Eduardo Henriques diz que “as relações comerciais entre a França e Portugal estão bem e recomendam-se”

[pro_ad_display_adzone id=”41079″]

 

“As relações comerciais entre a França e Portugal estão bem e recomendam-se” afirma Eduardo Henriques, Diretor da AICEP em França e Conselheiro económico junto da Embaixada de Portugal em Paris.

Nesta entrevista ao LusoJornal, Eduardo Henriques faz o ponto da situação detalhada destas relações económicas entre os dois países.

 

A França ocupa um lugar importante nas relações comerciais com Portugal, logo a seguir à Espanha – a Espanha sempre foi o nosso maior parceiro -. Como estamos atualmente nestas relações entre a França e Portugal?

Eu acho que estamos num os grandes momentos das relações bilaterais, sinceramente. Portugal e a França têm relações do ponto de vista comercial, do ponto de vista de investimento, do ponto de vista até dos fluxos turísticos, como nunca tiveram nos últimos anos. Portanto, as relações estão bem e recomendam-se. Além do mais, estão a crescer substancialmente. No ano passado nós já ultrapassámos os valores que tínhamos antes da pandemia, quer em termos de exportação, quer em termos de investimento. No turismo é verdade que ainda não estamos nos valores anteriores, mas do ponto de vista daquilo que é o comércio e o investimento, claramente estamos já a níveis superiores a 2018.

 

A França é o nosso segundo comprador…

É o nosso segundo cliente e a crescer muito. No ano passado nós crescemos 14% em termos de vendas de produtos portugueses em França.

 

E o que é que Portugal exporta para França?

O que é curioso com a França, é que nós vendemos de tudo. A verdade é essa, nós vendemos de tudo, vendemos desde peças para automóvel, até automóveis, mas passando por máquinas de todo o tipo, para todas as finalidades, até agroalimentar, têxtil, calçado, etc. Uma das coisas curiosas no nosso perfil de exportação para França é que, se olharmos para as 10 primeiras categorias de produtos, vai ver que temos um pouco de tudo, temos veículos, temos maquinaria e aparelhos, temos plásticos, temos vestuário, produtos alimentares, produtos agrícolas – e estou a falar apenas de produtos que superam os 300 milhões de euros de exportação. Isto dá-lhe uma noção do que é a diversidade da exportação para França e de facto nesse sentido, França em conjunto com a Espanha, talvez um pouco menos a Alemanha, é um mercado muito diversificado. De facto, nós temos perfis de empresas a trabalhar em França de todo o género, das grandes às mais pequenas empresas portuguesas, temos empresas que trabalham com o mercado francês.

 

Nesta última década, a França ultrapassou a Alemanha, que era, tradicionalmente, o segundo destino das exportações portuguesas. A que se deve esta progressão da França à frente da Alemanha?

Bom, na minha opinião, há aqui vários fatores que condicionam muito esta evolução. Primeiro, eu acho, francamente, que nos últimos anos – e pode parecer um absurdo dizer isto – há aqui uma descoberta. E é uma descoberta mútua. Portugal e França conheceram-se muito melhor ao longo dos últimos anos. Quer dizer que temos Portugueses de primeira, segunda, terceira geração, que estão a viver em França, que também promovem as exportações portuguesas de uma forma ou de outra. Cada um joga o seu papel. E temos Franceses que se instalam em Portugal – que antes não acontecia e que hoje acontece. Às vezes ouvimos dizer que são reformados e são pessoas que vão à procura de uma vida fiscalmente retrativa em Portugal, mas temos imensos empresários, temos muitas empresas, muitas delas são criadas em Portugal de raiz, tudo isto ajuda a esta dinâmica de relacionamento. Repare – e isto também é importante – que o movimento das empresas portuguesas começou naturalmente por Espanha, porque era o mercado mais próximo e era o mais fácil. Este movimento, não é que esteja esgotado – eu também fui Diretor da AICEP em Espanha e sei que não está esgotado – mas o grau de integração entre as duas economias de Portugal e de Espanha já é muito grande. E, portanto, é natural também que as empresas procurem diversificar um pouco os mercados e a França é naturalmente o nosso segundo vizinho, imediatamente a seguir a Espanha. Depois há uma grande complementaridade entre as duas economias e isso também ajuda muito a que haja este relacionamento intenso. E há um fator que também não é muito falado, que é o fator do investimento francês em Portugal. O facto de haver muitas empresas que se começaram a instalar em Portugal nos mais variados setores, ajuda também a criar uma perceção de Portugal como um país que tem capacidade para produzir bem, com produtos de qualidade, como um destino interessante de investimento, aliás muitas dessas empresas francesas exportam a partir de Portugal para França. Face a tudo isto, acaba por criar aqui um movimento que ao longo dos últimos anos se vem intensificando e de facto, a França ultrapassou já há alguns anos a Alemanha, como segundo parceiro de Portugal.

