LusoJornal / Mário Cantarinha

Opinião: Mais foleiro ainda do que a camisa aberta até à barriga

Cá estamos de novo, depois das férias. Depois destas férias estranhas, que para alguns nem foram férias!

Estava agora a pensar no que escrever, quando dei comigo mergulhado nas memórias dos anos 70 e 80. Na altura eu ainda não era emigrante, mas via chegar à aldeia, todos os anos, os muitos emigrantes da terra que passavam férias em Portugal.

Há situações que ficam marcadas na memória: aquele meu vizinho que chegava de camisa aberta até à barriga, com uma corrente de ouro ao pescoço, aquele rapaz com um corte de cabelo à Joe Dassin, aquele carro que ficava estacionado à frente do café, cujo alarme disparava para que toda a gente o visse…

Foram situações que passaram, que fazem parte da história da emigração portuguesa, até da história recente de Portugal. Mas já passaram.

 

E por que razão vos digo isto hoje?

É precisamente por causa das férias.

– Este ano houve quem não tivesse tirado férias. Ficaram por casa, com medo de serem contaminados ou de contaminarem. Também fizeram bem, dedicaram-se certamente à jardinagem ou à “bricolagem”, e são atividades também recreativas além de serem úteis.

– Também há os que passaram férias por cá. Tiveram medo que as fronteiras fechassem e como não queriam ficar prisioneiros em Portugal, preferiram correr o risco de serem contaminados em França. Também fizeram bem, porque a França também tem regiões bonitas para descobrir.

– Finalmente ouve os outros – nos quais me incluo – que, com todas as precauções que se impõem, foram a Portugal de férias, visitaram o país e a família e contribuíram para atenuar o efeito negativo da pandemia na economia do país.

Antes das férias, foram evidentes os apelos das autoridades políticas portuguesas para que os emigrantes fossem de férias a Portugal, desde o Presidente da República ao Primeiro-Ministro, passando por vários Ministros, Secretários de Estado e Deputados. Todos mostraram claramente que os emigrantes eram necessários para o país e que aquilo que nós pudéssemos gastar em Portugal neste momento, ajudaria efetivamente a economia portuguesa.

Eu fui a Portugal de férias.

Respeitei as regras sanitárias e passou-se tudo bem. Vi a família mais chegada, fiz turismo com pouca gente. Soube bem.

Sabem do que não gostei?

Foi de ver os carros dos Bombeiros e da GNR em algumas localidades do país a cuspirem nos altifalantes, mensagens dirigidas aos emigrantes, pedindo-nos que nos portássemos bem e que respeitássemos as regras sanitárias, como se nós fossemos extraterrestres.

Para mim, foi mais foleiro ainda do que os emigrantes dos anos 70, que tinham a tal camisa aberta e a corrente de ouro pendurada ao pescoço.

Mas esta, é apenas a minha opinião!

 

Esta crónica do jornalista Carlos Pereira, Diretor do LusoJornal, é difundida todas as semanas, à quinta-feira, na rádio Alfa, com difusão antes das 7h00, 9h00, 11h00, 15h00, 17h00 e 19h00.

 

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