LusoJornal / Mário Cantarinha

O 25 de Abril do economista José de Paiva

No dia 25 de Abril de 1974 estava na Dinamarca, onde exercia as funções de responsável de marketing no Portugisiske Handelsburo, escritório do Fundo de Fomento de Exportação (cinco anos mais tarde designado por ICEP). Alguém telefonou da sede do FFE em Lisboa a dar a informação de que tinha havido um movimento revolucionário, mas depois era muito difícil ligar para Portugal para ter outras notícias sobre a sua evolução, as linhas telefónicas entre os dois países ainda não estavam automatizadas. Corri para casa, a televisão dinamarquesa mostrava imagens, a preto e branco, sobre a Revolução, mas… em dinamarquês.

Naquele tempo, na Dinamarca, como na Suécia e outros países nórdicos, havia ocasionalmente certas manifestações contra o colonialismo de Portugal, o que podia justificar um suposto otimismo ou simpatia que eu julgava descortinar nos comentadores, apoiando o Movimento. Mas logo fui confortado pelas imagens evidentes de alegria da população portuguesa, dos ajuntamentos imensos e pacíficos, das vozes dos manifestantes cantando “Grândola, Vila Morena”, ou das vendedoras do Rossio a oferecerem cravos.

No Hotel Sheraton de Copenhaga, havia um telex da agência noticiosa Reuters que debitava em permanência todas as notícias importantes do mundo. Pude, assim, quase em tempo real, reconfortar-me com esses sentimentos de liberdade que, minuto a minuto, hora a hora, eram debitados pela agência noticiosa.

Três dias depois, no dia 28 de abril, apanhei um avião para Portugal, o aeroporto estava ocupado pelas Forças Armadas e vi como se respirava a liberdade (como diz o poeta).

 

José de Paiva

Economista, ex-Cônsul Honorário de Portugal em Orléans

 

Testemunho recolhido para o LusoJornal, no quadro da Exposição sobre os 40 anos do 25 de Abril, do fotógrafo Mário Cantarinha, publicado na edição em papel do LusoJornal de abril de 2015.

 

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