O “Crepúsculo” do mundo de Macron? – Um livro do lusodescendente Juan Branco

Juan Branco, advogado, de 29 anos e filho do produtor de cinema português Paulo Branco, entrou de rompante no top de vendas francês com o seu livro “Crépuscule”, um ensaio político que constitui um dos mais fortes ataques ao sistema estabelecido pelo Presidente francês Emmanuel Macron. Uma obra que há poucos meses, à falta de editor interessado, foi disponibilizado gratuitamente pelo autor na internet em formato PDF. Todavia, o conservador mundo da edição também é capaz de dar súbitas e rocambolescas reviravoltas e demorou, apesar das resistências, pouco tempo a publicar um livro que se vende a si próprio graças à polémica imediata que gera, sobrevivendo sem problemas ao elucidativo silêncio com que os media o cobriram.

Nascido na Andaluzia, filho de Paulo Branco e da psicanalista espanhola Dolores López, o jovem ativista franco-espanhol cresceu entre o 5º e 6º bairros parisienses e estudou na muito seletiva École Alsacienne, instituição de ensino privada fundada em 1874. Frequentou o Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), a École Normale Supérieure e as Universidades de Paris IV e Paris I.

Crítico de uma certa arrogância intelectual e mania da superioridade demonstradas pelo Presidente francês, Juan Branco, em entrevista à Sud Radio a propósito de “Crépuscule”, afirma que “eu tinha vontade de que aparecesse alguém oriundo de um meio igual ao de Macron, que tenha pelo menos feito os mesmos estudos, que tenha os mesmos títulos de glória, que lhe atirasse à cara esta violência, esta violência simbólica que consiste em olhar de alto os cidadãos, julgando-se superior a eles por causa dos estudos que realizou”. Esse “alguém” é Juan Branco.

Vindo ele próprio de um meio que muitos considerarão elitista, afinal durante a infância recebia em casa celebridades como Catherine Deneuve, Juan Branco, que fala um português perfeito, cedo se mostrou contrário a essa “elite” através do militantismo estudantil, chegando a participar na ocupação da École Normale Supérieure. A sua posição contra as “elites” socioeconómicas e políticas francesas, uma espécie de aristocracia republicana, ganhou novos contornos de radicalização com a eleição de Emmanuel Macron.

O seu livro “Contre Macron” (2017) é a prova mais óbvia disso mesmo, não fosse a sua premissa a seguinte: “o Macronismo é uma nova variante do fascismo, e teremos de prestar a maior das atenções à maneira como vamos desligar essas pessoas das nossas instituições no momento da necessária mudança democrática, algo que eles tentarão compulsivamente evitar”.

Este jovem advogado, que já foi Conselheiro jurídico de Julian Assange e parece ter vivido duas vidas nos seus escassos 29 anos, volta à carga em “Crépuscule”. Nas palavras dos editores Au Diable Vauvert e Massot Éditions, podemos ler que “através da pena inflamada de um jovem adulto formado para integrar as elites, mas acreditando ainda na República, este livro denuncia e expõe as provas de uma captura da Democracia por poderosos oligarcas em favor de interesses de casta. E como o Presidente Emmanuel Macron é tanto a criatura como o instrumento”.

Candidato pela França Insubmissa às eleições legislativas de 2017 – rompeu pouco depois com o Partido de Jean-Luc Mélenchon – e um dos rostos mais mediáticos do Movimento dos Coletes Amarelos, Juan Branco é de uma acidez profundamente corrosiva na análise ao status quo e das tensões que neste momento fazem explodir a sociedade francesa. Não sendo um livro revolucionário ou anticapitalista e sendo tão militante e propagandista como “Révolution”, escrito por Emmanuel Macron em 2016, “Crépusculo” é um livro divisivo escrito por um jovem e polémico intelectual que reflete a fratura do tecido social francês e que tem o potencial para se transformar no colérico manifesto de uma parte da população que se sente traída e esquecida e a quem tudo opõe à franja (da qual Macron se tornou o símbolo e que Juan Branco conhece bem por dela ser oriundo) que sempre teve o Poder e que nunca teve qualquer pejo em usar meios pouco recomendáveis, como o nepotismo, para “ajudar os seus”. Um livro que para uns será um autêntico evangelho e para outros não passará de mera propaganda barata, mas que certamente não deixará nenhum indiferente a meio da ponte. Ou se ama ou se odeia.

 

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