Opinião: A aldeia de Gralhas, no concelho de Montalegre

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Passei por perto do Deus Larouco atraído pela sua beleza natural. Um manto branco cobria o segundo ponto geodésico (hoje terceiro após o Pico da Nevosa com 1546 m) mais alto de Portugal metropolitano. Há anos que, o mítico deus de celtas e romanos, não continha a dádiva dos céus. Pasmei ao ver um arco-íris abraçando a aldeia de Gralhas, qual protetora divindade a acariciar o aglomerado barrosão. Gralhas é um povoado com cerca de 250 habitantes (em constante diminuição) quase todos fora da população ativa seguindo o curso da imparável desertificação do interior.

Segundo os velhos latinistas e toponimístas (L. Vasconcelos, Tovar, J. Piel, Moralejo Lasso ou Ribas Quintas), Gralhas teria nascido do zoónimo que designa os corvídios negros tipo pega ou corvo. No entanto, há a hipótese de ser ainda mais remoto e ter vindo do grego Gralli que significa “gregos”. Tudo isto é, na verdade, hipotético e complexo. A ciência histórica quer provas. Caso não haja vestígios, recorre-se às regras de probabilidade através da onomástica e da toponimia dos lugares.

Sabemos que Argote pelas informações de Távora e Abreu (séc. 18) faz referência à Ceada (Cidade) como sendo Caladunum da “mansio” da via romana dita “via prima” (que ligava Bracara-Augusta a Asturica-Augusta) ou mais tarde, via XVII do Iternerário de Antonino (Caracala).

Porém, nenhum historiador define com precisão pliniana as origens da aldeia. Sabe-se ainda, que “agralheira” lugar inóspito e frio, exposto a ventos e intempéries, árido e infértil, poderia ter dado o nome que hoje possui à dita terra.

Para nós qualquer das hipóteses é plausível já que:

1 – Os corvídios frequentam as encostas das serras altas.

2 – Os gregos foram dos primeiros a povoar a Península mesmo antes dos Celtas (destas, por aqui passariam várias tribos em movimento – Grow – Gróvio que poderiam ter deixado o topónimo na cidade de Grou, Bíbalos e Equésios, ambos vizinhos dos Tamaganos, todos callaicos Brácaros)… mas depois dos Oestremínios, Saefes, seguidos de Lígures (citados por D’Arbois de Jubainville) que por ali andarilharam muito antes de Cristo, povos estes referenciados por Avieno (provavelmente celtas ibéricos das remotas invasões) na sua “Ora marítima”.

3 – Quanto à terceira hipótese, “Agralheira” define um lugar árido onde as rochas erodidas são trasfiguradas pelo clima agreste através da crioclastia e da termoclastia.

4 – Poderíamos ainda, partir do latim “Graculas” tendo evoluído com o tempo para Gra“lh”as por palatalização desde Gr”au”las ou Gra”cu”las ou ainda de Gralias (medieval séc. 13) – hipótese esta, que não deixa de ter a sua pertinência. De notar que o Padre Serafim Oliveira, fundador do Seminário local concedido pelo Bispo de Braga, escreveu numa lápide (hoje desaparecida) dizendo “Por aqui passou Roma. SO”. O Arcipreste fazia referência a Argote e à supra-mencionada via romana. Quanto ao SO, trata-se das iniciais do seu nome. Há que não esquecer que Gralhas foi reconhecida por foral de D. Dinis e à qual foi atribuida uma das “seis honras” do Barroso.

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