Décima manifestação e décima semana de greve na CGD França

Cerca de 80 trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos (CGD) em França manifestaram-se hoje, à décima semana de greve, pela décima vez, em Paris, «contra a alienação» da sucursal francesa.

O Consulado Geral de Portugal voltou a ser o local escolhido para a concentração, com os grevistas a entoarem os ‘slogans’ ouvidos ao longo das últimas semanas: «Não, não, não à alienação», «A Caixa unida jamais será vendida» e «A Caixa unida jamais será vencida».

«Nós queremos continuar a pedir ao Governo para rever o plano de reestruturação que negociou com Bruxelas, onde consta a alienação da Sucursal de França. O próprio Presidente da CGD, o senhor Paulo Macedo, disse em conferência que vai lutar para guardar a operação francesa. Ora, ele ao dizer que vai lutar é porque a operação francesa está incluída no plano», disse à Lusa Lurdes Monteiro, Delegada sindical da Force Ouvrière, um dos sindicatos que apoia a greve.

 

Mediador nomeado pelo Tribunal

A também membro da Comissão de negociação eleita pelos trabalhadores em greve referiu que «ainda é cedo para falar» sobre o fim da greve e explicou que o Mediador nomeado pelo Tribunal de Grande Instância de Paris, em 12 de junho, começou por reunir-se com os Sindicatos grevistas e não grevistas e com a Direção, estando prevista para esta quarta-feira «a primeira reunião de negociações» na presença do Mediador.

«Ainda é cedo para falar, mas não estamos com muitas esperanças de que a greve acabe amanhã, porque esta Direção não está para negociar e, por isso, não pensamos que as negociações possam acabar amanhã, de maneira nenhuma», afirmou.

Questionada sobre o que poderia fazer acabar a greve, Lurdes Monteiro disse que, face à recusa em dar aos trabalhadores o plano de reestruturação, o que poderia levar ao fim do conflito «são as garantias no que diz respeito ao emprego dos colegas», algo que «não tem custos absolutamente nenhuns se o banco guardar a sucursal».

«Nós sabemos que, em Portugal, obtiveram 2,1 meses de salário por ano de antiguidade, com um ‘plafond’ de 60 meses e tudo isso sem greve. Nem foi preciso greve para obterem um acordo desses. Ora, aqui em França a Direção propõe, neste momento, 1,5 meses de salário por ano de antiguidade e um ‘plafond’ de 160.000 euros, o que só é interessante para os grandes salários», disse.

O Tribunal de Grande Instância de Paris decidiu a intervenção de um Mediador nas negociações entre Sindicatos e Direção, na sequência de uma ação judicial da CGD a pedir à justiça francesa a presença dos Sindicatos não grevistas nas negociações – algo que era contestado pelos Sindicatos grevistas – e para esta «ordenar à Comissão de negociações e Intersindical FO-CFTC para cessar o movimento social» e para «proibir à Comissão de negociações e à Intersindical FO-CFTC de iniciar qualquer movimento social constitutivo de um abuso de direito de greve».

Após a intervenção do Mediador, o Tribunal vai voltar a pronunciar-se sobre o caso em 5 de julho e, em 26 de junho, o mesmo Tribunal vai pronunciar-se sobre o pedido da Intersindical FO-CFTC para ter acesso ao plano de reestruturação acordado entre o Governo português e Bruxelas.

 

Delegação vai a Portugal

Esta semana, uma Delegação de trabalhadores vai ser recebida pela Comissão de Orçamento, Finanças e Modernização Administrativa da Assembleia da República portuguesa, na quarta-feira, e pelos Assessores da Presidência para os assuntos do Trabalho e para a Economia, no Palácio de Belém, na quinta-feira.

O objetivo é pedir «a mesma coisa que nas manifestações», ou seja, «não à alienação» e «sim à defesa do serviço público à emigração em França», pelo que a audiência solicitada à Presidência surge devido «ao afeto especial que ele [Presidente] tem pela Comunidade emigrante portuguesa».

A Intersindical FO-CFTC e a Comissão de negociação eleita pelos trabalhadores em greve convocaram nova manifestação para junto à Embaixada de Portugal em França, na sexta-feira, e os protestos vão manter-se «mesmo que a greve acabe» e até que haja «garantias que a sucursal vai ser retirada do plano de alienação». Ou seja, depois das férias em agosto, os trabalhadores da CGD-França podem voltar às ruas.

 

Contra encerramento de agências em Portugal

Hoje, os manifestantes também testemunharam a solidariedade com os autarcas e as populações que lutam, em Portugal, contra o fecho de agências da CGD.

A sucursal em França da CGD tem 48 agências e mais de 500 trabalhadores e, de acordo com Lurdes Monteiro, estão «à volta de 200 pessoas em greve».

A redução da operação da CGD fora de Portugal (nomeadamente Espanha, França, África do Sul e Brasil) foi acordada em 2017 com a Comissão Europeia como contrapartida da recapitalização do banco público.

Em 10 de maio, Paulo Macedo afirmou querer manter a operação da CGD em França e adiantou que está a negociar isso com as autoridades, apesar de ter sido também acordada a sua venda, mas acrescentou que isso só acontecerá se a «operação for sustentável, rentável e solidária» com os esforços feitos pelo banco.

A redução da operação da CGD acordada com a Comissão Europeia passa também pelo fecho de 180 balcões em Portugal até 2020, cerca de 70 agências encerram ainda este ano, entre as quais a maioria já este mês, de acordo com comunicado do banco público.

Em 2017, fecharam 67 balcões, pelo que, com o encerramento destas 70 agências, a CGD terá ainda de fechar mais 43 balcões nos próximos dois anos.