LusoJornal / Mário Cantarinha

O 25 de Abril do historiador Manuel do Nascimento

O 25 de Abril representa a liberdade do povo português e do ser humano. O fim de 48 anos de repressão intelectual e cultural que tanto empobreceu culturalmente o nosso país.

Alguém pode imaginar, e esquecer, que no século XX, Portugal, um país europeu, teve a ditadura mais longa da Europa? O terror das escutas telefónicas e o roubo das correspondências eram frequentes. Todos os telefones de Portugal inteiro podiam ser controlados pela PIDE com a conivência dos CTT, tal como acontecia com a correspondência, violada e roubada diariamente em todas as estações de cidades, vilas e aldeias. Foram encontrados vários documentos que comprovam a intervenção pessoal de Administradores dos CTT neste duplo trabalho, e até, com várias carrinhas diariamente no seu transporte para a rua António Maria Cardoso, sede da PIDE.

Os antifascistas portugueses eram apresentados pela PIDE nos jornais e nos meios de comunicação como agitadores e criminosos.

Além das diversas torturas, havia a tortura da frigideira. Era um quadrado de cimento com seis metros de lado. As paredes e o teto tinham uma grossura de um metro. Não havia janelas. Só uma porta de ferro com um pequeno buraco em baixo. O sol fazia subir a temperatura lá dentro a 55 e 60 graus. Chegavam a estar ali metidos seis homens de cada vez. Resistiam entre seis e dez dias e depois eram retirados em braços. O corpo numa chaga com a pele a cair. Daí vem o nome de Frigideira.

Salazar, era um homem que tinha todos os poderes do país. Sabia o que queria e para onde queria ir (sic).

Quando se deu o 25 de Abril, encontrava-me já em Paris. Como trabalhava no meio da imprensa escrita, fiquei a saber desde os primeiros minutos. As informações variavam nos diversos jornais e revistas. Em França, as informações começaram a ser mais credíveis a partir do dia 26 de abril, visto haver na capital portuguesa jornalistas do mundo inteiro. Nunca na história de Portugal houve tantos jornalistas nacionais e internacionais na capital portuguesa. Nunca tanto falaram de Portugal, como nesta viragem histórica do país. Em todos os continentes se falava de Portugal e da Revolução dos cravos.

O 28 de maio de 1926 morreu com o 25 de abril de 1974. O Estado Novo português, ficou velho, e acabou por morrer.

Nasceu um outro Estado português, o Estado da democracia e da liberdade. Portugal é hoje um país da Europa e Europeu. Esta liberdade usa-a da melhor maneira. Não se deve esquecer, que esta liberdade deve-se aqueles, que por muitos, deram das suas vidas nas prisões da PIDE.

Para que isso não volte a acontecer em Portugal e preservar essa liberdade, é preciso votar. ‘O voto conta’ e quem não vota ‘não conta’. Que as eleições não sejam uma mascarada de eleições livres, como aconteceu em Portugal durante muitas décadas.

Salazar posicionou Portugal na categoria dos regimes ditatoriais, para controlar e reprimir a vida política e intelectual do seu país. Salazar apoiava-se particularmente no terror que exercia a PIDE com perto 300.000 agentes, bufos e informadores, não só em Portugal como também no estrangeiro. Era uma rede de terror muito bem organizada. Tantas mulheres e mães choraram pelos seus maridos ou filhos que foram torturados, por homens, mas não por seres humanos.

O 25 de abril de 1974 marcou uma volta histórica para a sociedade portuguesa. A Revolução dos cravos restituiu aos Portugueses os direitos fundamentais dos cidadãos e das liberdades essenciais para a libertação de Portugal.

Espero que a imprensa, cultura e a literatura nunca mais sejam submetidas ao regime férreo como durante o Estado Novo. O povo deve estar atento. Mesmo, se em Portugal, e, hoje, não é um mar de rosas, o povo tem a liberdade de escolher os homens políticos que governam o país, mas, para isso é necessário votar, votar por ou contra ou ainda branco. Hoje temos essa ferramenta que não havia outrora, pelo menos para todo o povo, ou então havia simulacros de eleições. Hoje não podemos dizer que não vale a pena votar, porque são todos iguais. Sim, é preciso votar! Se ninguém nos agrada, porque, se diz serem todos iguais, vota-se branco, mas vota-se. Vota-se e vota-se sempre.

Hoje também já não há medo, e nós sabemos que se pode falar à vontade sem que, como antes do 25 de Abril, estar sempre com o medo que alguém nos vigie e que sejamos denunciados por um vizinho e por vezes até por familiares, só porque éramos diferentes destes ou daqueles e por esse motivo, vinham os Pides, a nossa casa, para nos levarem para a prisão ou alguém da nossa família, sem que se soubesse porque razão.

Queria aqui deixar uma última mensagem: não se esqueçam, que todos os anos existe o mês de abril, que em todos os meses de abril existe o 25, porém, o 25 de Abril de 1974, foi um dia especial para todos os Portugueses e par a história de Portugal.

Contem esta história da nossa História aos vossos filhos e netos. Será a melhor homenagem que se possa prestar a todos aqueles que lutaram pela liberdade e fizeram o 25 de Abril de 1974.

 

Manuel do Nascimento

Historiador

 

Testemunho recolhido para o LusoJornal, no quadro da Exposição sobre os 40 anos do 25 de Abril, do fotógrafo Mário Cantarinha, publicado na edição em papel do LusoJornal de abril de 2015.

 

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