LusoJornal / Luísa Semedo

Morte de jovem cabo-verdiano encenada junto à Embaixada de Portugal em Paris

A comunidade cabo-verdiana manifestou-se no sábado junto à embaixada portuguesa em Paris, a capital francesa, pedindo justiça no caso de Luís Giovani, jovem que foi agredido em Bragança e morreu a 31 de dezembro no hospital.

“Estamos aqui para dizer que o povo cabo-verdiano em Portugal, em Cabo Verde e no mundo inteiro está ciente dos seus direitos e deveres e que achamos que a forma como foi tratado o caso não foi natural e normal. Estamos indignados. O mínimo que se espera é que se faça justiça”, afirmou Isabel Borges Voltine, uma das organizadoras da manifestação, em declarações à Lusa.

Este protesto juntou mais de uma centena de pessoas, na sua maioria da comunidade cabo-verdiana em Paris, e incluiu uma encenação simbólica da morte de Luís Giovani através de expressão dramática, assim como palavras de ordem.

“Como mãe, quando soube o que se passou, deu-me a volta ao estômago. Não podia ficar silenciosa. Muitas vezes ficamos calados, compartilhamos nas redes sociais, mas não agimos. Portanto, eu decidi agir e pedir para que as pessoas comparecessem para lutar contra esta injustiça”, disse Edna Rosa Semedo, outra das organizadoras do protesto.

A ideia inicial destas ativistas era a de fazer o percurso entre a Embaixada de Portugal e a Embaixada de Cabo Verde na capital francesa, mas devido ao conflito entre esta manifestação e as já habituais manifestações de sábado devido ao projeto de reforma das pensões, a Prefeitura de Paris não aceitou esse plano, limitando-se assim o protesto à frente da embaixada portuguesa.

Os manifestantes referiram mais o tema da injustiça e o atraso na investigação a este caso, mas a questão do racismo e da negrofobia esteve presente nesta manifestação.

“Não é o primeiro a morrer desta forma e isto continua. Não queremos uma justiça com dois pesos e duas medidas. […] É preciso que as pessoas se mobilizem para que este tipo de atos negrofóbicos não aconteçam mais. Não falamos em racismo, mas a verdade é que são jovens negros que acabam sempre mortos”, indicou Edna Rosa Semedo.

O sentimento era partilhado em quem respondeu ao apelo das ativistas. “Não posso dizer [que foi um crime de racismo], não sei o que as pessoas sentiram quando fizeram aquilo. Mas, normalmente, se fosse um branco na discoteca, acho que não fariam isso. […] E quando vivi em Portugal senti isso. Tive um primo e conhecidos que foram mortos pela polícia e nunca tiveram justiça”, disse Lenia Correia, natural de Cabo Verde, nascida em Portugal e que há cinco anos está em França.

Lenia trouxe à manifestação os seus dois filhos pequenos para que eles “cresçam com força” e afirma não querer despertar qualquer ódio contra os portugueses ou franceses. “Queremos paz e justiça, porque nada vai trazer a vida do Giovani de volta”, afirmou.

Esta vontade de paz foi uma constante durante todo o protesto, com a maior parte dos manifestantes a envergarem camisolas brancas com a cara de Luís Giovani e balões brancos entre as bandeiras de Cabo Verde.

Vigílias de homenagem ao estudante cabo-verdiano Luís Giovani, que foi agredido em Bragança e morreu a 31 de dezembro no hospital, realizaram-se em várias cidades portuguesas, mas também na Praia (em Cabo Verde) Londres, Paris e Luxemburgo.

 

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