 

Os Embaixadores de Portugal em França costumam dizer que há uma forte Comunidade portuguesa em França e que isso os ajuda na diplomacia bilateral entre os dois países. Esta influência da forte Comunidade portuguesa nota-se também nesta relação económica entre os dois países?

Sim e eu acho que há aqui vários níveis. Sabemos que para alguns setores de atividade, e estou a lembrar-me do agroalimentar e vinhos, essa área que tem a ver com bens de consumo, é notória a importância dos Portugueses em França para aumentar as exportações portuguesas. Porque para todos os efeitos, são eles os destinatários finais desses produtos em França pelo menos a maior parte.

 

É o chamado mercado da saudade, mas não será o mais importante…

Não, não é o mais importante, mas no caso, por exemplo dos produtos alimentares e no mercado dos vinhos, ainda conta bastante. Mas há um outro movimento – no nosso dia a dia vemos muito – que é o facto de haver Portugueses ou lusodescendentes que são eles próprios embaixadores de Portugal nas empresas onde estão. Muitas vezes é um grãozinho de areia, é só uma pedrinha, mas é importante, porque muitas vezes são esses Portugueses que ajudam a estabelecer a relação, são esses Portugueses ou lusodescendentes que apoiam na internacionalização das empresas francesas, são eles muitas vezes que são os compradores dos produtos com origem portuguesa, portanto há aqui todo um fenómeno, que muitas vezes até nem é muito valorizado, mas quando nós falamos das Comunidades portuguesas em França – e como sabe temos perfis muito diferentes, muitos tipos – há aqui muitas influências nestes processos. E, mais uma vez, no nosso dia a dia, é muito importante a presença dessa Comunidade e dessas pessoas que têm uma ligação a Portugal muitas vezes até já é uma ligação remota, mas ajuda sempre a que essa ligação depois se transformam e se materialize em termos de compras de produtos portugueses, em termos de serviços ou de investimentos.

 

E em sentido contrário, o que é que a França vende a Portugal?

A França vende também um bocadinho de tudo a Portugal. É curioso porque se olharmos para as grandes categorias de produtos, estamos a falar praticamente dos mesmos. Os primeiros produtos a serem vendidos pela França são veículos automóveis e outro material de transporte, à semelhança daquilo que acontece com Portugal, máquinas e aparelhos, ou seja também os bens de equipamento são muito importantes, tudo o que é equipamento industrial, produtos químicos, produtos agrícolas, produtos alimentares e também – aí sim há algumas ligeiras diferenças – a França tem uma categoria que Portugal não vende muito que são por instrumentos de ótica e precisão, por exemplo, que é uma exportação importante, são quase 200 milhões de euros de vendas de França para Portugal e não em sentido inverso. Mas, de facto, há muita coincidência em termos de grandes agregados de produtos, entre Portugal e França em termos de importação e de exportação.

 

Alguns grandes grupos franceses instalaram as suas sucursais em Portugal. O que justifica estas instalações? Tanto mais que estas deslocalizações não são novas, mas porquê Portugal agora?

Bom, já vem de algum tempo esta tendência. O primeiro movimento foi sobretudo de grandes empresas francesas. Se reparar bem, as empresas do CAC40, as grandes empresas francesas, praticamente todas têm algum tipo de presença em Portugal, de uma maneira ou de outra, e é uma presença que se vem consolidando ao longo dos últimos anos. Já vem de algum tempo, muitas delas estão há dezenas de anos em Portugal. O que nós temos de diferente agora é que nós temos muitas pequenas e médias empresas a procurar Portugal e aí os motivos são muitos, depende muito dos setores, mas são muitos. Em primeiro lugar há aqui um movimento que nos últimos anos começou a ser mais percecionado e muito mais efetivo, que é o movimento de empresas francesas para voltarem a ter cadeias de abastecimento de proximidade ou seja, em vez de fabricarem em países longínquos, voltarem a ter cadeias de fornecimento mais próximas, e aí, Portugal é um destino natural…

 

