I Guerra Mundial: Álvaro Rodrigues recuperou a coleção de Afonso Maia

O colecionador Álvaro Rodrigues, que tem um museu pessoal em Vierzon (18) com peças sobre a I Guerra Mundial recuperou esta semana a coleção de um outro colecionador especialista da participação portuguesa na I Guerra Mundial, no norte da França, Afonso Maia.

Afonso da Silva Maia morreu em agosto de 2017, depois de ter dedicado uma parte da sua vida a colecionar documentos sobre a I Guerra mundial.

Era da freguesia de Vilela, concelho de Paredes e teria tido uma vida “normal” se não tivesse descoberto que o avô tinha participado na I Guerra Mundial e tinha estado, com o Corpo Expedicionário Português, na localidade mesmo onde ele decidiu morar.

A vida de Afonso Maia mudou radicalmente nesse dia. Começou por colecionar objetos da I Guerra Mundial e sobretudo ler tudo o que existia sobre o Corpo Expedicionário Português. Dedicou a segunda metade da sua vida a este assunto e deixou uma coleção impressionante de livros, mapas, fotografias e demais objetos.

Álvaro Rodrigues nem queria acreditar quando recebeu um telefonema da filha de Afonso Maia, propondo-lhe recuperar a coleção. Numa viagem que fez ao norte da França, esta semana, regressou com 2 metros cúbicos de arquivos, dezenas de cartas de militares dos campos de batalha da região de La Lys, algumas em inglês e muitas em português.

“Os arquivos foram-me oferecidos pela esposa da Afonso Maia, e eu comprei 22 painéis de uma exposição sobre a entrada dos Portugueses na Guerra, desde o treino em Portugal das tropas, passando pelo embarque em Lisboa, o desembarque em Brest e a chegada aos campos de batalha do Pas-de-Calais” explicou com entusiasmo ao LusoJornal. “É uma magnífica exposição que eu vou tentar fazer passar pelas associações aqui em França, sobretudo na minha região”.

Álvaro Rodrigues é um colecionador apaixonado. Conhece todos os milhares de objetos que tem em casa, reconstitui a história de muitos desses objetos e dos soldados a quem pertenciam.

Já lá vai o tempo em que chegou pequeno a França. Quando o avô morreu, não lhe foi possível ir ao funeral «porque não tinha feito o serviço militar». Pediu ao pai que lhe trouxesse o revolver que o avô tinha na gaveta da mesinha de cabeceira. Mas a arma tinha desaparecido! Encontrou uma arma idêntica em França, em 1965, há mais de 50 anos. Comprou-a e mandou gravar o nome do avô. Álvaro, como ele. Regressou a casa sossegado pela homenagem singela que fez ao avô.

Mal sabia que aquela era a primeira peça de uma coleção enorme, que hoje ultrapassa os 5.000 objetos. Em cerca de 50 anos, estima ter investido mais de 500 mil euros.

Mas o avô Álvaro não foi o único soldado da família no CEP. «Somos da freguesia de Lavos, na Figueira da Foz, e há mais duas outras pessoas da nossa família sepultadas no Cemitério Militar Português de Richebourg». Aliás, o primeiro soldado português a morrer em França, o Soldado Curado, também era da família de Álvaro Rodrigues. «O Soldado Curado perdeu o pai muito novo e foi a minha avó paterna quem o criou».

Álvaro Rodrigues não tem apenas objetos portugueses. Dedica a coleção a todos os países que se bateram nesta guerra. «Era gente nova, bateram-se todos pela mesma causa, mesmo se uns de um lado e os outros do outro lado. Eu não faço política, só me interessa o soldado. O sofrimento de todos foi igual. Espero que não haja mais guerra na Europa, porque este foi o maior desastre da humanidade».

Tudo o que diga respeito à Guerra de 1914-18 interessa a Álvaro Rodrigues e mostra com tanto orgulho os aquecedores a lenha das tropas alemãs, como a gaiola dos pombos correios das tropas francesas, ou mesmo a coleção de cartas postais que comprou e onde descobriu a correspondência entre duas mulheres apaixonadas durante a guerra…

As próximas semanas vai passá-las a descobrir os novos arquivos que vão completar a sua coleção.

 

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