Portugal de Norte a Sul, pela EN2 de bicicleta – Etapa 4: Montemor-o-Novo – Faro 213 km

Montemor-o-Novo acordou com nevoeiro e pelas 7h20, com apenas 6 graus de temperatura, fizemo-nos à estrada para tentar recuperar os quilómetros perdidos. Hoje era dia do «tudo ou nada».

A motivação era grande, queriamos terminar esta aventura no fim desta etapa, custe o que custar. Sentia dores nos joelhos e tinha quadris inchados, sinal que a noite não tinha sido tão reparadora que as anteriores. As primeiras pedaladas foram dolorosas e irregulares, como um carro antigo que arranca a frio aos soluços. O Carlos estava em melhor forma do que eu, e ia passando os pequenos topos do relevo alentejano sem dificuldade.

De Montemor-o-Novo até Ferreira-do-Alentejo, onde parámos para beber um café e abastecer em águas, o nevoeiro foi desaparecendo e as temperaturas foram subindo. Poucos quilómetros depois de Ferreira, fomos alcançado por Manuel, um barcelense que rumava a Faro. Manuel não tinha calhado na graça de São Pedro, pois enquanto nós apenas apanhámos chuva em Castro Daire, para Manuel o dia de hoje era o seu primeiro dia de aventura com sol. Chegara a apanhar neve depois da Régua.

Separamo-nos de Manuel em Aljustrel onde a sua família o esperava para almoçar e decidimos continuar até Castro Verde para almoçarmos a nossa habitual bifana do meio dia. Faltavam cerca de 100 km.

Entravámos cada vez mais em território conhecido, estradas que de carro, já tinhamos percorrido, o que nos deixava ainda mais motivados.

Decidimos separarmo-nos dos nossos sacos em Almodóvar, com pessoas conhecidas do Carlos, para subirmos a Serra do Caldeirão e meter todas as chances do nosso lado.

De Almodóvar até Alportel, passamos por 60 km de estrada-património, com 366 curvas, sinalética em cimento e com blocos de cimento pintados de preto e branco ligados por um arame ou rede a servir de rail de segurança, um verdadeiro salto no tempo.

A Serra do Caldeirão estava a ser dura connosco. As subidas e descidas eram intermináveis, até chegar ao Barranco do Velho.

Faro estava pertissimo, e o pedaço que nos faltava percorrer até chegar ao marco dos 738 km já era bem conhecido. Quando residia em Faro apontava muitas vezes a minha bicicleta para o Barranco do Velho, para ir andar de bicicleta, como muitos ciclista da Zona de Faro e Loulé.

Do Barranco do Velho para Faro, as dores nos joelhos tinham desaparecido com o sentimento de satisfação de estarmos perto do nosso destino.

Chegámos ao quilómetros 738, pelas 19h40 onde fomos recebidos pela minha mulher e a nossa filha, e por um casal amigo.

Esta aventura de bicicleta foi a mais dura que fiz até agora. A quantidade de quilómetros por dia eram dignos de uma Volta a Portugal. Talvez fomos demasiado confiantes, e não esperávamos por tanta dificuldade para conseguir concluir esta aventura em 4 dias, mas a missão foi cumprida, com muito suor e alguma dor.

Recomendo uma viagem pela EN2 às pessoas que pretendam conhecer o interior do nosso país e fugir dos grande polos turísticos como Lisboa, Porto e as praias do Algarve. Seja de bicicleta, de mota ou de carro, a EN2 surpreenderá pela positiva. Encontrarão gente genuína por onde passam, cidades e vilas lindas e paisagens deslumbrantes.

Não será de certo a última vez que percorri a EN2. A próxima deixarei a bicicleta em casa, para fazê-lo em família e com tempo para visitar e descobrir as curiosidades do interior do nosso país.

 

 

Nota do LusoJornal:

Marc Jacinto mora em Paris, onde representa o Crédito Agrícola, e durante cinco dias contou-nos aqui, no LusoJornal, a aventura de percorrer, de bicicleta, durante 4 dias, a Estrada Nacional 2, entre Chaves e Faro.

As fotografias que nos mostrou, tiradas durante o percurso, ajudam os nossos leitores a escolher destinos para as próximas férias.

Para o LusoJornal, mais do que dar «boleia» às aventuras de Marc Jacinto, fica o sentimento de mostrar uma Comunidade heterogénia, dinâmica e empreendedora.

Parabéns ao Marc Jacinto por ter atingido este objetivo.

E… ficamos à espera de novas aventuras propostas pelos nossos leitores!

 

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