Livros: A África no Brasil

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Tougbo Koffi nasceu na Costa do Marfim, estudou em Abidjan, São Paulo e Paris e hoje é Diretor da formação artística e cultural do Ministério da Cultura e da Francofonia e membro do Comité científico do programa “A Rota do Escravo da Costa do Marfim”.

Com esta longa biografia, não surpreende portanto a recente publicação de “Africanismes et Africanités au Brésil” (Éditions l’Harmattan), uma obra onde Tougbo Koffi enceta um diálogo intercultural e linguístico, tendo como fundo e ponto de análise o Brasil. Um exercício que consiste em lançar um olhar sincrónico – graças a um método que se apoia na História, mas também em dados antropológicos, onomásticos e toponímicos – sobre a língua portuguesa do Brasil e o património artístico e cultural brasileiro para identificar certas realidades de origem africana tendo em vista analisar o seu alcance.

O objetivo deste trabalho de Koffi é o de dar um passado ao homem negro e à mulher negra, vítimas de quatrocentos anos de escravatura, um processo de grotesca violência que lhes obliterou a Memória individual e coletiva.

O trato negreiro transatlântico perpetrado pelos europeus entre os séculos XVI e XIX – os Portugueses foram pioneiros – levou à deportação forçada para a América, nomeadamente o Brasil, de vários milhões de africanos escravizados oriundos de diferentes, múltiplos e multiformes universos linguísticos e culturais.

O Brasil é o segundo país do mundo com maior preponderância de população de origem africana – mais de 100 milhões de indivíduos – sendo apenas ultrapassado pela Nigéria. São estes dois mundos tão distantes – Brasil e África – mas com um passado comum de grande violência e opressão (não esquecer que o racismo no Brasil é ainda uma das facetas mais estruturantes da identidade nacional) que Tougbo Koffi pretende conectar, estudando os rituais, as falas, as palavras, os usos e os costumes que, sobreviventes do genocídio esclavagista, unem ainda as duas margens do Atlântico.

De um lado, o Brasil, país-continente, multiétnico, mas de forte coesão nacional e linguística; do outro, África, um continente heterogéneo e heteróclita, composto por dezenas de países fortemente colonizados durante séculos, pátria de duas mil línguas. Duas realidades tão distantes embora tão próximas, fruto da mesma matriz africana.

Uma obra que luta contra o esquecimento e a secular tentativa de fazer tábua rasa do passado histórico dos africanos escravizados – para melhor os desumanizar – como se os povos de África não tivessem uma História própria, tão rica e variada com qualquer outra História, seja ela europeia, asiática ou da América pré-colombiana.

 

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