Opinião: O Museu do Louvre abriu esta semana… com três obras ‘portuguesas’

As férias aproximam-se depois de um ano com alguns meses roubados ao calendário, mas que nos pareceu afinal ter mais dias e mais horas do que o costume… A necessidade que teremos de descansar parece urgente, mas é ainda tempo de olharmos para o que de cultura portuguesa se pode encontrar no contexto deste lentíssimo regresso ao normal.

Hoje [ndr: ontem] reabre o Museu do Louvre assim se juntando ao Centre George Pompidou, reaberto na semana passada, e à maioria dos mais pequenos museus da cidade e das regiões francesas. Será uma reabertura discreta e vigiada. As visitas necessitam marcação prévia por internet – nada a que as grandes exposições não nos tenham habituado há muito -, os circuitos internos serão pré-determinados e o uso da máscara será obrigatório a todo o momento. Mas, com a falta dos turistas americanos e chineses e com o fluxo global do turismo interno europeu ainda em clara baixa, as filas de espera e, principalmente, as multidões frente às obras-primas mais icónicas do maior museu do mundo serão certamente menores e permitirão uma contemplação mais tranquila dos tesouros que novamente nos são devolvidos.

Hão de perguntar os ouvintes o que tem isto a ver com Portugal. É porque, na nossa discreta maneira de estarmos no mundo e na nossa ostensiva maneira de não nos recordarmos dos lados positivos dessa mesma presença, podemo-nos estar a esquecer que, na zona da pintura ibérica, há uma pequena sala com pinturas portuguesas e que, logo a seguir, na sala principal podemos encontrar uma outra. E, se os projetos de doação que existem puderem ser levados a bom porto, poderemos, entre 2021 e 2022, vir a ter mesmo uma sala de pintura portuguesa no Museu Louvre.

Atualmente, as pinturas são, uma de Domingos Sequeira, pintor da transição do séc. XVIII para o XIX e evidentemente influenciado pela pintura francesa, outra de Baltazar Gomes Figueira e outra, recentemente doada, de Josefa de Óbidos, pai e filha, ativos no século XVII e, por formação do pai em Sevilha, nomeadamente junto de Zurbarán (que aliás tem pinturas na mesma sala) e da filha, se ligam ao Barroco ibérico.

Não estamos face a nenhuma obra-prima: nem da pintura europeia, nem da pintura nacional nem sequer dentro a obra individual de cada um. Mas o conjunto da nossa representação revela uma qualidade importante que nestes tempos deve ser sublinhada. Nos milhares de obras expostas no Museu há apenas três pinturas portuguesas? Certo! Mas logo uma delas é de autoria feminina! E vem longinquamente datada do século XVII! E foi realizada por alguém que tinha autorização para manter atelier autónomo, coisa inédita em termos europeus.

Não é coisa pouca esta sucessão de constatações positivas num momento em que a mais recente historiografia da arte vem valorizando e estudando com o maior interesse a produção feminina num mundo dominado pela presença de autores e pontos de vista masculinos. Por curiosidade e para acentuar este lado, sobre o qual ainda pensamos pouco, deem uma saltada ao Centre George Pompidou onde uma outra pintora faz figura, já não de curiosidade ibérica seiscentista, mas de artista contemporânea, francesa e portuguesa e universal: falamos de Maria Helena Vieira da Silva.

Boas escolhas culturais e até para a semana.

 

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