam ser apoiadas diretamente pelos serviços consulares porque o apoio que elas dão é enorme e não há muita gente a fazer isso a nível social. Pelo menos, a informação que eu tenho tido é que, se eu tiver um problema e não conseguir tratar dos papeis para a segurança social, o último sítio onde eu vou pedir apoio é o Consulado português! Eu entendo porquê, mas o que sei é que devemos apoiar estes serviços que dão uma melhoria enorme para a vida das pessoas.

 

Não é tanto no apoio financeiro,… é mais no apoio social?

Para isso são necessários recursos, não seriam recursos enormes, mas provavelmente seriam necessárias mais pessoas. Só para lhe dar um exemplo, se aqui em Berlim nós tivéssemos uma pessoa que ajudasse os Portugueses com mais dificuldade, a pedir apoios sociais, a tratar do pedido do subsídio de desemprego, a tratar de todos estes casos difíceis. Os cidadãos da União europeia têm direito a terem esse tipo de coisas, mas não conseguem ou porque não sabem, não sabem como se hão de mexer no sistema. Eu não sei como se passa em França, mas na Alemanha a burocracia é difícil, um apoio deste tipo, ou o apoio de pessoas que conhecem o sistema e que ajudam de forma gratuita, ou a criação oficial deste tipo de suporte poderia traduzir se na melhoria concreta na vida das pessoas.

Sobre o ensino, já falou da Propina. É esse o principal problema para si?

É um dos problemas, não é o principal, mas é o mais significativo porque faz uma clara distinção entre os Portugueses que vivem em Portugal e os Portugueses que não vivem em Portugal. Primeiro traz uma mensagem de exclusão e os problemas do ensino da língua portuguesa é que quem não aprender português não vai ser português. Isto parece radical, mas eu conheço aqui na Alemanha filhos de portugueses que não falam português e eles não são portugueses. São portugueses no Bilhete de identidade, mas na realidade a língua é muito mais do que um veículo de comunicação, é também uma forma emocional de se relacionar com o país. Ao não considerar o ensino da língua portuguesa como um investimento, o que estamos a fazer é a excluir pessoas do exercício da sua cidadania, estamos a entregá-las a uma outra realidade que não é nossa. Defendemos, e já o defendi na última eleição, que o ensino tem de ser presencial, gratuito, tem de haver qualidade, divulgação, muitas pessoas não sabem por vezes que isso pode existir e o que eu tenho vindo a defender é que a tecnologia tem de ter um papel importante, não substituindo as aulas, mas pode ser um complemento ao ensino da língua portuguesa. Uma das ideias que eu tenho e apresentá-la-ei se for eleito é a criação de uma plataforma de e-learning, adaptada aos vários níveis de ensino, que possa ser um complemento de ensino, onde possa também ser dada informação cívica, educação ambiental e onde as pessoas possam aprender português em casa, num computador, numa aplicação. No fundo era uma universidade aberta aplicada à criança.

 

Isso já existe, o Instituto Camões já tem uma plataforma de ensino.

Já existe, mas nós queremos que seja complementar, que não fosse uma plataforma que existe e que segue um caminho diferente do que é dado nas aulas, mas que fosse um complemento ao que é dado nas aulas. Com a participação eventualmente do professor, é uma ideia para construir.

 

Tem vindo a falar do afastamento dos Portugueses residentes no estrangeiro em relação a Portugal, pelo facto de não se sentirem representados. Mas o Primeiro Ministro tem vindo a dizer que cada vez há mais emigrantes a investir em Portugal e a contribuição dos emigrantes foi importante durante os anos da crise. Recentemente veio a Paris e agradeceu aos emigrantes. Se se sentem afastados, como investem tanto em Portugal?

Não é uma contradição. As pessoas sentem-se afastadas, mas na realidade as pessoas têm um grande amor por Portugal, continuam com um sentimento de pertença, continuam a gostar da terra onde nasceram, a maioria dos emigrantes não tem necessariamente de ir a Portugal mas continua a acreditar em Portugal. Existe aquele sentimento de falta de agradecimento, que não é compensado pelo facto do Primeiro Ministro vir a Paris fazer uma pré-campanha, foi na realidade o que ele foi fazer a Paris.

