LusoJornal / Jorge Campos

Associação Portuguesa de Caluire nas tormentas: “Comissão de resgate” acusa antigo Presidente de desvio de fundos

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A Associação portuguesa cultural recreativa de Caluire (APCRC), nos arredores de Lyon, está a viver uma situação anormal. Os locais estavam fechados por razões sanitárias, mas uma “Comissão de resgate” entrou nos locais, mudou as fechaduras e acusa o Presidente de ter desaparecido com dinheiro da coletividade, tendo mesmo apresentado uma queixa na Polícia. Fernando Abreu contesta, rejeita as acusações, diz que a associação não tem receitas e por isso não há dinheiro em caixa e promete defender-se.

No sábado passado, dia 21 de novembro, nos próprios locais da APCRC, reuniu a autodenominada “Comissão de resgate”, constituída por sócios e membros da Direção presidida por Fernando Abreu. Estavam presentes José Campos Sousa, mas também João Lourenço, sócio fundador, e os sócios António Graça, José Couto, Fernando Azevedo e Natália Alves.

“O Fernando Abreu é o único responsável pela crise financeira que hoje se vive na APCRC” disseram ao LusoJornal, que foi convidado a assistir à reunião. “A eleição da Direção que ele presidia, em março de 2019, já nessa altura foi fraudulenta pois ele comprou os votos com jantares e almoços. Rapidamente os membros da Direção – Secretário, Tesoureiro e Vice-Presidente – foram postos de lado e distanciaram-se da associação visto o comportamento insuportável por não transparência nas atitudes de Fernando Abreu. Só ele é que tinha as contas, a responsabilidade de compras e vendas para a coletividade, os dinheiros com a gestão da conta bancária e todas as decisões de organização dos eventos. Cada vez que lhe pediam contas, respondia que estava tudo pago… e ‘eu é que mando’ e nunca foi feito um balanço de contas”.

Os membros da “Comissão de resgate” dizem ao LusoJornal que a associação fechou ao público e aos sócios devido ao confinamento provocado pela pandemia de Covid-19. “Mas desde maio até setembro, vários eventos com a presença de cantores vindos de Portugal e jantares foram organizados, o que certamente gerou ganhos”. Os elementos reunidos consideram que “a situação é muito opaca” e dizem que Fernando Abreu “não se manifesta, nem responde às chamadas telefónicas e às cartas registadas que lhe foram enviadas, solicitando a sua presença para apresentação de contas”.

João Lourenço, fundador e sócio n°1, mostra-se “inquieto” pela forma como a coletividade estava a ser dirigida. Diz que lhe pediu várias vezes para prestar contas, “mas ele respondia que estava tudo bem… que estava tudo pago”. Os presentes garantiram ao LusoJornal que foram enviadas cartas registadas “para que se fizesse uma Assembleia geral, às quais não respondeu. Acabou por lançar uma convocatória para uma Assembleia, que logo de seguida anulou”.

No dia 28 de setembro foi a última vez que João Lourenço diz ter falado com Fernando Abreu e “sem obter nada de concreto e positivo”, às perguntas sobre a situação financeira da associação.

José Campos Sousa também se mostra preocupado com a situação, afirma que pediu contas verbalmente a Fernando Abreu e obteve as mesmas respostas. Confirmou que foram enviadas duas cartas registadas ao Presidente Fernando Abreu e, sem resposta, formou uma “Comissão de resgate” da associação. Com João Lourenço, “tomámos a responsabilidade de verificar as contas e o fundamento de vários correios recebidos, onde figuravam faturas não pagas, que estavam há muito tempo na caixa do correio”.

Os dois dizem que as rendas já não são pagas há meses, num total de 16.000 euros, “havia também uma fatura de bebidas a um fornecedor, já com um aumento por atraso, de 9.600 euros, os seguros no valor de 1.200 euros, e as cotas dos sócios no valor de 3.000 euros”. Verificaram também, ao receberem um extrato de conta, que a conta bancária da associação “estava a zero”. “Tinha mesmo um débito de 11,00 euros”.

