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Natal 1917 dos alguns oficiais portugueses em França | Noël au côté de civils français

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Laventie, Estaires sont des noms de communes du Nord de la France à mes oreilles, et bien plus, familiers. Un père, chassé de sa région de naissance et hébergé dans une famille d’adoption à Laventie, rencontre sa future épouse, ma mère. Les deux générations précédentes connaissent d’autres migrations régionales liées à la guerre. Pendant que des soldats quittent leur Portugal pour combattre en France (certains vont s’y installer), des civils, dont ceux de ma famille, quittent la zone de guerre des Flandres pour trouver refuge ailleurs. Certains ne reviendront pas…

Ce récit de décembre 1917 résulte d’une transcription, en respectant la ponctuation et les mots, de l’extrait d’un livre (*) écrit après-guerre par un Officier portugais. Il permet de s’imprégner de quelques moments de vie près du front portugais en France, au contact des civils.

D’autres extraits seront transcrits au LusoJornal et les éléments concernant des individus identifiés, apportés en fonction des lectures.

L’auteur dédie ce livre «A Memória dos Sapadores-Mineiros caidos em França», à la mémoire des soldats sapeurs-mineurs qui participaient à la construction des tranchées et abris, à l’entretien des routes… en Flandres françaises. Plusieurs noms de sapeurs-mineurs figurent parmi les morts du Mémorial virtuel, aux Archives historiques militaires portugaises, décès de juillet 1917 à avril 1918 (Bataille de la Lys).

Dans un extrait, Eurico Teixeira de Sousa parle des civils restés près du front, en zone occupée par les Alliés depuis 1914. Ils font commerce à Noël avec les soldats. La bouchère prend commande des dindes, canards… Madame veuve Salomé / Salomez vend ses gâteaux pour l’Armée britannique, les «plum-puddings». Il cite l’imprimerie Guesquière / Gesquière / Guéquière (une famille nommée Guyquières par Humberto d’Almeida dans son livre «Memórias dum expedicionário a França»)

Eurico Teixeira de Sousa exprime la «Saudade» d’être loin du Portugal et des familles à l’approche des fêtes. Un jour de repos est accordé à Noël, la nourriture est améliorée (viande de porc et riz en abondance). Il raconte la «trêve de Noël» tant espérée qui n’aura pas lieu comme en 1914, les larmes qui montent aux yeux après le discours et les courriers reçus aux mots réconfortants.

Un beau jour de Noël enneigé sans distribution de punitions… Venant de Sailly, non loin de Laventie, un «concert» bruyant de l’artillerie lourde allemande et des sifflements de petits projectiles…

Le dîner de Noël est de fête, nourriture venant d’Estaires et champagne, vins. Mais le cœur est plein de tristesse, loin des familles et l’absence de l’enfant Jésus…

 

Transcription d’un extrait du livre:

 

“Boas festas!.., Boas festas!…

Quase que chegaríamos ao Natal sem dar por isso se os garridos aspectos das montras das lojas não viessem despertar essa recordação.

Os modestos estabelecimentos de Laventie tinham ar de festa e quem quizesse gastar dinheiro tinha bem em que o dispender. E em Estaires! Isso nem se fala… Tudo denunciava festa…

Mme veuve Salomé regorgitava de lambarices e não tinha mãos a medir a vender plum-puddings e Christmas-Cakes, anunciados em grandes letreiros por cima da porta do estabelecimento. Uma esquiva sombra empanava essa alegria: o filho a quem tinham pago o braço direito com a Médaille Militaire e que nunca mais tivera uma hora de contentamento.

A imprimerie Guécquière tinha as vitrines e paredes cheias de cromos e bilhetes de b. f. e em frente no talho, onde pontificava uma dama de indefinida idade que com um lenço preto encobria a cabeça pelada, anunciava-se que se tomava encomendas de patos e perus.

…Era triste passar um Natal fora da sua casa e ainda mais custava pelas circunstâncias em que estávamos. Mais um Natal em que os homens se matariam uns aos outros esquecidos daquela ‘paz na terra, aos homens de boa vontade’ que em 1917, anos antes, tinha sido anunciada no estábulo em que nascera a Apóstolo do amôr…

E à medida que a festa se aproximava, a saudade…

Correu um boato: em dia de Natal haveria tréguas, a matança seria suspensa para que, de parte a parte, não corresse sangue.

Assim acontecera nos anos anteriores com mais ou menos tácita aprovação, chegando-se a confraternização de amigos e inimigos. Que não fôsse admitida à disciplina sem a qual não há soldados; mas que as mortíferas bocas de fogo se calassem por umas horas, por que não?