 

Tenho de precisar que António Costa, quando fez essas declarações, estava em Paris enquanto Secretário Geral do Partido Socialista, no lançamento da campanha eleitoral do Candidato Paulo Pisco.

Os Portugueses gostam muito de Portugal, quem está fora, ou quer voltar ou sente uma grande relação de proximidade com Portugal. Mas as pessoas também se sentem afastadas e uma coisa não é contraditória da outra. Se criássemos condições, poderíamos ter muito mais da parte dos emigrantes e das pessoas que já nasceram fora mas que são portuguesas. Poderíamos ter mais se dessemos condições para isso e se promovêssemos isso, dando confiança.

 

Existe alguma proposta do PAN para incentivar os Portugueses residentes no estrangeiro a investirem em Portugal?

Acho que houve o estatuto de ‘Residente não habitual’ é uma ideia interessante, pode ser explorada, uma ideia que eu gostaria de levar ao Parlamento, que seria uma ideia em acréscimo a esse estatuto: a ideia de que a criação de postos de trabalho pudesse trazer benesses, um Português que vivesse fora de Portugal, que quisesse criar uma empresa e criasse postos de trabalho, que isso se traduzisse por uma imediata, que no fundo recompensasse essas pessoas. Estão foram de Portugal, regressam a Portugal, criam negócio, investem em Portugal, criam valor, criam postos de trabalhar, seria benéfico para toda a gente, e seria bom que isso tivesse incentivos financeiros.

 

O que me diz ao programa “Regressar” que apela aos Portugueses para regressarem a Portugal, com incentivos?

Não tem tido muito impacto. Da minha experiência, eu não sinto que a maioria das razões que o programa promove, consiga fazer com que quem viver fora de Portugal fique convencida para regressar por aquele programa. Tem de haver mais do que isso. Isto também tem a ver com a economia do próprio país, não só com o nível de desemprego, mas também com o tipo de emprego neste momento, quando todas estas questões forem atenuadas, podemos então pensar num programa Regressar com o sentido que a palavra significa. A ideia é interessante, tudo o que nos traz benefícios é interessante, mas não creio que este programa vá resultar.

 

Se não houver desemprego em Portugal e se os salários alcançarem a média europeia, então também não fará sentido haver incentivos ao regresso, porque as pessoas regressarão naturalmente, não é?

Não vale a pena cairmos na ideia de pensar que a economia do país vai atingir a média europeia em 4 anos, não é isso, as pessoas não necessitariam de ganhar o mesmo que ganham na França para regressar a Portugal. Agora a realidade é que quando olhamos para a economia e o tipo de emprego que foi criado, apesar de algumas pessoas já terem regressado, ainda não é uma razão suficiente para as pessoas regressarem. Temos de criar mais incentivos. Há muita gente a trabalhar em ideias cá fora, temos de pegar nelas e levá-las para dentro. O PAN tem uma medida que é criar incentivos para quem quiser investir em agricultura biológica, é uma proposta interessante que pode incentivar pessoas a regressar a Portugal. São propostas mais deste tipo.

Acha que devia haver um Ministério das Comunidades, até para que as questões das Comunidades fossem automaticamente discutidas em reuniões de Conselho de Ministros?

