Opinião: O PSD é um partido estranho

O PSD é um partido estranho, que tem um problema sério com a realidade e outro, não menos sério, com a memória. É reconhecidamente um partido pragmático e, se calhar por isso, não hesita em utilizar o que está à mão para fazer valer os seus argumentos, incluindo o país e a perceção que os portugueses têm dele, como acontece, por exemplo, em relação às remessas, que em 2017 atingiram o valor mais alto de sempre, superior a 3,5 mil milhões de euros, segundo o Banco de Portugal.

O aumento ou diminuição das remessas tem muito a ver com a conjuntura, tanto do país como da economia global. Mas, claro, também tem elementos de leitura sobre as motivações das pessoas que as enviam, mas que nos dados fornecidos nunca surgem. Tal como não é fornecida informação sobre o destino desse dinheiro, que é importante para garantir liquidez à banca e proporcionar investimentos. E aqui sim, seria importante uma análise aprofundada que permitisse perceber melhor a real importância das remessas para o desenvolvimento nacional porque, por acréscimo, permitiria valorizar as nossas comunidades de uma maneira mais sólida e informada.

Mas, obviamente, as remessas refletem também uma confiança em Portugal, que hoje atravessa uma estabilidade invejável e indicadores económicos que se revelam sempre melhor do que o inicialmente previsto. E sem haver as birras caprichosas como as do então líder do CDS, Paulo Portas, que anunciou aos sete ventos uma “decisão irrevogável” que revogou logo a seguir, quando Passos Coelho lhe deu o lugar de vice-Primeiro-Ministro.

Mas quem ouvisse o Deputado Carlos Gonçalves falar no programa “Pontos de Vista” da RDP-Internacional em setembro de 2016 sobre a diminuição das remessas e comparasse com os dados atuais, certamente ficaria a pensar no assunto. É que, nessa altura, perante uma diminuição das remessas, o Deputado não se coibiu de a atribuir a uma falta de confiança no Governo do Partido Socialista, recém empossado, associado aos outros partidos de esquerda. “Quem está no estrangeiro vê que não tem razões para investir o seu dinheiro em Portugal”, dizia então o Deputado. “As pessoas têm cada vez menos confiança no país e a diminuição das remessas é um sinal claro da falta de confiança neste Governo e no futuro do país”. Ou seja, não hesitou em atingir a imagem de Portugal para fins partidários.

Pegando então nesta lógica de raciocínio o que se poderia dizer agora sobre o enorme aumento (utilizando a expressão do então Ministro das Finanças Victor Gaspar quando anunciou a subida dos impostos) das remessas, que em 2017 foram as mais altas de sempre, ultrapassando os 3,5 mil milhões de euros? Diria, obviamente, que a confiança dos portugueses residentes no estrangeiro no país e no Governo é atualmente a mais elevada dos últimos vinte anos.

A verdade é que, por mais que desagrade ao PSD e ao CDS, a “geringonça” funciona bem e tem sido o motor da reposição de rendimentos e de um clima de serenidade na sociedade portuguesa, de maior justiça social e melhor redistribuição da riqueza, o que nunca aconteceu durante o anterior Governo, que ficou marcado pela tensão permanente e pela conflitualidade, acentuada pelos cortes nos rendimentos e no aumento da carga laboral.

E aquilo que vale para as políticas públicas para o país é igualmente válido para as comunidades e para a atuação do Secretário de Estado José Luís Carneiro, por mais que o PSD tente desacreditar os progressos que se têm registado em termos do atendimento consular nos postos e nas permanências, no ensino de português, particularmente após os importantes acordos com a França e com o Luxemburgo, na alteração às leis eleitorais, de que merece destaque o aumento do universo de eleitores com a implementação do recenseamento automático no estrangeiro, no envolvimento dos empresários das comunidades e sobretudo da reanimação do Gabinete de Apoio ao Investidor da Diáspora, nos apoios ao movimento associativo, na modernização tecnológica, com destaque para a criação dos “Espaços do Cidadão” em vários consulados com maior afluência, no reforço da ligação com os nossos compatriotas através dos “Diálogos com as Comunidades”, no reforço da presença em países que exigem maior intervenção do Governo como é o caso da Venezuela e do Reino Unido, entre várias outras coisas.

A realidade é que, hoje, com o Governo de António Costa, Portugal tem o défice mais baixo da nossa democracia, temos o maior crescimento dos últimos 20 anos, o desemprego continuar a baixar e a administração pública vai repondo os funcionários que o Governo do PSD suprimiu, incluindo a nível dos consulados e embaixadas. Virou-se a página da austeridade, mesmo que o PSD procure negar as evidências, o que é uma forma estranha de tentar ocultar a realidade e apagar da memória a dureza e crueldade de uma austeridade que teve consequências tão dramáticas para milhares de famílias e empresas.