Deduziram então que os 13.000 euros deixados pela antiga Direção e os resultados financeiros dos eventos e bar, feitos durante estes meses passados, tinham desaparecido, e avaliam o total em 25.000 euros. “Somando as dívidas e os dinheiros existentes, obtém-se a soma total de cerca de 50.000 euros, que hoje ainda não tem uma explicação certa” contam ao LusoJornal. “Temos recebido correios da parte da ‘Régie’ para os pagamentos das rendas em atraso e temos temporizado dizendo que o Fernando Abreu irá pagar. A situação do confinamento joga um pouco a nosso favor. Com estas dívidas todas acumuladas, podemos ir até à dissolução forçada da associação, o que nós não desejamos”.

 

Artigo do LusoJornal provocou indignação

No mês de outubro, numa entrevista dada ao LusoJornal, sobre o impacto da pandemia de Covid-19 na associação, Fernando Abreu dizia que estava tudo bem, mas anunciava sérias dificuldades para enfrentar o futuro.

A publicação deste artigo levou a “Comissão de resgate” a querer “transparência total” e convidou o LusoJornal a assistir à reunião da Comissão.

“O nosso objetivo hoje é, enquanto ‘Comissão de resgate’, assumir a responsabilidade da associação e retomar o seu funcionamento parcialmente. Queremos convocar todos os sócios para novas eleições, desde que a situação sanitária o permita”.

No dia 19 de novembro, a Comissão apresentou uma queixa na Polícia de Caluire, contra Fernando Abreu por “gestão desastrosa da associação e por não prestar contas esclarecidas aos sócios”.

“Assumimos desde já as despesas de base de funcionamento da APCRC, pagando os atrasos de eletricidade, água e seguros” disseram os membros da Comissão representada por José Campos Sousa e João Lourenço.

Os dois dirigentes lançaram, via LusoJornal, um apelo ao Presidente Fernando Abreu, para que “assuma e pague as despesas anteriores ao mês de outubro de 2020 e que devolva as somas de dinheiro que ele, a um certo momento, detinha em sua possessão, e que são propriedade da APCRC, a caderneta de cheques e o cartão de crédito em nome da coletividade”. Pedem também “todas as faturas de compras e contratos com os artistas que se produziram na APCRC no período em que ele esteve à frente da associação”.

José Campos Sousa vai mesmo até dizer que a APCRC teve também um vírus muito destruidor, como é a Covid-19, “mas que aqui se chama Fernando Abreu”. Promete “paciência e determinação” e garante que “vamos vencer e chamar às responsabilidades, mesmo que ele tenha já um rasto de vozes que o acusam e designam de caloteiro, mentiroso e manipulador, e que o seguem já há largos anos, e com histórias idênticas já em Portugal”.

 

Fernando Abreu rejeita acusações

Contactado pelo LusoJornal, Fernando Abreu foi confrontado com as declarações da “Comissão de resgate” e reagiu, denunciando muitas declarações como “falsas” e outras que são “autênticas mentiras ou invenções”.

“Contesto a presença de José Couto nesta Comissão porque não é sócio, devido a cotas não pagas há mais de um ano” diz Fernando Abreu, que anuncia que enviou, em início de outubro, uma carta registada de demissão à Prefeitura, “a qual foi aceite” e explica que “não podia aguentar as despesas que se apresentavam todos os meses, estando a sede fechada durante meses devido à Covid-19” afirmou ao LusoJornal.

Em declarações ao nosso jornal, Fernando Abreu explicou que a associação esteve fechada desde o dia 17 de março, até 2 de julho, e reabriu, fechando de novo no mês de agosto, abrindo depois em setembro. “Em setembro houve algumas atividades, mas as receitas não podiam pagar todas as despesas”. Fernando Abreu afirma que obteve um acordo escrito da “Régie”, para pagar a renda pouco a pouco, e eles esperam por tempos melhores para depois regularizarem a situação”.