Porque tem salários mais baixos…

Porque tem custos mais baixos, não é só o salário, o salário é um dos custos, mas há outros que são também interessantes, por exemplo os custos logísticos porque Portugal está muito perto da França. Depois há outras coisas, por exemplo há uma grande indústria portuguesa que se manteve ao longo dos anos, coisa que em França houve uma certa desindustrialização e, portanto, Portugal manteve algumas competências industriais que são ainda aproveitadas e são muito importantes agora para o relançamento dessa industrialização ou reindustrialização de proximidade. Isso é importante para as empresas francesas porque têm parceiros de qualidade, fidedignos, muitos deles inovadores, muitos deles com capacidade produtiva de pequenas séries, que é uma coisa que os Franceses e as empresas francesas hoje em dia valorizam muito, até porque também as condicionantes do mercado assim obrigam. Portanto há aqui um movimento que se consolida nesta ótica. São vários fatores que nos ajudam e eu acho que a questão da pandemia veio ainda consolidar mais esta tendência já era uma tendência percecionada nos últimos anos, mas que se consolidou muito mais. Fazemos várias campanhas comerciais ao longo do ano junto de empresas que não as grandes do CAC40 – porque essas já estão lá – mas temos hoje inúmeros projetos de empresas de tamanho intermédio, numa faixa de 250 a 5.000 trabalhadores, são empresas que são grandes, mas que não são imensas e que já têm locais no mundo inteiro. Portugal é olhado como também um local possível para operações. Já agora, outro fator que também é muito valorizado, é a qualidade da mão-de-obra – e não estou a falar em mão-de-obra braçal como nós associámos há uns anos atrás – hoje falamos de muitas empresas francesas que estão instaladas em Portugal porque existem técnicos, porque existem engenheiros porque existem profissionais com preparação e com formação de altíssimo nível – isso é um ponto que eu acho que nós temos a nosso favor e que não tínhamos provavelmente há anos atrás – que são muito atrativos, inclusivamente que têm uma qualidade que é reconhecida pelos próprios Franceses como melhor do que a qualidade média em França. É isto que leva a este movimento de empresas para Portugal.

 

Precisamente, qual o efeito da pandemia neste processo de aproximação das empresas francesas com Portugal?

A pandemia teve muitos aspetos negativos, até porque o ano de 2020 foi um ano muito difícil. Foi um ano de quebra muito significativa das nossas vendas para França e uma estagnação completa em termos de investimentos franceses em Portugal. Houve de facto uma retração importante e isso não é um efeito positivo. Mas é verdade que no ano 2021 as coisas correram significativamente melhor e retomou-se aquilo que eram tendências que vinham de trás e que eu acho que se aprofundaram pelos motivos que já falámos. Se quiser pôr as coisas nestes termos, a pandemia acabou por consolidar tendências que já vinham de trás e aprofundar algumas delas.

 

E as empresas portuguesas que vêm instalar-se em França, são muito menos, não é?

Os números vão evoluindo porque as empresas não são obrigadas a dizer-nos que estão em França, portanto nós não podemos ter esse registo obrigatório, no entanto, sabemos que existem cerca de 200 empresas com algum tipo de presença física em França. Pode ser uma presença meramente comercial, pode ser uma presença até muitas vezes quase de domiciliação em França, até pode ser com atividade industrial, que também temos algumas delas. É verdade que não é uma tendência tão consolidada como a francesa, mas também é verdade que ao longo dos últimos anos temos assistido a uma mudança no perfil daquilo que eram os investimentos portugueses em França. Hoje temos empresas portuguesas – e isto é relativamente novo – que são empresas portuguesas da área industrial, que compram empresas francesas da área industrial e que utilizam essas empresas como base para atacarem o mercado francês, mas também outros mercados europeus.

 

Até aqui era essencialmente na área comercial…

Certo, mas agora não é propriamente algo de completamente estranho. Depois começamos a ter alguns exemplos de algumas marcas – ainda não são muitas, é verdade, e temos muito caminho pela frente – que se lançam na área da distribuição, no sentido de serem empresas de bens de consumo que se instalam e que apostam no mercado francês como um mercado de eleição. Temos alguns exemplos como a Salsa, a Parfois, a Renova, a Delta… enfim, existem alguns casos de empresas que operam já para o vasto conjunto de consumidores e que tem uma presença física em França e que, não só a partir Portugal, mas também a partir de França, têm operações muito importantes. Há uns anos, isto não era habitual, mas hoje começamos a ter casos e situações como estas.

 

A AICEP tem acompanhado muitas empresas portuguesas a participarem em feiras e salões internacionais em França, temos notado isso nos artigos que o LusoJornal publica. Mas também temos notado uma presença forte dessas empresas nestes certames internacionais. Concorda?

Há que reconhecer que, ao longo dos últimos anos, as associações empresariais em Portugal têm tido – em conjunto com a AICEP porque nós trabalhamos em conjunto – um papel importante nesta afirmação de Portugal sobretudo nestes grandes certames internacionais. Se reparou, e apenas para dar um exemplo, Portugal foi o país com o maior número de empresas na Global Industrie, uma feira de nível internacional, com centenas de empresas do mundo inteiro. A nossa presença é realmente importante e eu podia multiplicar isto por mais uns quantos certames que ao longo do ano vão decorrendo em França e para os quais trazemos um conjunto muito importante de empresas. São plataformas para atingir outros mercados mundiais. É interessante ver esse movimento. Há, de facto, muito interesse em participar em certames em França, em grandes feiras, é óbvio que não são tantas feiras como na Alemanha, porque também o número de feiras em França com dimensão internacional é bastante menor, mas nas feiras de relevo, Portugal tem sempre uma participação e muitas vezes uma participação muito importante.

