Ricardo Lúcio é o Chef de cozinha do Hotel de Sers em Paris

O português Ricardo Lúcio é, desde maio, o Chef do restaurante do Hotel De Sers, em Paris, a dois passos dos Champs Elysées.

Ricardo Lúcio é de Lisboa e os pais são de Beja, no Alentejo. «O meu pai era chefe de sala e foi ele que me transmitiu o bichinho pela cozinha. Quando acabei a minha escola preparatória, propôs-me ir para a escola de hotelaria. Comecei a fazer estágios e rapidamente trabalhei com chefes franceses» explica ao LusoJornal.

Ainda em Portugal trabalhou na Fortaleza do Gincho, com o Chef Antoine Westermann, no Eleven, em Lisboa, com Cyril Devilliers, que depois acompanhou para os Oitavos, na zona de Cascais.

Veio para França, por acaso. «Inicialmente eu queria ir para a Austrália, porque praticava surf e queria apanhar umas ondas. E como há muitos chefes de cozinha franceses que estão na Austrália, aconselharam-me a fazer o meu curriculum em francês. Publiquei num site especializado e tive logo uma chamada de um restaurante francês».

Passou 7 meses por um restaurante com uma estrela Michelin, em Metz, depois esteve uma temporada na Corse, também num restaurante com uma estrela Michelin, outra temporada em Courchevel, depois passou pelo restaurante de Anne Sophie Pic, em Valence, veio para Paris onde trabalhou no hotel Le Cinq Codet e desde maio que está no Hotel de Sers, um Palace parisiense, com 5 estrelas.

«Quando assinei o meu contrato, vim eu e a minha cozinha, com as minhas receitas, aquilo que eu gosto e sei fazer. Podemo-nos adaptar aos gostos dos clientes mas a carta é minha e sou eu que decido» explica ao LusoJornal. «Está previsto a partir de janeiro integrar, por exemplo, os bacalhaus confitados. É complicado porque os Portugueses ainda não são bem vistos em França nesta área da gastronomia. Temos vários clichés».

Ricardo Lúcio conta mesmo que a família da namorada francesa nunca tinha visto um chefe cozinheiro português. «Mas tento integrar os melhores produtos portugueses, como os azeites e os pimentos. Mas como é óbvio, a minha cozinha é muito francesa também».

Contudo, está confiante que consegue conjugar a cozinha francesa com a cozinha portuguesa, mas devagar para poder ir divulgando os produtos portugueses. «E mais tarde poder propor bacalhau ou polvo. É difícil propôr polvo aos franceses».

O restaurante tem uma clientela variada. Ao meio dia são sobretudo quadros dos escritórios daquela zona de Paris, advogados, arquitetos, médicos, agentes imobiliários,… enquanto à noite são mais casais «que vêm com mais tempo».

Ao domingo propõe um brunch. Ainda recentemente fez pastéis de nata para o brunch. «O objetivo não é fazer um restaurante português, mas vou integrando o meu toque para mostrar a qualidade da cozinha portuguesa».

Para Ricardo Lúcio, a cozinha tradicional portuguesa e a tradicional francesa «são parecidas, porque vamos encontrar pratos de longa cozedura em França, como os mijotés ou o pot au feu. Os Franceses comem menos quantidade, com menos gordura, com menos açúcar, sobretudo atualmente tem-se muito cuidado nisso. Enquanto a cozinha portuguesa é muito rica e forte, penso que é essa a principal diferença, embora sejam similares».

Mas o Chef português sabe que «Portugal descobriu o mundo e temos tudo na nossa cozinha, temos todas as especiarias, por isso em quase todas as cozinhas do mundo há um toque português. Aquele pequeno fio de azeite no final, dá o aroma e o cheiro bem português».

Para o Reveillon de passagem de ano, Ricardo Lúcio propõe um arroz doce – com receita da mãe -, misturar trufas negras com maçã caramelizada e chocolate branco. «Temos foie gras com chocolate, lagostins, pregado com caviar e vitela com trufas».

Há 5 anos em França, regressar a Portugal não está, para já, nos seus planos. Mesmo se «tudo é possível». Acrescenta que «fui bem acolhido aqui, gosto de estar cá e Paris é uma cidade linda. Mesmo se no início não falava francês, fui aprendendo na cozinha. Falava em inglês e depois fui aprendendo com o tempo».

Hoje está à frente de uma pequena equipa e diz-se «realizado».

Para a história fica que foi neste Hotel de Paris que Tony Carreira recebeu das mãos do apresentador de televisão Michel Drucker, as insígnias da Légion d’Honneur, marcadas por uma polémica já que o Embaixador de Portugal em França na altura, recusou que a condecoração fosse entregue na Embaixada de Portugal.

Ricardo Lúcio ainda não estava no Hotel de Sers, mas já lá estava Priscilia Peixoto, na receção do hotel.