Eu gosto da ideia. O problema é o seguinte: imagine que o Governo crie o Ministério das Comunidades, mas depois, se não tiver autonomia, se não tiver força política, se não tiver orçamento adequado, se não tiver apoio parlamentar, vai aparecer o mesmo que acontece com o Ministério da cultura, que existe, mas existe mais no sentido figurado do que na prática. Seria uma ideia boa, obviamente, mas mais do que isso tem a ver com o compromisso do Governo para com as Comunidades. Vou ser muito sincero, o Governo poderia até nem ter uma Secretaria de Estado, se tiver um compromisso sério para com as Comunidades. Poderia ser mais vantajoso do que a criação de postos que não necessariamente trazer uma melhoria. Por vezes é mais a questão do estatuto do que o que aquilo vai traduzir e a mim interessa-me muito mais aquilo que o Governo tem para dizer, aquilo que os Deputados, sobretudo os Deputados eleitos pela emigração têm para apresentar no Parlamento, do que propriamente criar mais figuras e daqui por quatro anos estarmos aqui a discutir precisamente das mesmas coisas.

 

Há alguma outra proposta do PAN sobre as Comunidades?

Existe a questão da modernização, facilitação dos processos e continuar a trabalhar nesse sentido, o ensino da língua como já falámos e por último o fomento da atividade cívica, económica, associativa emigrante, promover mais autonomia, haver mais interação com os Deputados eleitos. No início estávamos a falar da não participação dos emigrantes e para nós, uma das formas de lutar contra essa não participação é a de incentivar essa participação cívica, criando grupos locais, partindo naturalmente das pessoas, isso é uma das coisas que poderá contribuir para reduzir a abstenção. Esta é uma das nossas bandeiras.

 

Como vai fazer a sua campanha? Desloca-se?

A nossa principal bandeira é a ecologia. Não faria sentido fazer uma campanha despesista, em que o candidato a Deputado pelas Comunidades fizesse um tour pela Europa. Temos de ser fiéis àquilo em que acreditamos e nesse sentido, tentar fazer uma campanha honesta, tentando fazer uma campanha por dentro, estar sobretudo nas redes sociais e no contacto online. Todos os dias contacto pessoas, todos os dias recebo mensagens e tenho feito campanha assim. Tem muito a ver com a própria filosofia do Partido e com a forma como nós acreditamos que o mundo deve ser, sustentabilidade redução da pegada carbónica é uma coisa que é importante para nós e não faria sentido fazer campanha de outra maneira.

 

Na última eleição para a Assembleia da República houve um primeiro Deputado eleito pelo PAN, para a eleição do Parlamento Europeu também foi eleito um Eurodeputado do PAN, em relação às próximas Legislativas, o objetivo do Partido qual é?

O nosso objetivo é fazer uma campanha esclarecedora, mostrar as nossas ideias falar das nossas preocupações naquilo que nós queremos trazer para o país. Temos várias propostas como por exemplo a criação de um Tribunal especializado em crimes de corrupção, criar um plano ferroviário até 2035 para que todas as capitais do distrito possam estar ligadas pelo comboio. A ferrovia é a prioridade do PAN porque tem havido desinvestimento ao longo dos anos, queremos criar benefícios financeiros e fiscais para quem faça agricultura biológica, criar a Secretaria de Estado para a terceira idade, e podia continuar. Convido as pessoas a lerem as nossas medidas. Em relação ao nosso objetivo para esta eleição em termos de número de Deputados, não é uma questão por enquanto. Eu gostaria muito que pudéssemos alterar aquilo que se passa nas nossas Comunidades. Eu acredito que poderia fazer a diferença. Não podendo ser eu a fazer a diferença, gostaria que existisse uma mudança porque não creio que sem essa mudança se vá alterar os nossos problemas.

 

Sobre o Conselho das Comunidades, é para manter?

Eu vejo criticas à sua ineficiência. Mas é uma voz e é uma voz que está presente, para dizer a verdade. Qualquer voz que possa ser ouvida no Governo central é bem vinda, temos de trabalhar para melhorar, mas nunca no sentido de reduzir, de bloquear, de limitar,… pelo contrário.

 

Demos a volta às questões… acabamos por fazer esta longa entrevista sem falar de animais.

Conseguimos. Eu não quero de qualquer forma negar que essa é uma questão muita importante para nós, mas o PAN não é só animais, o PAN é antes de mais ecologia ambiente e depois é melhorar a vida das pessoas. Está tudo ligado, melhorar a vida das pessoas e dos animais.