 

Em setores variados?

Os grandes certames são, por exemplo a Première Vision, nas suas várias edições, que é mais dedicado à área têxtil e dos tecidos, mas também a Maison & Objet, na área da decoração, dos produtos para casa, onde também temos sempre uma grande presença, a Global Industrie, muito dedicada à área industrial, o SIAL, na área do alimentar e a Vinexpo, onde tivemos, na última edição, uma grande presença igualmente. Neste caso, por exemplo, as empresas vêm, não tanto pelo mercado francês – até porque a França é um país de vinhos – mas também porque é uma grande plataforma para chegarem a outros mercados. Eu acho que há aqui uma aposta importante na área da promoção, sobretudo nas feiras. As feiras são um grande local de negócio, apesar da evolução tecnológica, de tudo aquilo que foi acontecendo ao longo destes últimos anos, mas continuam a ser muito importantes e sobretudo há uma grande consolidação de grandes certames. Talvez os mais pequenos tenham mais dificuldade em se afirmar, mas os grandes certames é verdade que têm se mantido e continuam a ser muito interessantes.

 

Como vê e como tem acompanhado os empresários Portugueses de França?

Como comentávamos há pouco, os empresários Portugueses ou de origem portuguesa aqui são embaixadores muito importantes da nossa economia porque em muitos setores de atividade são eles que são o primeiro contacto de muitas empresas portuguesas, são eles a porta de entrada no mercado francês. Estou a falar por exemplo na área da construção. Boa parte das empresas portuguesas que têm operações em França realizam-nas porque há Portugueses ou lusodescendentes que trabalham nestas áreas. Mas também posso falar de outras áreas mais ligadas, por exemplo, à área industrial em que muitas vezes são esses Portugueses que são a porta de entrada para muitas empresas portuguesas. Portanto, nesse sentido, acho que são fundamentais. Não é o nosso foco porque realmente os meios não são suficientes para acompanhar tudo, mas de facto eu posso lhe dizer permanentemente nós temos essa interação com empresários portugueses ou de origem portuguesa, quer na ótica do investimento – nós temos muitos empresários portugueses que contactamos e que nos contactam também, interessados em investir em Portugal e investir em Portugal, não só no imobiliário, que é o mais tradicional – e aí nós realmente não acompanhamos diretamente – mas em áreas industriais, em áreas de comércio, áreas de serviços, em áreas de tecnologias de informação, por exemplo, ou seja nós temos aqui já uma diversidade muito grande de setores que antes não tínhamos.

 

Recentemente temos visto grandes operações em Paris como aconteceu no BHV e agora na Grande Epicerie de Paris, às quais a AICEP tem estado associada. Estas operações são importantes para a promoção do país?

Muito importantes, porque o nosso objetivo aqui é um objetivo de notoriedade, para que a perceção daquilo que é Portugal e dos produtos portugueses por parte do consumidor francês, evolua. Evolua no sentido de mostrarmos, em França, produtos de alta qualidade, produtos que têm inovação, produtos que têm uma qualidade acima da média e que muitas vezes os Franceses e até os próprios Portugueses que vivem cá, também desconhecem. Nós definimos este ano três grandes projetos nestas áreas, sempre nesta ótica de melhorar a notoriedade de Portugal e sobretudo reposicionar Portugal como um país de inovação e de qualidade: é o projeto da Grande Epicerie em que durante dois meses tivemos uma operação dedicada a Portugal, foram selecionadas praticamente 50 empresas portuguesas para estarem com produtos dos mais variados tipos. Outro evento em que nós estivemos presentes pela segunda vez foi a VivaTech, a maior feira tecnológica que se realiza em França, o web summit francês, é algo que nós insistimos muito que Portugal pudesse participar com startups portuguesas porque é uma outra vertente que nós queremos desenvolver em França que é a de poder ajudar as startups portuguesas a internacionalizarem se para este país e também a encontrarem em França potenciais clientes nas grandes empresas francesas, mas não só, encontrarem também parceiros e encontrarem financiamento para desenvolverem as suas atividades. O terceiro evento é para setembro. Pela primeira vez vamos participar na Paris Design Week, a semana de design de Paris. Vamos ter um espaço de Portugal, um espaço grande, onde vamos ter muitas empresas portuguesas, espero eu bem representativas daquilo que é o melhor que nós fazemos em termos de design. São três grandes áreas que visam sempre elevar o nosso posicionamento em França. Este ano temos uma vantagem adicional que é o facto de estar a decorrer a Temporada cruzada França Portugal.

 

Ver a entrevista AQUI.

 

[pro_ad_display_adzone id=”46664″]