Muita gente acreditou – e eu fui desse número – nesse boato que encontrou terreno propício para sua efetivação da parte daqueles que nas linhas passariam o dia.

Não sei como é que os soldados recebiam as notícias em primeira mão – muitas vezes fizera esta observação – e foram eles que me deram a nova de que não haveria tréguas. Acrescentavam que os ingleses é que tinham influído para que tal não sucedesse. Se foi assim, não sei; o que sei é que as notícias oficiais se encarregaram de confirmar que a festa do Natal ficaria assinalada por actos de força…

Recebemos instruções para o dia e por elas se viu que, a determinadas horas, a artilharia, os morteiros e as metralhadoras, despejariam a sua metralha sobre as linhas boches…

…Dia de Natal. Foi concedido um dia de repouso.

Manhã dedo, ainda eu estava no saco, entra o bom do 477 que me dá as b.f. e me participa que há gente à espera de me falar. Num ápice me apronto e mando entrar quem é.

Surge o sargento Costa, o mais antigo da secção, com uma deputação de soldados; trazem-me os cumprimentos de b.f.

Com a toilette dos dias grandes, pômo-nos a caminho da missa de festa, com uma alegria fictícia que procuramos incutir uns aos outros. O pior é o que vai nos corações…

Quando regressámos é a hora de distribuição do rancho à companhia. As secções formam ‘au complet’, sargentos à frente. Penosa tarefa, a dos comandantes de secção, em dia de hoje, a de falar aos companheiros de quasi meio ano de campanha…

Quando acabo de falar, em muitos olhos assomam atrevidas lágrimas…

O 477 distribue a cada dos 6 homens da secção uma pequena lembrança, que tem o dom de espalhar tristezas…

No correio do dia não faltam b.f. e palavras de conforto.

Um lindo dia de neve mui branquinha…

E a manhã tranquila talvez que fizesse crer aos Alemães que havia paz.

São chegadas as horas de distribuição do rancho da tarde, rancho melhorado em que entra carne de porco assada e arroz doce em fartura, para ajuda do qual o generoso C.E.P. contribuiu com 50 cêntimos por cabeça… Com tal ajuda, havíamos de ir longe… Felizmente que se arranjaram mais uns posinhos…

Naquele dia, a Ordem não levou tempo a ser lida e nela não constou um só castigo.

Conversava eu com o Rodrigues de Carvalho quando fomos surpreendidos por um grande clarão, das bandas de Sailly, bem depressa seguida de detonações produzidas pelo disparo das peças de grande calibre. Foi o sinal para começar o antipático concerto…

Aos sons da artilharia pesada misturam-se os silvos dos projécteis de menor calibre, enquanto das linhas chega o abafado som dos morteiros… Boa forma de dar as boas-festas!

…Da parte dos Alemães há sossego, com certeza que com desespero…

…7 e 1/2 da noite; estamos à mesa: Soares Leite, Rodrigues de Carvalho, Carlos Figueiredo, Castelo Branco, Carvalho Martins, Barata Teles, Adolfo Leopoldo, Vidal Gachineiro e a minha pessoa.

Dos nossos amigos faltam o Neves de Carvalho, o Silva Reis e o Gaspar Cerqueira que, com certeza, à mesa familiar onde a licença de campanha os levara, se lembrarão de nós…

O jantar é de festa e não falta o perú que o amigo Martins arranjou em Estaires por gentil medianeira…

Há uma alegria aborrecida, por menos verdadeira, e até o Leopoldo, de nós o mais alegre, não consegue dissipar a tristeza que nos vai na alma… Seria o caso dum doente querer dar saúde a outro enfermo. E quando o capitão Soares Leite ergue a taça: ‘Às nossas famílias’ o silêncio é geral…

…Venha mais Champagne, corra o vinho fino, afoguem-se as mágoas… A noite é linda, brilha o luar e um manto de imaculada alvura cobre a terra da Flandres…

Noite fora continua o infernal concerto…

…o Menino Jesus ou não desceu à terra para o costumado passeio, ou então teve medo dos alcatruzes que eram as minhas botas de drenos que tinham ficado no apagado lar…

Fosse por que fosse, não se dignou deixar-me a lembrança…

 

(*) Eurico Teixeira de Sousa, Tenente miliciano

4a C.S.M. do C.E.P. (Compagnie de Sapeurs-Mineurs du Corps Expéditionnaire Portugais)

In “Verdades amargas da Grande-Guerra – Sapadores-Mineiros em França”

Companhia portuguesa Editora, Porto.

Date non connue, après-guerre.

 

«Paz na terra, aos homens de boa vontade»

Paix sur la terre, aux hommes de bonne volonté

 

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