Fernando Abreu diz que uma parte da equipa de Direção que foi eleita, demitiu-se por razões familiares, tratando-se de dois casais “e eu encontrei-me com o resto da equipa. A Cristina Vieira como Secretária, João Lourenço e José Sousa, quiseram vir ajudar, mas não estavam inscritos na Prefeitura, o que eu aceitei”.

Ainda em declarações ao LusoJornal, Fernando Abreu garante que avisou João Lourenço e José Sousa, que se ia demitir e fechar a associação. “Eles é que querem continuar, constituindo uma nova Direção. Muito bem, mas têm de assumir as despesas e fazer tudo legalmente declarando na Prefeitura a tomada de posse e os nomes dessa nova Direção. As somas de dinheiro, que dizem não aparecem, foram gastas para pagar as despesas que iam aparecendo. Eu não tenho, nem guardei nenhum dinheiro como sou acusado”.

“Eu sou a pessoa que está como único inquilino na ‘Régie’, dos locais onde funciona a associação, e estou ainda responsável pelas rendas e outras despesas. Se fechei os locais é para não ter mais despesas adicionadas. Mas vim a saber que eles abriram de novo os locais, clandestinamente, mesmo com a proibição das regras sanitárias de Covid-19. Querem salvar a associação, pois bem, mas que o façam legalmente e respeitando as leis associativas”.

Confrontado com a queixa apresentada na Polícia, Fernando Abreu diz que “espero que a Polícia venha ter comigo, pois eu saberei defender-me e dar as minhas razões. Eles arrombaram as portas, mudaram fechaduras. Com que direito legítimo eles puderam fazer isso? Se eu sou o inquilino dos locais, e tinha tudo fechado ao público, hoje eles estão ilegais ao penetrarem nos locais” diz ao LusoJornal. “Não aceito nenhumas acusações de querer ser só eu a mandar, porque muitas ações foram feitas com a presença de João Lourenço e José Sousa, e estavam todos de acordo, como os contratos com os cantores que tivemos no mês de setembro”.

Fernando Abreu contesta também o facto de não haver diálogo na Direção. “Eles dizem não ter havido diálogo positivo, mas nós falávamos sempre. E um acordo era sempre encontrado” disse ao LusoJornal. “Como também não compreendo as atitudes deles, pois estávamos juntos, e agora acusam-me disto tudo”.

Promete defender-se, mas garante que já recebeu ameaças físicas “da parte de algumas pessoas que fazem parte dessa ‘Comissão de resgate’, pois vieram até ao meu trabalho, às 5h00 da manhã, para me ameaçarem e intimidar. Isso foi tudo filmado pelo sistema vídeo da segurança do meu estaleiro, e tenho testemunhas que viram todos estes comportamentos, que poderei utilizar se necessário. Se eles têm família, eu também tenho” ameaça.

O, até outubro, Presidente da coletividade garante que nunca teve caderneta de cheques da associação, nem cartão bancário. “Durante o meu mandato, nunca vi esses títulos de pagamento. Ignorava mesmo que até eles existiam”.

Visivelmente descontente com a situação, Fernando Abreu diz que “injuriaram-me e trataram-me de caloteiro e outras coisas mais, e até já de Portugal. Eu contesto tudo isto, são puras mentiras, eu nunca fiquei a dever dinheiro a ninguém, e peço reparação, e que a verdade seja feita e dita. E depois, vamos ver quem é que tem mais coisas que se lhe possa apontar com o dedo” diz ao LusoJornal. “Resumindo, eu não assumo, mas até contesto, qualquer acusação feita pela Comissão e considero tudo isto uma situação desastrosa e injuriosa e fruto de invejas e de mentiras sem fundamentos ou provas”.

 

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