Alberto Plácido

Livro sobre a Embaixada de Portugal foi ontem apresentado em Paris

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O Ministro português dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, assistiu ontem, ao fim da tarde, na Embaixada de Portugal em Paris, ao lançamento do livro “Hôtel Levy”, um livro precisamente sobre o edifício onde está instalada a atual Embaixada portuguesa. João Gomes Cravinho felicitou o Embaixador Jorge Torres Pereira pela “iniciativa arrojada e por ter conseguido levá-la a termo”.

 

Em 2018, o Embaixador português decidiu, pela primeira vez, abrir as portas da Embaixada no quadro das Jornadas do Património. “Durante estas jornadas, senti a necessidade de termos mais informações sobre este edifício. Era necessário um suporte mais detalhado” disse na sua intervenção.

Foi nessa altura de reflexão que Jorge Torres Pereira recebeu um mail de um estudante em artes decorativas, pedindo-lhe para visitar o edifício. Respondeu-lhe e falou-lhe do projeto de escrever um livro. “Mando muitas vezes emails a instituições ou embaixadas e na maior parte das vezes ficam sem resposta, ninguém me responde. Agradeço ao Embaixador por me ter respondido, por me ter dado a possibilidade de estudar este edifício e por me ter dado a possibilidade de integrar esta equipa” disse por seu termo François Gilles referindo-se ao grupo de especialistas que o Embaixador convidou.

 

Uma verdadeira equipa científica

François Gilles ficou com a tarefa de estudar a decoração interior, e o Embaixador português convidou Alexandre Gady para situar o edifício na cidade de Paris daquela época. “Naquela altura este espaço estava fora de Paris, eram campos” explicou Alexandre Gady. “Hoje estamos no 16° bairro da capital”.

Os arquitetos Simon Ducros e Christophe Parant estudaram a arquitetura do edifício e sobretudo a escada interior que, contrariamente a outros palacetes, aqui está escondida. “Tivemos uma grande surpresa, quando soubemos que os arquivos franceses estão contaminados com amianto e não foi possível consultar os planos e os atos de compra e venda” disse o Embaixador Torres Pereira. Mas Simon Ducros e Christophe Parant conseguiram obter a planta do edifício nos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Portugal.

“Este foi verdadeiramente um trabalho de equipa. Muitas vezes as pessoas trabalham por mails, cada um do seu lado, mas aqui houve mesmo um trabalho científico de equipa, sempre à volta de um pequeno-almoço” confirma Pierre Assouline, jornalista, cronista de rádio e biógrafo.

Pierre Assouline estudou o primeiro proprietário do edifício. “Confesso que não conhecia o senhor Levy. Era um economista, um intelectual, publicou muitos artigos e lecionou em Science-Po. Foi uma bela descoberta”.

Da equipa fez ainda parte Pyra Wise, que fez a relação entre Marcel Proust e Raphael Georges Lévy. A irmã do proprietário do palacete casou com um primo do escritor Marcel Proust e Raphael Georges Lévy acabou por ser conselheiro financeiro do escritor e ajudou-o a gerir a fortuna que herdou dos pais. Sabe-se agora que Proust visitou o Hôtel Lévy.

 

Salazar aceitou a compra

Manuel Villaverde explicou que o edifício foi comprado em 1936, mais exatamente no dia 1 de janeiro, aos herdeiros de Raphael Georges Lévy. O Embaixador na altura era Armando da Gama Ochoa e até ali, a Embaixada estava situada na rua Kléber.

“Armando da Gama Ochoa visitou uns 20 palacetes até propor a compra do Hotel Lévy e conseguiu o acordo de Salazar. Depois, durante a II Guerra mundial, os Alemães invadiram Paris, a Embaixada foi para Vichy e o edifício de Paris ficou abandonado.

“Em 1945, o novo Embaixador Augusto de Castro chega aqui e descreve uma situação catastrófica, anuncia que há muitas infiltrações, entra muita água no edifício, as portas e as janelas não conseguem fechar, o telhado está estragado, até propôs a venda do edifício e a compra de um edifício mais pequeno, mas mesmo assim pediu a vinda de um perito do Ministério dos negócios estrangeiros” explicou Manuel Villaverde. O Ministério enviou o arquiteto Raul Lino, um dos arquitetos mais brilhantes do século XX. “Raul Lino considerou que não se devia vender, nunca, este edifício que tinha um valor muito grande e concluiu que não podia ser mobilado com móveis portugueses, porque tinha sido concebido na pura tradição francesa”.

O ambiente que temos hoje na Embaixada portuguesa deve-se pois a Raul Lino.

“É um edifício absolutamente magnífico, adquirido numa altura em que o Estado português o podia fazer e os preços estavam muito baratos, porque a França estava numa profunda crise” disse João Gomes Cravinho aos jornalistas.

 

Cravinho diz que livro é obra de arte

“Este não é simplesmente um livro para colocar em cima de uma mesa, um daqueles livros que de vez em quando se abrem para olhar durante 2 minutos e fechar novamente” diz o Ministro. “Este é um livro de grande qualidade científica sobre os mais diversos aspetos, sobre aquilo que era Paris no fim do século 19, sobre aquilo que era a realidade vivida pelo proprietário que construiu esta casa e fazia parte da elite judia financeira do final do século 19 em França, mas também sobre aquilo que eram as considerações de natureza arquitetónica, como se enquadra na arquitetura da época e na sua relação com a cidade de Paris que estava a expandir”.

João Gomes Cravinho escreveu o prefácio do livro, e Jorge Torres Pereira agradece também ao anterior Ministro Augusto Santos Silva, agora Presidente da Assembleia da República. “É um livro de elevada qualidade académica, feito por especialistas nestas matérias. Isto prestigia muito naturalmente a Embaixada de Portugal em França, mas prestigia também a diplomacia portuguesa, porque a nós sabemos compreender e respeitar aquilo que é o nosso património no estrangeiro” diz o diplomata.

«É um verdadeiro livro, um livro para ler” completa Pierre Assouline.

O Embaixador de Portugal lembrou que foi nesta Embaixada que, em 1979, na sala redonda, foi assinado o acordo de abertura da Embaixada de Portugal em Pequim e da Embaixada da China em Portugal. Lembrou também que o único Presidente da República francesa que visitou a Embaixada em funções, foi Giscard d’Estaing, recebido pelo Presidente Ramalho Eanes.

O livro vai ser impresso pela Imprensa Nacional Casa da Moeda, e Jorge Torres Pereira agradeceu os mecenas que permitiram a sua realização, citando, em particular “a generosa participação” da Fidelidade e “o contributo” da Caixa Geral de Depósitos, para além de outros donativos.

 

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